Era uma vez em novembro de 1982… Mês em que desembarquei sozinha para representar a Cotia Trading na Feira Internacional de Comércio Exterior, que acontecia todos os anos em Nova Délhi – a capital de um longínquo país chamado Índia. Meu coração estava em festa pela expectativa de ir a essa cidade, que me atraía já menina.
Desde então, fui mais de 40 vezes para lugares diversos na Índia, vivenciando experiências inéditas, coloridas, saborosas, repletas de devoção aos deuses do panteão e estudando a filosofia de grande sabedoria desse povo milenar.
A cada vez que por lá chego, me sinto em casa, totalmente à vontade com meus inúmeros amigos indianos. Adoro também levar grupos de alunos, que se encantam com um mundo e uma cultura tão diferentes dos nossos. De todas as viagens que fiz para a Índia, guardo lindas e específicas recordações. Mas o momento mais inesquecível foi a noite que passei no Deserto de Thar, no Rajastão.
Jaisalmer, no noroeste da Índia, é uma cidade medieval, considerada a porta de entrada para os que querem vivenciar a magia do deserto. E a palavra magia simboliza pouco, muito pouco, perante a profundidade da explosão de sentimentos desencadeada em cada coração. Mesas são montadas sobre as areias para o jantar, com iguarias e especiarias locais, dançarinas com roupas coloridas movem seus corpos sensualmente sob o luar e há música típica, com instrumentos indianos que acalentam os ouvidos.
Nossos cinco sentidos são alimentados por tantos estímulos externos que nos deixam estarrecidos com tanta beleza e esplendor. Mas isso não é tudo, e o melhor ainda está por vir.
Antes de me recolher às tendas, incrivelmente confortáveis, até por se tratar de um local tão inóspito, me deitei em tapetes, que foram espalhados sobre as areias para uma vivência inenarrável: de repente, olhei para o céu e senti meus batimentos cardíacos vacilarem por um instante, extasiada diante do milagre da natureza.
Vi um céu salpicado de bilhões de estrelas de primeira grandeza, que pareciam flutuar na imensa vastidão. Em meio à escuridão do deserto, as estrelas brilhavam ainda mais, parecendo pequenas libélulas resplandecentes. Então me veio à mente o questionamento: quem é esse ser, ou essa força, que tem o poder de criar as maravilhas deste mundo?
Fechei os olhos e uma calma me inundou, paradoxalmente trazendo uma sinfonia: os infinitos sons do silêncio.
Desde então, periodicamente me deito em meu tapete, fecho os olhos, me transporto mentalmente para o Deserto de Thar e ouço os sons do silêncio. E então o milagre acontece: cada uma das minhas células entra em bliss e em bem-aventurança com o universo.
Convido você, leitor, a ter a audácia de vivenciar essa experiência única. Você vai amar!