Com cerca de 1 metro da ponta do bico à ponta da cauda, e pesando até 1,3 kg, a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) é uma das mais belas aves do país e também o maior dos psitacídeos, família que reúne pássaros com cérebro bem desenvolvido, como maritacas, papagaios e araras. O Brasil, aliás, é o país mais rico do mundo nessa família, sendo chamado de “Terra dos papagaios” desde a época do descobrimento.
As araras-azuis – com sua belíssima e inconfundível plumagem de cor azul-cobalto intensa – formam casais inseparáveis e vivem em bandos em algumas regiões do Brasil (Pantanal, Centro e Norte). Fazem ninhos escavando o tronco de árvores com cerne macio, como o manduvi, a ximbuva e o angico-branco. No Pantanal, alimentam-se de castanhas dos cocos de duas palmeiras, acuri e bocaiúva.
Entre sete e nove anos (chegam a viver até 50 soltas), começam suas próprias famílias, com dois filhotes em média por postura anual ou bienal, dos quais só um costuma sobreviver. As avezinhas são frágeis e recebem alimento dos pais até os seis meses. Com três meses arriscam seus primeiros voos, e entre 12 e 18 meses tornam-se independentes.
Em novembro de 1989, a professora Neiva Guedes ministrava um curso de prática de conservação da natureza no Refúgio Caiman, no Pantanal mato-grossense e, ao ver um bando com umas 30 araras-azuis pousadas num galho seco, encantou-se com sua plumagem e seu comportamento. Descobriu que a ave encontrava-se ameaçada de extinção – motivada pela caça, pelo comércio clandestino, pelo desmatamento em seu hábitat natural e pelos incêndios florestais – e resolveu lutar por sua preservação. “São aves aguerridas, guerreiras e resilientes, mas a pressão sobre elas é grande”, diz a cientista.
Aliás, a União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN) registra que mais de 12 mil espécies de animais e plantas sofrem a ameaça de extinção no planeta. Com 282 animais, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos, da Austrália e da Indonésia nesse nada invejável ranking de risco.
Para reverter o quadro, Neiva fundou em 1990 o Projeto Arara Azul, desenvolvendo estudos sobre a biologia e hábitos da espécie. Em 2003, criou o Instituto Arara Azul em Campo Grande (MS) para dar apoio jurídico ao projeto, além de gerenciar e administrar os recursos recebidos por esse projeto e outros, inclusive de pesquisadores parceiros. As principais fontes desses recursos são ações como a campanha “Adote um Ninho” e o Turismo de Observação, ambos do instituto, além de doações de pessoas físicas e jurídicas, que chegam a fornecer veículos para seus trabalhos de campo e ajuda para viabilizar suas atividades.
O esforço de Neiva não foi em vão: entre 1998 e 2008, contou com o apoio do WWF-Brasil, período em que o número registrado de araras-azuis cresceu de 1,5 mil para 6 mil. “Não temos um número atualizado”, diz ela. A contagem, que é difícil, não inclui aves em cativeiro, apenas na natureza. “Não falo mal de quem tem em casa, mas prefiro vê-las soltas em seu hábitat, com seu comportamento natural.” Conta ainda que já acompanhou visitantes estrangeiros que criavam araras-azuis havia muitos anos. Quando viram as aves no Pantanal, tiveram uma forte reação. “Choraram e me perguntaram se podiam trazer suas aves para cá, para devolvê-las à natureza”, lembra Neiva, acrescentando que isso não seria benéfico para elas.
O projeto, que já conta mais de 31 anos, prossegue firme. Ela espera que as araras-azuis possam encantar em número cada vez maior os visitantes do Pantanal e, se possível, de outras regiões do país.
Faça sua doação para: institutoararaazul.org.br