Amazônia, o fim do verde

A fotógrafa Betina Samaia usa sua arte para subverter os tons da Amazônia como um alerta sobre a solidão causada pelo desmatamento da floresta

Betina Samaia

A ideia de registrar momentos e colecionar memórias acompanha a fotógrafa Betina Samaia desde a infância. Ainda criança, ela compilava fotografias do cotidiano, tíquetes de teatro, bilhetes, cartas de amor, entradas de museus e ingressos de shows em diversos volumes de álbuns. Sem imaginar que a fotografia se tornaria a sua grande vocação, se formou em psicologia e deixou de lado o hobby paralelo por algum tempo. Em 2006, no entanto, sentiu a necessidade de retomar o contato com as lentes. Foi nessa época que uniu a sua formação acadêmica ao interesse pela imagem. “Ao retomar minha atividade como fotógrafa, percebi que minhas fotos eram terapêuticas”, conta. “Mas isso não é privilégio meu. Afinal, todo artista quando cria está, de alguma forma, falando de si, compartilhando seu universo particular, trazendo à tona conteúdos do inconsciente”, explica ela.

O processo criativo intuitivo rege seu trabalho, usando a câmera como uma ferramenta de autoconhecimento. O primeiro contato com a Floresta Amazônica aconteceu em 2005, mas ela demorou para elaborar como queria transcender suas impressões sobre a região. Para ela, era algo muito maior do que fotografar a natureza. “Todas as vezes que eu ia para lá, apesar da enorme exuberância, sentia uma sensação de solidão e silêncio que não conseguia explicar. Não minha, mas da mata. Eram paisagens silenciosas. A solidão que se sente lá é tão densa quanto a floresta”, reflete Betina. Foi com esse sentimento pungente que nasceu a série Amazônia, o Fim do Verde, cujo resultado ultrapassa a beleza de imagens impactantes, ao trazer um recado claro. “Fotografar para mim é olhar o mundo com olhos de sonho, com luz e poesia”, diz ela, que usa o infravermelho para transformar a realidade retínica em algo onírico, muito além do que os olhos podem ver e a câmera capturar. “Com esse ensaio, procuro mostrar a degradação da floresta, a solidão das árvores, por meio de uma ‘denúncia cromática”, explica a artista, que conseguiu efeitos que transformam o verde em amarelos, brancos e rosas. “Com a câmera, mostro que o verde está lá, mas ao mesmo tempo não está (ou não estará em breve) se o desmatamento continuar avançando nesse ritmo”, alerta Betina.

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