Namíbia: alma indomada

Uma aventura pelo ancestral e rigoroso Deserto do Namibe impacta pela profusão de contrastes, pela potência de seus cenários descomunais e pelo emocionante encontro com a resiliente história do povo Himba

Vista panorâmica do Deserto do Namibe, na Namíbia, com mar de dunas vermelhas ondulantes sob céu azul.

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Do céu, o imenso Mar de Dunas da Namíbia se desenha como um delírio óptico, que confunde a vista e instiga a mente. O cenário se assemelha a incontáveis espinhas dorsais conectadas por vértebras que formam uma corrente ondulada única, e em constante movimento. Aos poucos, o Rio Kuiseb surge no horizonte, demarcando abruptamente o fim dos mais de 30 mil quilômetros quadrados de areias avermelhadas.

Deserto do Namibe

Logo além de sua margem, ergue-se um panorama alvadio ‒ a minha primeira testemunha dos grandes contrastes das paisagens do deserto mais antigo do mundo, o Deserto do Namibe. Cruzar, pelos ares, seus quase 2 mil quilômetros de extensão me provoca o ímpeto de compreender seu excesso de nada. Até que, aos poucos, me dou conta de que o vazio não é sinônimo de ausência, e sim de intimidade.

As condições áridas e extremas do deserto serviram de inspiração para o batismo do país, em 1990. A palavra namib significa, na língua nàmá, “vasto lugar onde não há nada”, o que não só representa suas áreas amplas, mas também a escassez de pessoas em tanto espaço. Situada no sudoeste da África, entre Angola, Botsuana e África do Sul, a Namíbia, uma ex-colônia alemã, é um dos países com menor densidade populacional do mundo, com apenas três pessoas por quilômetro quadrado. O deserto se estende por toda a costa do país. Foi esse o cenário de uma fascinante jornada de 14 dias, impactada pelas paisagens planetárias e pela percepção das maneiras como os seres sobrevivem em um lugar tão áspero.

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Deadvlei, árvores fossilizadas sobre argila branca em Sossusvlei, Namíbia
O Deadvlei com árvores milenares
Interior do Wilderness Little Kulala integrado às dunas de Sossusvlei, Namíbia.
Ambiente do charmoso Wilderness Little Kulala

Terra Seca 

Vejo o primeiro nascer do sol ao longo do leito do Rio Tsauchab, ladeado por colinas de areia vermelha, que agora, vistas do solo, são colossais. Markus, meu guia, explica que a cor vem do quartzo recoberto por óxido de ferro e que o rio deságua em Sossusvlei, ou “pântano sem saída”. Encaro a subida da Duna Big Daddy, com mais de 320 m de altura. Sob um céu absurdamente azul, enxergar o fim das cristas se torna um desafio ‒ e a vontade é seguir caminhando por elas. Desço dando pequenos saltos, enquanto o solo arenoso me amortece, até que ele cede lugar à argila branca: o território de Deadvlei. O chão, rachado como uma porcelana antiga, guarda o que restou de um lago abundante, hoje guardado por árvores mortas, que seguem de pé, petrificadas pelo tempo e pela aridez.

Meu alento em meio à paisagem é o Wilderness Little Kulala, um oásis onde o luxo sussurra em sintonia com o silêncio e a vastidão ao redor. Suas vilas, de elegância discreta, parecem se diluir no deserto. Cada uma delas conta ainda com uma cama ao ar livre, onde me embalo todas as noites sob o cuidado das estrelas e dos chacais residentes. Além da localização privilegiada para quem quer desbravar Sossusvlei, a região do lodge se revela ainda mais mágica.

Área externa do Wilderness Little Kulala com vista para o deserto em Sossusvlei.
Outro ambiente do charmoso Little Kulala
Balão da Namib Sky Adventures sobre o Deserto do Namibe ao amanhecer.
Voo de balão sobre o deserto mais antigo do mundo

Voo de balão sobre o deserto

A aventura pode ser sobre um quadriciclo, enquanto se observam grupos de órixes (uma espécie de bovídeo nativo) ou avestruzes sob um pôr do sol incandescente, ou a bordo de uma cesta de balão da Namib Sky Adventures, com uma vista absolutamente singular. Quem desponta dessa vez são montanhas em tons pardacentos, espalhadas por uma planície bege, decorada pelos “círculos de fadas”, que são misteriosos anéis de vegetação cercados por gramíneas. É um desses fenômenos da natureza que nenhum humano consegue explicar.

Sabedoria Himba

Nosso próximo destino, ao extremo noroeste do país, é a insólita Serra Cafema. O pouso em uma pista de areia, flanqueada apenas por montanhas, antecipa o caráter remoto de nossa localização. O Wilderness Serra Cafema é o único meio de hospedagem por esses lados. Aninhado à beira do Rio Kunene, o lodge conta com uma estética mais aventureira, percebo, enquanto degusto uma Amarula com café e avisto Angola logo na outra margem do rio, repleto de crocodilos fluindo com a correnteza. 

