Jon Krakauer

O escritor de Na Natureza Selvagem e No Ar Rarefeito descobriu seu talento outdoor ao se apaixonar, e quase morrer, praticando montanhismo

Do primeiro vulcão a gente não se esquece. Que o diga o escritor americano Jon Krakauer. Conhecido no mundo inteiro, ele é o autor de Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 1996) e No Ar Rarefeito (Into Thin Air, 1997). Dois best-sellers que viraram filme e falam de viagens, da vida ao ar-livre e da ascensão de montanhas. Falam também – e principalmente – da morte e da queda. Além de tudo, sua prosa jornalística busca sempre a verdade. Mas, como diria o alpinista metódico, vamos por partes.         

O primeiro vulcão se chama South Sister. Fica no Oregon, costa oeste dos Estados Unidos, e é o mais alto (3.195 metros) da cadeia montanhosa Três Irmãs. Os cumes do trio ultrapassam os três quilômetros acima do nível do mar. Extintos, obviamente, não são considerados difíceis de escalar. Foi de lá, no entanto, que Lewis Joseph Krakauer e seu filho Jon quase despencaram numa excursão. Quase morreram. Ao que tudo indica, a metáfora do tombo marcaria em definitivo toda a produção literária do filho.

Jon Krakauer | Foto: Getty

Se dependesse do dr. Krakauer, Jon seguiria seus próprios passos. Os do pai, formado pela respeitada Harvard Medical School. Foi ele quem apresentou ao filho, aos oito anos, o montanhismo. “Incansavelmente competitivo e ambicioso ao máximo” na definição do filho, o médico almejava para o rebento a mesma carreira. Quando Jon terminou o colegial, em 1972, a família vivia na cidadezinha de Corvallis, no Oregon. E o dr. Krakauer foi logo agendando uma série de entrevistas nas melhores faculdades de medicina da Nova Inglaterra, no outro lado do país. Mal podia imaginar…

         …que em vez de Harvard ou Yale, o herdeiro escolheria a alternativa e radical faculdade Hampshire College, em Amherst, Massachusetts – mesmo estado em que veio ao mundo, na pequena Brookline, em 12 de abril de 1954. A escola era feminista antes de o termo ter sido inventado. O currículo era móvel. Claro que não tinha grades. Reza a crônica, todavia, que incentivava as atividades esportivas a céu aberto e que se podia nadar nu. Jon se graduou em ciências ambientais quatro anos depois, para desespero do pai – que, reza também a crônica, ficou sem falar um bom tempo com ele. Conheceu a ex-montanhista Linda Mariam Moore em 1977 e se casaram em 1980. Foram morar em Seattle, no estado de Washington. Depois do sucesso de No Ar Rarefeito, mudaram-se para Boulder, no Colorado, onde vivem.

Cerro Torre, Patagônia | Foto: Getty

Recém-formado, ele passou mais de um mês sozinho no glaciar Stikine, no Alasca – onde escalou por uma rota inédita os 2.767 metros do Devils Thumb (“polegar do diabo”), na fronteira com o Canadá, experiência descrita no livro de ensaios, reportagens e perfis De Homens e Montanhas (Eiger Dreams: Ventures Among Men and Mountains), sua obra de estreia, de 1992. Aprimorou a técnica da escalada dois anos depois, chegando ao alto do Cerro Torre, bloco de granito puro tido como um dos maiores desafios do montanhismo, no sul da Patagônia, fronteira do Chile com a Argentina. Boa parte de seus textos ganhou notoriedade graças às páginas da revista americana Outside. E foi a pedido da publicação que ele sairia atrás da história de Christopher McCandless.

Poster do filme No Ar Rarefeito | Foto: Reprodução

No Ar Rarefeito

         Krakauer já havia dado um tempo em escaladas quando resolveu participar, como repórter da Outside, em maio de 1996, da expedição ao monte Everest – o mais alto do planeta, com 8.848 metros. Ela renderia seu livro mais conhecido, No Ar Rarefeito, publicado no ano seguinte.

         À época o mundo todo, principalmente o mundo de quem se dispunha a gastar no mínimo 70 mil dólares por pessoa para arriscar o próprio pescoço, vivia uma verdadeira “febre da montanha”. Melhor dizendo, uma febre de “alta montanha”. Bastava pagar que as agências de montanhismo prometiam colocar qualquer um no topo. Essa é a grande crítica e o fio condutor do livro.

         Nas últimas duas décadas, a média de acidentes fatais no Everest tem sido de 6 por ano. Em 2015, um terremoto no Nepal causou um deslizamento de neve no monte que matou 24 pessoas – o recorde até o momento. A reportagem que virou livro conta a tragédia de 8 mortos, entre eles dois experientes alpinistas e grandes rivais: o neozelandês Rob Hall, da Adventure Consultants, e o americano Scott Fischer, da Mountain Madness. O jornalista estava com a equipe de Hall. Havia acabado de descer do cume quando uma avalanche varreu tudo a poucas dezenas de metros de sua barraca no acampamento-base.

