Galápagos, as ilhas que inspiraram Darwin

Uma travessia pelo laboratório das Ilhas Galápagos – onde a vida selvagem ainda pulsa livre, a ciência se mistura à inventividade e a natureza revela, em silêncio, as origens de tudo

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Há exatos 190 anos, em setembro de 1835, Charles Darwin desembarcava do navio HMS Beagle nas Ilhas Galápagos, ainda sem imaginar que o estudo feito nas cinco semanas seguintes transformaria a história da ciência para sempre. Em 15 de setembro de 1835, o navio avistou as ilhas e aportou em San Cristóbal, marcando um ponto crucial na viagem de Darwin.

Da teoria à prática: o legado de Darwin

Ensinada e disseminada para além das salas de aula, a teoria da evolução por seleção natural levaria outros curiosos, como eu, a observar de perto os detalhes que o explorador inglês descreveu em seu livro homônimo.

Laboratório vivo

Uma vez em Galápagos, é impossível não se perder na imaginação, revisitando citações de seus livros no próprio laboratório que o inspirou — a Charles Darwin Research Station, instalada em Santa Cruz, apoiada pela Charles Darwin Foundation sob os auspícios da UNESCO.

Arquipélago de Galápagos como museu vivo

Mais difícil ainda é acalmar os pensamentos que tentam compreender a grandiosidade das eras profundas a que pertencem muitos dos fenômenos dali — sejam eles formações geológicas ou comportamentos do ecossistema. As Ilhas Galápagos são reconhecidas como um verdadeiro “museu vivo e vitrine da evolução” pela UNESCO desde 1978, com a Reserva Marinha incluída em 2001.

Uma viagem transformadora

Cientista por paixão e vocação, Charles Darwin navegou por cinco anos ao redor do mundo — numa viagem que se estendeu de 1831 a 1836 — mas foi a partir de suas coletas, percepções e descobertas no arquipélago equatoriano que a sua pesquisa sobre os “mistérios dos mistérios” se intensificou.

A teoria sobre a origem da vida, talvez o maior questionamento da humanidade, foi desenvolvida com base em outras teorias e na profunda originalidade de Darwin de enxergar a Terra e as suas criaturas como seres vivos em transformação, com uma história mais antiga do que se pensava na época.

Galápagos hoje: viagem no tempo

De tão preservado que é Galápagos, ainda é possível fazer uma jornada quase como se voltássemos ao tempo de Darwin, com a chance de percorrer suas águas pacíficas e pisar em seus solos vulcânicos, convivendo com uma variedade e quantidade impressionante de animais que (ainda) não aprenderam a temer a espécie humana. Existe algo de mágico em se deparar com lugares ou pessoas que conhecemos apenas por imagens.

E a viagem toda seguiu uma sequência de encantamentos.

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Caranguejos aratus-vermelhos vivem sobre a lava
Caranguejos aratus-vermelhos vivem sobre a lava
A Baía James, na Ilha de Santiago
A Baía James, na Ilha de Santiago

Evoluindo em Galápagos 

Isoladas no meio do Oceano Pacífico, a cerca de mil quilômetros da costa equatoriana, as Ilhas Galápagos flutuam entre os hemisférios, bem sobre a Linha do Equador. São 13 ilhas principais, seis menores e mais de uma centena de ilhotas e rochedos vulcânicos, espalhados por 45 000 km² de mar aberto. Formadas por intensas erupções vulcânicas, suas terras emergiram do fundo do oceano há milhões de anos, moldadas pela atividade geotérmica e pela incessante movimentação das placas tectônicas, criando um ecossistema espantosamente grandioso, mas recheado de características sutis.

Cruzeiro intimista pelo oeste selvagem

Embarco no novíssimo &Beyond Galapagos Explorer, minha casa flutuante nos sete dias seguintes, para desbravar o oeste selvagem das ilhas. Com 124 pés (aprox. 38 m) de extensão, o barco abriga somente seis charmosas cabines, uma jacuzzi com vista para o horizonte, refeições criativas que celebram os sabores locais, uma equipe acolhedora e um guia naturalista, pronto para desvendar os mistérios do arquipélago: uma experiência intimista que combina perfeitamente com o destino.