Karime, mulher Himba com otjize e ornamentos tradicionais na região de Kunene, Namíbia.
Karime, mulher Himba, com ornamentos que simbolizam sua identidade
Deck do Wilderness Serra Cafema às margens do Rio Kunene, fronteira Namíbia–Angola.
Deck do Wilderness Serra Cafema
Tenda do Wilderness Serra Cafema com decoração aventureira na região de Kunene.
Tenda do Wilderness Serra Cafema
Leão macho Oupie na névoa do vale do Hoanib, deserto do noroeste da Namíbia.
O leão Oupie, predador de girafas na região

Esse território inóspito me proporciona um encontro inédito. Sua terra dourada e severa é morada de isolados vilarejos do povo Himba, um dos mais antigos do planeta. Tenho a oportunidade de visitar a miúda vila nômade de Karime, onde uma mulher monumental emerge de uma singela casa feita de barro, madeira e esterco. Seus cabelos e pele são protegidos e embelezados pelo otjize, uma mistura vermelha de ocre e gordura animal. Suas tradições, enraizadas na subsistência pastoril, na espiritualidade dos saberes anciãos e no cuidado delicado com o outro, me despertam para algo essencial: aqui a intimidade não é necessariamente um sinônimo de proximidade, mas de pertencimento atento e desacelerado.

Decido me aventurar de quadriciclo pelas jovens dunas de Serra Cafema. Do alto de uma delas, troco confissões com Clement, meu guia. Além dos lodges audaciosos, a Wilderness se diferencia por seus profissionais, sempre essenciais para enriquecer as experiências. Falamos sobre o valor incalculável do tempo e da discrepância entre os ciclos das formas da natureza e o de uma vida humana. A volta, no escuro, acende e acalma meus instintos, que são confortados com uma bela fogueira e um churrasco delicioso nos domínios do camp.

Mulheres Himba ao amanhecer, guardiãs de terras comunitárias no noroeste da Namíbia.
Mulheres Himba ao nascer do sol, guardiãs de suas terras e perpetuadoras do legado de seu povo

Evolução e Resiliência 

A chegada enevoada à região da Costa dos Esqueletos me remete a um lugar suspenso no tempo. Tempestades de areia tingem o horizonte, em tom sépia, como se tudo ao redor tivesse a mesma cor, mas em intensidades diferentes. Em alguns momentos, me imagino como se estivesse em Marte, mas logo as árvores e os animais me fazem aterrissar: ao contrário dos astros do universo, aqui a vida se concretiza de forma surpreendente. Vistas de fora, as tendas do Wilderness Hoanib parecem habitats futuristas, mas, por dentro, sua decoração acolhe.

A vida animal nesse parque nacional não é a expressão de força bruta, mas da arte da adaptação. Os animais possuem colorações diferentes, tamanhos menores e comportamentos mais resilientes se comparados aos que vivem nas savanas.

Ao longo do leito do Rio Hoanib, avisto girafas, guepardos e elefantes, mas é ao amanhecer que a figura de um leão surge na névoa. O animal parece exausto após uma noite saboreando sua presa, uma bela girafa, que, segundo Ben, meu guia, é o alimento predileto desse indivíduo específico. Observo enquanto uma leoa se aproxima e a escassez de comida se transforma em um pequeno confronto instintivo.

Girafas do deserto no leito do Rio Hoanib, adaptadas à aridez da Costa dos Esqueletos.
Grupo de girafas adaptadas ao deserto

Um voo panorâmico me desloca até a área do parque que encontra o Atlântico. O nevoeiro misterioso nasce do choque entre o ar quente do deserto e o ar frio da Corrente de Benguela, um vapor que se transforma, ao mesmo tempo, em fonte e risco de vida. Praias de pedras pretas servem de palco para colônias de lobos-marinhos e cemitérios de navios. Esses últimos, vítimas da natureza indomada da Namíbia, com suas correntes traiçoeiras e fortes ventos. No retorno, o infindável deserto explica, sem esforço, o motivo da baixa presença humana.

Manada de springboks correndo na concessão de Palmwag, Damaraland, Namíbia.
Springboks (espécie de antílope) correm pela concessão de Palmwag
Vista do Wilderness Desert Rhino Camp entre formações rochosas de Palmwag.
Wilderness Desert Rhino Camp

Grande Encontro 

Um inesperado carpete de grama vibrante, coberto de pequenas flores brancas, me recebe para o último destino ‒ a concessão de Palmwag, onde fica o elegante Wilderness Desert Rhino Camp. Feito de pedras terrosas, esse lodge tem uma missão especial, em um trabalho conjunto com as três comunidades locais e a ONG Save the Rhino Trust: proteger os raros rinocerontes-negros adaptados ao deserto. Para viver alguns minutos com eles, é preciso caminhar. Trata-se da maior comunidade de rinocerontes-negros adaptados ao deserto em liberdade no planeta, protegidos em uma área de 5,5 mil quilômetros quadrados.

