A Tunísia é um mosaico de civilizações. Os fenícios fundaram Cartago em 814 a.C., que floresceu como uma potência antes de ser destruída pelos romanos, em 146 a.C., tornando-se uma de suas províncias mais prósperas. A chegada dos árabes, no século VII, trouxe o Islã e consolidou a cultura magrebina. Durante o período otomano (entre 1574 e 1881), a Tunísia manteve certa autonomia, até cair sob o domínio francês, conquistando a independência em 1956. Hoje o país carrega as marcas desse passado diverso, visíveis tanto nas medinas labirínticas quanto na arquitetura colonial e nas ruínas romanas, espalhadas pelo território. Foi por esse emaranhado de tradições que minha viagem se desenrolou ‒ entre ecos de lendas antigas e vestígios de impérios, em que cada pedra parecia contar a sua própria história.
Cores, cheiros e narrativas sensoriais
A Tunísia permeia o meu imaginário de forma quase palpável através de imagens. Lembro também do cheiro de jasmim, do café forte, das orações ao entardecer e da chuva persistente na noite de Natal, quando cheguei à Medina de Túnis. Uma senhora me aguardava do lado de fora do táxi. Caminhamos em silêncio até uma porta amarela, onde dois gatos de madeira guardavam a entrada. Ali encontrei abrigo, calor… e o começo do sonho.
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Especiarias, souks e arte popular
A primeira semana foi marcada por frio e umidade. As ruas molhadas exigiam atenção. Guiado pelo cheiro de pão e café, cheguei a uma praça acolhedora, perto de onde fiquei hospedado. A Medina, com seus souks e vielas, é viva e labiríntica. Um lugar onde os séculos sussurram. Não vou mentir: a comida é o que primeiro me move numa nova cidade. Não me interesso por monumentos e pontos turísticos lotados. É nos pequenos mercados e bancas de rua que encontro a essência do lugar. Neles a minha timidez se dissolve ‒ muitas vezes por necessidade, e quase sempre pela fome.
Em Túnis, os sabores falam alto. A comida de rua dita o ritmo, com seus temperos sedutores e, para a minha alegria, apimentados. A massa é aberta na hora para receber recheios de legumes frescos, a carne de ovelha e, surpreendentemente, a de porco. Aqui se percebe algo singular: o país é infinitamente mais aberto do que seus vizinhos mais famosos, Marrocos e Egito. Isso se revela na culinária, na produção e no consumo de álcool (vendido discretamente nos supermercados) e numa dança despretensiosa entre sabores árabes e franceses, que sem esforço se encontram e se entendem.


Sidi Bou Said: vilarejo dos sonhos
Depois de alguns dias em Túnis, segui para Sidi Bou Said. O motorista me esperava perto da Praça Kasbah, à margem da Medina. Seguimos pela estrada cintilante, rumo à costa mediterrânea. A chuva persistente, que parecia nunca dar trégua, me fez desejar com toda a força um raio de sol, uma centelha dourada qualquer que justificasse a promessa da previsão do tempo. Meu objetivo era simples: fotografar o amanhecer em Sidi Bou Said, uma cidade suspensa entre o azul do céu e o do mar, que um dia encantou Kandinsky e Paul Klee.
Encanto andaluz e inspiração artística
Sidi Bou Said não pertence ao tempo comum. É um vilarejo sonhado, alheio à pressa de Túnis, como se tivesse sido esquecido pelo ritmo do mundo. Suas casas brancas e azuis, moldadas por influências andaluzas e mouriscas, são a matéria dos sonhos mais românticos.
Aqui Chateaubriand se perdeu, Flaubert encontrou beleza, Foucault se deixou levar.
Mas talvez tenha sido Paul Klee quem mais profundamente absorveu sua essência. Caminhando por suas ruelas de pedra, entre portas ornamentadas e brisas cálidas, ele sentiu a cidade penetrar sua alma. Mais tarde, escreveria: “Um conto de fadas tornado realidade. Ficará para sempre dentro de mim essa grande serenidade que me abraça”.





