O silêncio é um bem cada vez mais raro e, por isso, muito precioso. Sua escassez se tornou um problema que afeta todos os setores da sociedade, inclusive o turismo. Não por acaso, a busca por experiências silenciosas e atreladas ao descanso absoluto em viagens só aumenta, endossando um recente estudo da revista Annals of Tourism Research que concluiu que “a qualidade do sono molda enormemente a experiência do viajante”.
A tendência do turismo do sono está levando hotéis de luxo de diferentes países a ressignificar por completo seus programas de bem-estar. A julgar pela atual oferta global de turismo de primeira linha associado ao sono, está valendo cada vez mais investir tempo e dinheiro em simplesmente… dormir.
Redes internacionais consolidadas, como Belmond, Hyatt e Six Senses, andam apostando em diversos planos “soníferos” mundo afora.
Na prática, essa modalidade de serviços propicia aos hóspedes um farto sortimento de atividades e dispositivos facilitadores do repouso. Já pensou em se deitar numa cama perfeita, que custou dezenas de milhares de dólares? Que tal poder escolher o seu travesseiro ideal em um menu? Quem sabe se acomodar num quarto protegido de qualquer barulho, com tratamento sonoro digno de estúdios profissionais de gravação? E um spa especializado em relaxamento profundo?


Câmaras de silêncio, massagens, terapias e tecnologia de ponta são apostas de programas para qualidade de sono

A expansão dessa corrente ligada ao turismo do sono se comprova pela pluralidade de opções existentes para as pessoas que, em suas viagens, almejam ter como trilha sonora nada além do ressoar leve de sua própria soneca. O cardápio internacional desse tipo de hotelaria abrange desde charmosíssimos refúgios urbanos até paraísos remotos, passando por alternativas no alto-mar. Em comum, todos tratam o silêncio como a sua prioridade número um. Preparamos uma seleção com algumas dessas opções.
Turismo do sono nos oásis urbanos
Para quem não abre mão de um ambiente cosmopolita mesmo quando procura o silêncio, a pulsante Londres, por surpreendente que pareça, é uma boa pedida. Em Mayfair, no coração da capital britânica, o Brown’s Hotel oferece uma experiência com duração mínima de duas noites, incluindo um “kit de sono”, composto de um esplêndido pijama da Yolke, uma máscara de dormir de seda com infusão de lavanda, essências relaxantes e produtos da Irene Forte Skincare, uma incrível carta de chás e acesso a tratamento facial.
Outro reduto no mesmo bairro londrino que se dedica aos cuidados com o descanso e o bem-estar é o Zedwell Hotel, “um santuário privado em meio ao caos da cidade”, segundo eles mesmos. Os hóspedes podem meditar e encontrar a paz sem escutar nenhum pio em cocoons (“casulos”) de paredes de carvalho e revestimento acústico intransponível, cama confortabilíssima, coberta por lençóis egípcios, e produtos Malin e Goetz.

Como sempre, a frenética Nova York, a eterna “rival” de Londres, não fica atrás. A metrópole pode até ser “a cidade que nunca dorme”, mas, em alguns de seus hotéis mais exclusivos, ela abre uma bela exceção. Próxima ao Central Park, no cobiçado miolo de Manhattan, a filial nova-iorquina do Mandarin Oriental se apresenta como “um oásis de relaxamento e rejuvenescimento”. Além de se hospedar em suítes com vistas para o parque ou o Rio Hudson, os clientes podem se esbaldar num dos spas mais premiados do mundo, em variados planos de sleepfulness, entre os quais um de meditação na água, realizada durante o pôr do sol. Dentro da tendência do turismo do sono, essa cadeia cinco estrelas conta com programas semelhantes em outros hotéis espalhados pelo globo, como os de Cingapura, Paris e Tóquio.
Já o Equinox, situado perto da Times Square e do Empire State Building, e também dono de vistas esplêndidas, leva o assunto tão a sério que em 2024 realizou um concorrido “simpósio do sono”. O hotel proporciona a seus visitantes mimos como um menu com opções de bebida e comida aptas a proporcionar o sono, produtos de skincare selecionadíssimos, massagens tranquilizantes e até um serviço de treinamento para o ato de dormir.




massagens e tratamentos energéticos para dormir com uma vista de tirar o fôlego
Natureza silenciosa
Já aqueles que associam o conceito de descanso antirruído necessariamente a entornos naturais encontram possibilidades ainda mais variadas. Em Gargnano, de frente para o Lago de Garda, no “tornozelo da bota”, no mapa da Itália, o deslumbrante Lefay Resort & Spa dispõe de planos como o Il Sentiero de Hypnos, farto em massagens e tratamentos energéticos, coordenados por uma equipe que acompanha a evolução do repouso entre os visitantes.
O culto ao sono tende a ser ainda mais especial quando praticado em território insular. Na Ilha de Koh Samui, na Tailândia, o Kamalaya, que se distribui em suítes e aconchegantes villas, conta com vários programas em seu cardápio de wellness, entre os quais um focado especificamente em hóspedes acometidos de estresse e esgotamento. Uma das propostas é “recuperar o senso de tranquilidade” de seus clientes.



Outra ilha que não decepciona quando falamos de turismo de sono luxuoso é Saint Barthélemy, no Caribe. Ali se encontra o Le Guanahani, um resort da marca Rosewood, que ocupa duas praias de uma mesma península, num cenário de tirar o fôlego. Em seu programa holístico Alchemy of Sleep Retreats, que reconhece o papel crucial do sono no bem-estar humano, o hotel propõe experiências de “transformação do sono” de duas a cinco noites. Entre os itens contemplados estão um banho terapêutico de cura por meio de sons meditativos e dietas personalizadas. Os quartos são equipados com óleos, máscaras de dormir e lençóis de seda.
Por falar em cenários edênicos, é difícil superar o Anantara Kihavah e as paisagens que o cercam. O resort fica numa reserva de biosfera tombada pela Unesco, situada em Kihavah, uma das ilhas do Arquipélago das Maldivas. Equipados com serviço de chá privado e banheira de leite de coco, seus chalés idílicos se posicionam em duas grandes passarelas curvas, dispostas uma em frente a outra e sobre as incomparáveis águas azul-turquesa do Oceano Pacífico.
Como se não bastasse, no Anantara é possível participar de um programa de enriquecimento do sono, que dá direito à supervisão de um “guru”, sessões de ioga e toda sorte de agrados que ajudam seus participantes a atingir um patamar de plena serenidade.

Calmaria
Aliás, no quesito turismo do sono, esse estado de calmaria completa pode ser atingido até mesmo em movimento e longe da terra firme. O Splendor, um navio da linha de cruzeiros Regent Seven Seas, tem suítes que chegam a 418 m² e podem favorecer uma imersão no descanso que faria inveja a Morfeu, o deus do sono.

Em seu interior, os viajantes encontram uma cama continental king-size, criada especialmente pela marca sueca Hästens e cujo tempo de fabricação é de um ano, um spa privativo, decorado com mármore italiano, e uma infinidade de tratamentos.
Dormir bem é sim um dos grandes desafios de bem-estar do século XXI e, sorte nossa, os melhores hotéis e spas do mundo já estão preparados para nos proporcionar os melhores sonhos.


Matéria publicada na edição 18 da Revista UNQUIET.