Segundo Denso, um dos rangers, a ideia é que os viajantes se sintam parte da iniciativa. Tenho a sorte de avistar três deles, levando em conta que um dos encontros acontece após uma sequência de pistas coletadas. Trata-se de uma minuciosa investigação: numa paisagem de chapadas monumentais e cumes pontiagudos, os rangers captam as pegadas e determinam sua direção, encontram o local onde o animal tomou um banho de lama e onde marcou seu território, obliterando o rastro das fêmeas, até avistá-lo entre arbustos. Caminhamos a uma distância segura dele, perdendo-o de vista no topo da montanha.

Rinoceronte-negro do deserto “Arthur” em Palmwag, monitorado pelo Save the Rhino Trust.
Arthur, um dos poucos rinocerontes negros de Palmwag, no Wilderness Desert Rhino Camp
Ilustração editorial de Antônio Tavares representando a viagem pela Namíbia.
Ilustração: Antônio Tavares

A verdade é que a Wilderness vai além da hospitalidade: é uma empresa de conservação. Proteger os lugares onde atua, explorar com integridade e expandir suas áreas de preservação são os pilares que a mantêm em cenários tão indomados. O cuidado em contratar pessoas de comunidades fomenta novas oportunidades e tece vínculos com a natureza. Mais do que viajar, a Wilderness abre portas para ampliar a consciência sobre o nosso planeta.

Antes de embarcar de volta ao Brasil, uma parada na capital, Windhoek, onde me hospedo no The Olive Exclusive, hotel que faz uma transição serena para a volta à casa. Em um jantar íntimo, na companhia de Clement, recordamos memórias de dias inesquecíveis. Mergulhar na alma indomada da Namíbia transcende o significado de viajar e ressignifica a noção de pertencimento, uma vez que a existência deixa de ser individual e se torna um vínculo.

Matéria publicada na edição 20 da Revista UNQUIET.

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SUSTENTABILIDADE

Ações de conservação do meio ambiente e ações sociais

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Wilderness

  • Missão:  dobrar a quantidade de terras que ajudam a conservar até 2030. Hoje já protegem 2,3 milhões de hectares (6 milhões de acres) de terra.
  • Educação
    Fazem isso por meio de clubes ecológicos, currículo escolar e melhorias na infraestrutura, centros de alfabetização e outras iniciativas de educação ambiental.
  • Fortalecimento de laços
    O emprego e o apoio a pequenas empresas locais reduzem a dependência de recursos naturais. Isso atenua o impacto indireto sobre a natureza e a vida selvagem.
  • Proteção
    A coexistência entre homem e meio ambiente e os programas de segurança da vida selvagem. Proteger as pessoas da vida selvagem e a vida selvagem das pessoas.
  • Projeto Children in the Wilderness
    É uma organização sem fins lucrativos apoiada pelo grupo, cujo objetivo é facilitar a conservação sustentável por meio do desenvolvimento da liderança e da educação de crianças na África.
  • Projeto Wilderness Wildlife Trust
    Uma entidade independente sem fins lucrativos associada ao grupo, apoia uma grande variedade de projetos em toda a África. Os projetos e pesquisadores que apoiam atendem às necessidades das populações de vida selvagem existentes, buscam soluções para salvar espécies ameaçadas e oferecem educação e treinamento para a população local e suas comunidades.
  • O grupo concentra seu trabalho em três áreas principais:
  • Pesquisa e conservação – incluindo estudos de espécies, monitoramento de populações e compreensão de conflitos entre humanos e animais.
  • Capacitação e educação da comunidade – como a elevação da comunidade e o programa Children in the Wilderness.
  • Combate à caça ilegal e gerenciamento – incluindo pesquisas aéreas, unidades de combate à caça ilegal e aumento da capacidade dos pesquisadores em geral.
  • Dezenove de seus Lodges já são 100% alimentados por energia solar, e o objetivo é reduzir ainda mais a dependência de combustíveis fósseis, investindo em mais energia solar e em outras fontes de energia renováveis e eficientes. Também adotam soluções eficientes em termos de água em todas as propriedades, prestando muita atenção ao uso diário para preservar cada gota de água que os ecossistemas fornecem. As robustas estações de tratamento de esgoto trabalham para proteger os lençóis freáticos naturais dos resíduos que produzem. Também dizem não aos plásticos de uso único, à água engarrafada e ao desperdício de alimentos, fornecendo aos hóspedes garrafas de água reutilizáveis e adquirindo ingredientes do cardápio e outros suprimentos localmente, quando disponíveis.
  • wilderness.com/impact

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