Imagine existir por mil anos. Testemunhar cada pôr do sol, ter tempo para contar todas as estrelas… Tenho um fascínio por baobás – quebrei o pé ao pular de um 4×4 para abraçar um deles no Tarangire Park, na Tanzânia. Pode rir. Me disse o guia que eu deveria mentir: “Fala ao menos que você se machucou subindo no galho mais alto”. Um sábio me disse que é sinal de que uma energia precisava ser libertada. Carrego isso comigo, como um presente daquele baobá – de transmutar algo em mais amor.
No primeiro game drive no luxuriante Wilderness Tubu Tree, na Ilha de Honda, no mágico Delta do Okavango, que banha Botsuana, apontei excitado para um baobá lá longe, tagarelando sobre essas minhas histórias. A essa altura estou no meu terceiro camp da rede, em uma delirante viagem de nove noites para conhecer a filosofia da marca, comprometida com a preservação de 2,3 milhões de hectares em oito países africanos – baobás e toda sorte de vida selvagem, gente, ancestralidade, espírito.
A hospitalidade é um negócio muito sutil, e cada pequeno detalhe pode cristalizar sua avaliação. Emocionar um hóspede é das belas artes. A luz vai baixando, um ventinho gelado chega para refrescar os animais. Hora do último sundowner – o open bar de memórias do dia. Nosso 4×4 deu uma guinada à direita, abriu-se uma clareira…
Fez-se ele, majestoso: o baobá! O Wilderness Tubu Tree montou um cenário estilo Out of Africa aos pés do maior e mais sábio da região. Todas as emoções dos dias de profunda conexão irromperam. Por tudo que a árvore representa para mim. E sobretudo pela delicadeza de um gesto, o olhar de um ser para outro. Nesse caso, de três: do Goratamang Legae, ou Gora, caríssimo guia, que me contou que baobás eram, em tempos antigos, reverenciados como divindades. Do Shaun Clemence, general manager, e sua sensibilidade para criar o memorável. E da Maria Alice Cavalcanti, da The Global Nomads, companheira dessa e de tantas jornadas de turismo responsável. Gente que sabe que viajar é para dentro.
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Wilderness Tubu Tree, Mokete e King’s Pool
Benefício: experiências incomuns como cafés da manhã e drinks ao pôr do sol em lugares especiais e safáris, de acordo com o perfil e preferência de cada viajante Unquiet.
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Prosperidade verde
Botsuana tem essa coisa de nos encantar no profundo. É uma terra simbólica para a Wilderness — onde tudo começou, em 1983, com um grupo de jovens guias e a utopia de um negócio socioambiental. Próspero, o país viu sua economia crescer após a independência, em 1966, alavancada pela mineração — ocorre ali 20% da extração mundial de diamantes. A também pujante indústria do turismo impulsionou a Wilderness, que transformou a utopia em bandeira, mirando a preservação de 5 milhões de hectares de terra e vida selvagens até 2030. O turismo de luxo responsável se mostrou um grande negócio: mais de 60 camps pelo continente, uma companhia aérea própria e os mais prestigiosos prêmios da indústria.
E foi num avião da Air Wilderness (essa é uma grande comodidade) que cheguei ao luxuriante Wilderness King’s Pool, na Reserva de Lynianti. O nome pomposo se deve a uma ilustre lua de mel que ali se deu, a de nossa mezzo-brasileira rainha Silvia com o rei Carl Gustav XVI, da Suécia. O cenário é idílico: construção clássica, às margens do rio que nomeia a reserva e divide Botsuana e Namíbia. Coalhado de crocodilos, que convivem amigavelmente com hipopótamos. Da minha elegantíssima tenda, dormi ao som dos gordinhos — é das mais inusitadas cantigas de ninar. Experiência digna de realeza.
Hoje, a Wilderness celebra seu reconhecimento triplo no Virtuoso Awards 2024. A operadora de viagens de luxo sustentável foi premiada pelos esforços em sustentabilidade, conservação de rinocerontes-negros na Namíbia e excelência em hospitalidade e turismo.