A decoração foi desenvolvida pela designer local Adriana Hoyos, que trouxe o universo de Galápagos — como os animais e as descobertas de Darwin — para as paredes. Minha parte favorita do dia era despertar com a persiana da janela aberta e enxergar um novo cenário a cada manhã.

Caminhada na Ilha de Chinese Hat
Caminhada na Ilha de Chinese Hat

Experiência a bordo: um safári no mar

A experiência a bordo do &Beyond Galapagos Explorer é semelhante à de um safári, mas no mar. As atividades, basicamente, se dividem dessa forma:

  • Caminhadas contemplativas em trilhas costeiras e terrenos vulcânicos, oferecem contato direto com a fauna endêmica e paisagens únicas.
  • Exploração em panga: pequenos botes permitem acesso a manguezais e enseadas protegidas, ideais para observação de aves, iguanas e leões‑marinhos
  • Snorkeling: nas águas claras do Pacífico, é comum nadar entre peixes tropicais, leões‑marinhos e até pinguins, em pontos como Devil’s Crown, Kicker Rock e Pinnacle Rock.

Essa combinação de aventuras — terra firme, manguezais e mar aberto — cria uma experiência que remete a um safári, mas sob o céu e céu marinho de Galápagos.

Por se tratar de um destino rigorosamente conservado, com o título de Parque Nacional desde 1959 e reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco em 1978, a rota do cruzeiro é predefinida e não pode ser alterada. 

Flamingos-rosa se alimentam em um lago
Flamingos-rosa se alimentam em um lago
Vista sobre a ilha vulcânica de Bartolomé, um dos destaques no roteiro por Galápagos
Vista sobre a ilha vulcânica de Bartolomé, um dos destaques no roteiro por Galápagos | Foto: Getty
Leões-marinhos se aventuram pelo mar límpido
Leões-marinhos se aventuram pelo mar límpido | Foto: Getty

Estudo em campo a cada desembarque

A cada descida do barco, uma espécie de estudo em campo começa. Enquanto a panga desliza sobre a água dos manguezais, considerados berçários naturais, flagro filhotes de tubarões, tartarugas, raias e pinguins.

Terras moldadas pela idade vulcânica

Já em terra firme, as ilhas revelam cenários distintos, moldados pela idade de sua última erupção vulcânica:

  • Ilhas recentes: exibem tons escuros e vegetação escassa.
  • Ilhas antigas: cobertas de verde denso.
  • Ilhas avermelhadas: indicam altas concentrações de ferro.

Encontros com a fauna endêmica

Enquanto caminho, vejo iguanas-marinhas nadando no mar, iguanas-terrestres se movendo em câmera lenta, flamingos-rosa se alimentando em lagos resilientes e patolas-de-pés-azuis equilibrados em reluzentes patas azuladas.

Enquanto isso, meus pensamentos tentam acompanhar o horizonte e absorver cada informação nova. Imagino erupções, crio destruições ocasionadas por vulcões e remonto os ancestrais dos animais.

Mais do que me deparar com um universo que estudei tanto, sentir-me parte desse ecossistema aguça meus sentidos e estimula a criatividade.

Leões-marinhos repousam na areia em Galápagos
Leões-marinhos repousam na areia | Foto: Getty

Um sonho possível 

Darwin e outros pesquisadores, inclusive, precisaram criar hipóteses — à primeira vista surreais — para tentar imaginar os caminhos que as espécies percorreram até chegar às ilhas vulcânicas. David, o guia naturalista do barco, me explica que a mistura de correntes marítimas e vento, somada ao fértil solo vulcânico e às águas mais quentes da costa, foi a responsável por trazer os ancestrais até Galápagos. As teorias deduzem que iguanas e tartarugas, resistentes à desidratação, foram transportadas por troncos, que os pinguins encontraram uma corrente partindo da Antártica, que as aranhas lançaram fios de seda ao vento e voaram como um balão e que insetos pegaram carona em penas de aves.