Sul profundo: trem, Tozeur e o Saara
No meu retorno a Túnis, o sol me recebeu com honrarias. O frio cedeu e a cidade parecia outra: cheia de vida, vozes e cores. Crianças corriam, cafés exalavam aromas e risos. A Medina despertava lentamente no primeiro dia do ano, como quem tateia um novo tempo. Na manhã seguinte, peguei o trem rumo ao sul. O destino: Metlaoui, em direção a Tozeur.
Sensações que transformam
Foram 14 horas num trem gelado, sem portas, com o assento quebrado. A “primeira classe” era uma ficção. Em cada sacolejo da locomotiva, havia um impulso rumo ao desconhecido ‒ e ao que ainda estava por vir.
Muito se fala sobre como a Tunísia teria influenciado Kandinsky no nascimento do abstracionismo, mas pouco se explica com clareza. O que há nessa terra capaz de remodelar o olhar de um artista? Não se trata apenas da tapeçaria berbere ou da arte dos povos do norte da África, mas de uma soma de sensações que atravessam o tempo e tocam o espírito. Compreendi isso em Tozeur ‒ uma cidade-oásis, que um mito local afirma ter sido fundada pelo neto de Noé após o Dilúvio.


Em Tozeur, há uma narrativa que paira no ar, suspensa no crepúsculo, como se o tempo hesitasse entre o dia e a noite. O pressentimento inquietante de que tudo o que vemos é um eco do passado, ou talvez de um futuro próximo. Ali, luz e matéria conspiram em uma coreografia geométrica, um “africacionismo” que sobrepõe camadas de tempo como tapetes amontoados em uma medina. Não é de estranhar que o próprio Kandinsky, décadas após a sua passagem pela região, a tenha descrito como um “ambiente fantasmagórico” ‒ o mesmo sentimento que me atravessou nessa cidade encantadora, perdida nas saias do Saara.
Reflexões finais: contrastes e sentimentos
Linhas, texturas, preces ao cair da tarde. A silhueta de um minarete contra um céu tingido de vermelho sangue. Como dar forma a esse turbilhão de sensações estilhaçadas sem recorrer à arte?
Apesar de todos os percalços ‒ e não foram poucos ‒, é impossível não olhar para a Tunísia com um grande apreço e admiração. Como sempre, manobrar as adversidades faz parte da jornada. Se nem tudo saiu como o esperado, a sensação que fica é a de que saiu diferente. Talvez melhor, mais intenso, mais verdadeiro do que eu jamais poderia ter planejado.
É um país de contrastes vívidos: das dunas do Saara ao azul hipnótico de Sidi Bou Said, passando pela generosidade do povo e pelo charme da comida de rua. Mesmo sob a chuva e o frio, algo me empurrava adiante pelas ruelas da Medina. Viajar, afinal, é um ato de fé.
Entre alegria, frustração e silêncio, contei meus passos como quem reza, e deixei o que não compreendi aos deuses antigos dessas terras.
Obrigado, Tunísia.

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Práticas Ambientais
- Redução de energia e água: Implementação de sistemas de construção que economizam energia e paisagismo eficiente no uso da água
- Gestão de resíduos: Programa de gerenciamento de resíduos, incluindo reciclagem e redução de desperdício de alimentos
- Eliminação de plásticos de uso único: Remoção de plásticos descartáveis, como amenidades de banheiro, recipientes de alimentos, talheres, copos, tampas e sacolas
Alimentação Sustentável
- Ingredientes locais e sazonais: Disponibilização de itens de menu locais, sustentáveis e sazonais.
- Produtos de origem ética: Oferta de frutos do mar obtidos de forma responsável e ética, ovos de galinhas criadas fora de gaiolas, além de opções veganas e vegetariana.
Envolvimento Comunitário
- Experiências culturais: Organização de passeios educacionais a locais naturais, culturais, históricos ou patrimoniais locais.
- Valorização de artistas locais: Exposição de obras de artistas e artesãos tunisianos em todo o hotel.
- Treinamento e voluntariado: Treinamento anual dos funcionários sobre conscientização do tráfico humano e participação em iniciativas de voluntariado comunitário, incluindo apoio ao Crescente Vermelho Tunisiano.
Práticas de Compra Sustentáveis
- Produtos ecológicos: Uso de produtos de limpeza com certificação ecológica.
- Apoio a produtores locais: A boutique do spa oferece produtos de criadores baseados na Tunísia, incluindo vestuário artesanal, velas e produtos naturais para cuidados com a pele.