Educar é preciso, preservar é vital
No deck em frente ao rio, em um jantar regado a ótimos vinhos sul-africanos, converso com Wesley Hartmann, chefe de operações de conservação e meio ambiente da Wilderness no país. Entre um wi-fi e outro, leio notícias sobre as queimadas na Amazônia.
Divido com o ambientalista, que me conta que, em Botsuana, tristemente, elas também são comuns e “devastam imensas áreas africanas”. Há quem queime, pasme, para abrir novas áreas turísticas e fazer crescer um tipo de vegetação que atrai animais. E há os caçadores, que queimam para isolar e despistar os “rangers” — e fugir.
Wes (já estamos amigos e podemos chamá-lo pelo apelido) me conta que “as grandes ameaças à fauna da África são os conflitos humanos e a caça ilegal”.
Os leões, por exemplo, são sistematicamente dizimados por atacar o gado. “A Wilderness se engaja em ações de educação ambiental e convívio pacífico”, ele relata. Por exemplo, abastecendo seus camps com produtos sustentáveis, caso da (ótima) cerveja Okavango, que em parceria com a ONG Ecoexist só compra cevada de fazendeiros que protegem elefantes. “Botsuana é muito seguro para eles, por isso são tantos aqui”.
É impressionante: um quarto dos elefantes do mundo vivem em Botsuana. No hide do King’s Pool, vivi um momento encantado com uma elefanta idosa. É uma terapia passar horas vendo as silenciosas manadas e seus rituais.
Os elefantes são as grandes vedetes aqui. Mas espere ver também uma profusão de animais por essas terras. Combinar dois ou três camps é a certeza de avistar hienas, chacais, búfalos, abutres, toda a sorte de antílopes (especialmente impalas), multicoloridos pássaros, hipopótamos, os raros leopardos (especialmente no Delta do Okavango), girafas, crocodilos, porcos-espinhos, lebres, civetas, gnus, zebras, raposas, cachorros selvagens, babuínos…
Perdão se me esqueci de citar alguém. E, claro, leões e leoas — são muitos, especialmente no Wilderness Mokete. Vamos a ele, a seguir.
A dança da natureza
Impressiona a força da luz do céu da Depressão de Mababe – foi ali que cunharam o termo “até onde a vista alcança”. As silhuetas de centenas de búfalos marchando sob uma ofuscante luz laranja já entrou para o rol das minhas memórias desbundantes.
Apelidada de “mini-Serengeti” pelo Jonah Seboko, um espirituoso guia, a novíssima concessão é um jardim do Éden. Gerente geral do camp, Cobus Calitz nos acompanhou em um pôr do sol inesquecível, em que uma hiena curiosa nos deu a honra da presença. É nítida a sua excitação — ele sabe que esse é o lugar da vez. Quando esta UNQUIET chegar até você, o Wilderness Mokete terá apenas sete meses de vida, e já nas listas de melhores destinos deste ano.
As tendas nos colocam no meio da ação. São apenas nove, combinando artesanato africano e design minimalista, um quê meio nórdico das savanas. Com direito a animais passando bem próximos da minha tenda à noite.
É seguro, claro, desde que não se aventure sozinho — estritamente proibido, sabemos. Afunde-se em sua confortabilíssima cama e mire as estrelas: o teto é retrátil.
Já extasiado, tive que tomar fôlego para respirar ainda mais fundo: sobrevoar o Delta do Okavango é da ordem do sublime. Depois da aridez das paisagens — Botsuana está enfrentando uma seca severa há anos —, divisar a magnífica formação de terras alagadas é um refresco. Águas das chuvas de Angola abastecem os leitos que se formam pelas depressões das falhas geológicas. Correm infinitos, rasinhos. Faça o mokoro, o passeio de canoa tradicional, para ver de perto essa nababesca paisagem. Uma meditação.