         O livro fez e recebeu tantas críticas que Jon Krakauer teve de adicionar um longo posfácio à segunda edição, entre elas o seu desconhecimento de que a meteorologia avisara todos os operadores que o tempo iria piorar – o que só corrobora a tese de que, para os donos das agências, o importante era pôr o cliente no topo a qualquer preço. O russo Anatoli Bourkreev, guia da Adventure Consultants, fez a subida sem oxigênio suplementar, uma temeridade segundo o escritor. Pior: deixou o cume algumas horas antes dos clientes. Em compensação, teve um comportamento heroico nas diversas vezes em que saiu atrás dos que faltavam depois do acidente. Há duas versões cinematográficas da obra: Morte no Everest (1997) e Evereste (2015). O primeiro vale a pena ver. O segundo é tido pelo jornalista como “um lixo completo”, no que ele está absolutamente correto.

Missoula: O estupro e o sistema judicial em uma cidade universitária

         Missoula é uma cidade universitária no estado de Montana. E também o título da criação mais recente de Krakauer, publicado em 2015. O tema não é novo, mas a abordagem é típica do autor. A partir de um estupro na universidade local, ele levanta uma série de casos idênticos. Mostra como a Justiça falha ao dar sempre o benefício da dúvida aos acusados e as causas que levam muitas mulheres a não denunciar o caso à polícia, mantendo dessa maneira um círculo vicioso.

         Ele cita diversos casos de como o estupro leva à síndrome do estresse pós-traumático, doença que ele próprio vivenciou depois da tragédia no Everest e foi tema recorrente durante as entrevistas com soldados no Afeganistão. Ao investigar em profundidade o assunto, descobre que esse tipo de abuso é regra, e não exceção, no sistema educacional americano. Uma conclusão triste? Certamente. Mas possível apenas quando se tem, fazendo as perguntas, alguém detalhista e obcecado pela verdade como Jon Krakauer.

 Na Natureza Selvagem

         Em 1992, caçadores acharam o corpo em decomposição de McCandless dentro de um ônibus abandonado havia anos em Healy, no meio da floresta, uma das áreas mais desertas do Alasca. O rapaz havia chegado de carona ali perto, mas estava tão visivelmente despreparado para enfrentar a natureza selvagem que o motorista lhe dera de presente suas botas de borracha. McCandless pega uma trilha, encontra o ônibus e monta nele seu acampamento. No começo, tudo vai bem: ele usa seu rifle 22 para caçar, lê livros e começa a escrever um diário. Jon Krakauer levou dois anos de pesquisa para contar detalhadamente a saga de alguém disposto a se desconectar do mundo.

         Foi assim. Depois de se graduar com distinção na Emory University em Atlanta, na Geórgia, McCandless resolve literalmente sumir. Destrói todos os seus documentos e cartões de crédito. Doa suas economias, cerca de 20 mil dólares, para a ONG Oxfam. Entra em seu velho carro e cai na estrada. Para complicar, não conta aos pais seus planos e vai rareando o contato com eles, até o silêncio total. Perde o carro numa enchente, queima o que sobrou de dinheiro, começa a viajar de carona e a viver de bicos – além de adotar o nome de “Alexander Supertramp”.

O que se segue é uma lista de aventuras/desventuras que só o trabalho meticuloso de Krakauer foi capaz de listar. McCandless cruza o norte da Califórnia, entra pela Dakota do Sul e chega ao rio Colorado. Mesmo advertido pelos guarda-parques que é necessária uma licença especial, entra num caiaque e rema rio abaixo até chegar ao México. O barco some numa tempestade de areia e ele resolve voltar a pé aos Estados Unidos. Sem conseguir pegar carona, viaja como clandestino nos trens de carga até Los Angeles. Espancado pela polícia ferroviária, torna a pedir carona nas rodovias. Encontra um veterano do exército com quem passa um tempo. E diz que pretende ir para o Alasca. Preocupado com o novo e sonhador amigo, o ex-militar lhe dá sua antiga tralha de acampamento. Corta de volta para o interior do ônibus.

         Passado algum tempo, nosso anti-herói percebe que viver no mato, sozinho e sem experiência, não é fácil. Ele comete alguns erros básicos, como matar um alce enorme, para logo perceber que a carne irá se estragar rapidamente. Se ao menos conhecesse, como os velhos pioneiros, a milenar arte da defumação… Enquanto seus suprimentos diminuem, ele descobre que a natureza é impiedosa e dura.

Poster do filme Na Natureza Selvagem | Foto: Reprodução

         McCandless percebe afinal que a verdadeira felicidade, se é que ela existe, só pode ser encontrada quando dividida com o próximo. E toma a decisão de voltar aos amigos e à família. Mas é tarde demais. O riacho que ele havia cruzado na ida engrossou com o degelo da primavera. Tornou-se agora um rio violento, largo e profundo. Impossível atravessá-lo. Só resta retornar ao ônibus. Calcula-se que ele tenha vivido cerca de 100 dias desde sua chegada, tempo em que consumiu os 10 quilos de arroz que levara.

         Em 2007 o livro virou um filme de sucesso. Dirigido pelo talento e pela sensibilidade de Sean Penn, com Emile Hirsch como protagonista, fez sua estreia no Film Fest de Roma. Indicado para o Globo de Ouro em duas categorias, ganhou o de melhor canção original, “Guaranteed”, de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam. Teve ainda duas indicações ao Oscar, custou 20 milhões de dólares e arrecadou mais de 60 milhões de bilheteria.

Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 05 da Revista UNQUIET.

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