Isolada no meio do Oceano Pacífico, sobre a linha do Equador, Galápagos compreende 13 ilhas principais e seis menores, além de ilhotas e rochedos

Um cormorão no arquipélago de Galápagos
Um cormorão
Pinguins sobre rocha vulcânica
Pinguins sobre rocha vulcânica | Foto: iStock
A experiência junto a leões-marinhos em Galápagos
Carolina junto aos leões-marinhos
Tartaruga gigante
Tartaruga gigante
Iguanas
Iguanas
Iguana em Galápagos

Hipnose subaquática em Galápagos

O fundo do mar é um ambiente hipnotizante. A cada pulo no oceano, minha consciência se expandia, fazendo crescer em mim a noção de que todos os animais são essenciais à natureza.

O ecossistema de Galápagos é tão sintonizado que, em um mesmo mergulho, é possível cruzar com um tubarão‑de‑pontas‑brancas‑de‑recife, acompanhar uma tartaruga marinha, flutuar com uma raia, interagir com cardumes, flagrar um cormorão caçando e brincar com os leões‑marinhos. Esses últimos estão por toda parte, cheios de audácia e curiosidade sobre a espécie invasora — no caso, eu, humana.

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O arquipélago foi batizado de Galápagos em referência a um dos animais endêmicos mais fascinantes: as tartarugas gigantes.

Com origem espanhola, a palavra “Galápagos” significa “tartaruga com carapaça de sela”, como as encontradas na cidade encantada de Puerto Ayora, na Ilha de Santa Cruz. Entre os séculos XVII e XIX, esses animais foram caçados para sustento por piratas, baleeiros, exploradores e colonizadores.

Desde os anos 1960, o Centro de Pesquisa Charles Darwin se esforça para aumentar sua população nas ilhas, enquanto a Reserva El Chato, na parte montanhosa, abriga inúmeras delas. Nessa última, tive o privilégio de chegar bem perto desses seres, espantada ao perceber seu tamanho incomum, de até 250 kg.

Momentos inesquecíveis com as raias

Meus momentos mais emocionantes, curiosamente, não incluíram a mesma espécie. O primeiro, em um dos passeios com a panga, dezenas de raias douradas e pintadas nadavam próximas à superfície, coreografando uma dança, vivendo em paz naquele ambiente sereno.

Surpresa com as majestosas raias-mantas

O segundo, na última trilha da viagem, caminhando próximo a um precipício, eu e meus companheiros de viagem percebemos duas movimentações volumosas no mar. David avisa: são raias-mantas. Como nada nessa vida é por acaso, um deles pergunta se elas pulam. E eu juro, por Charles e todos que vieram antes dele, que uma delas saltou no segundo seguinte em que a pergunta foi feita. Para confirmar que a natureza tem mesmo seus paralelos secretos.

Reconhecimento e gratidão

No último jantar, David agradece a visita e por termos ajudado a preservar esse santuário para as futuras gerações. Quem agradece a ele sou eu por ter enriquecido nossa jornada com tanto aprendizado.

A vida sagrada de Galápagos

Galápagos é um dos poucos lugares no mundo onde ainda podemos viver a vida como ela provavelmente sempre foi: abundante, diversa e em movimento. Imergir em sua natureza consegue nos tirar do centro do mundo e nos colocar no mesmo lugar de todas as espécies — de onde nunca deveríamos ter saído.

Por fim, David confirma, talvez, o que Darwin não teve tempo de deduzir: que o verdadeiro motor da evolução humana não é a capacidade de pensar, mas a de compartilhar o conhecimento..  

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andbeyond.com/impact

Matéria publicada na edição 19 da Revista UNQUIET.

O novíssimo &Beyond Galapagos
O novíssimo &Beyond Galapagos Explorer
Uma das cabines do barco
Uma das cabines do barco
Mapa de Galápagos em relação a Quito, Equador
Ilustração: Antônio Tavares

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