No Wilderness Tubu Tree, vivi alguns dos momentos mais emotivos da viagem. Estava mais aflorado, sentindo os efeitos de ficar sem internet por muitos momentos do dia… o que me devolveu a presença. “Off-line é o novo luxo”, afinal.
O celular me serviu só para anotar, fazer fotos, gravar o som dos elefantes aos pés da minha tenda, numa madrugada encantada. Fazer mil vídeos das danças e dos cantos em Setswana, num jantar regado a rugidos de leões, experimentando o Botsuana Beef, uma carne de panela cozida por seis horas, até se desfiar em mil sabores. Conexão ali só com energias, percussões, vozes. Me senti inteiro.
Não bastasse a pulsão de vida dessa experiência sensorial, o Wilderness Tubu Tree me reservou ainda a chave de ouro… Você sabe, a surpresa do baobá. Uma epifania.
Pedi à árvore-da-vida o que se pede quando se acredita. Agradeci pela sorte de colecionar alguns sorrisos pelos caminhos de Botsuana, de deixar um pouco de mim e receber um pouco de quem talvez eu não veja nunca mais…
Pensei nas pessoas que eu amo. Pensei nos meus erros também — e me perdoei. Pedi coragem para seguir em frente. Para conhecer cada baobá que há — e ouvir deles todos os segredos do mundo. Kea leboha, ou “muito obrigado”, Botsuana!
Wilderness
- Missão: dobrar a quantidade de terras que ajudam a conservar até 2030. Hoje já protegem 2,3 milhões de hectares (6 milhões de acres) de terra.
- Educação
Fazem isso por meio de clubes ecológicos, currículo escolar e melhorias na infraestrutura, centros de alfabetização e outras iniciativas de educação ambiental. - Fortalecimento de laços
O emprego e o apoio a pequenas empresas locais reduzem a dependência de recursos naturais. Isso atenua o impacto indireto sobre a natureza e a vida selvagem. - Proteção
A coexistência entre homem e meio ambiente e os programas de segurança da vida selvagem. Proteger as pessoas da vida selvagem e a vida selvagem das pessoas. - Projeto Children in the Wilderness
É uma organização sem fins lucrativos apoiada pelo grupo, cujo objetivo é facilitar a conservação sustentável por meio do desenvolvimento da liderança e da educação de crianças na África. - Projeto Wilderness Wildlife Trust
Uma entidade independente sem fins lucrativos associada ao grupo, apoia uma grande variedade de projetos em toda a África. Os projetos e pesquisadores que apoiam atendem às necessidades das populações de vida selvagem existentes, buscam soluções para salvar espécies ameaçadas e oferecem educação e treinamento para a população local e suas comunidades. - O grupo concentra seu trabalho em três áreas principais:
- Pesquisa e conservação – incluindo estudos de espécies, monitoramento de populações e compreensão de conflitos entre humanos e animais.
- Capacitação e educação da comunidade – como a elevação da comunidade e o programa Children in the Wilderness.
- Combate à caça ilegal e gerenciamento – incluindo pesquisas aéreas, unidades de combate à caça ilegal e aumento da capacidade dos pesquisadores em geral.
- Dezenove de seus Lodges já são 100% alimentados por energia solar, e o objetivo é reduzir ainda mais a dependência de combustíveis fósseis, investindo em mais energia solar e em outras fontes de energia renováveis e eficientes. Também adotam soluções eficientes em termos de água em todas as propriedades, prestando muita atenção ao uso diário para preservar cada gota de água que os ecossistemas fornecem. As robustas estações de tratamento de esgoto trabalham para proteger os lençóis freáticos naturais dos resíduos que produzem. Também dizem não aos plásticos de uso único, à água engarrafada e ao desperdício de alimentos, fornecendo aos hóspedes garrafas de água reutilizáveis e adquirindo ingredientes do cardápio e outros suprimentos localmente, quando disponíveis.
Matéria publicada na edição 17 da Revista UNQUIET.
Botsuana é uma terra simbólica para a Wilderness – onde tudo começou, em 1983, com o sonho de um negócio socioambiental