Down Under: arte em Sydney, Austrália

Lar de alguns dos cenários e praias mais fotografados do planeta, a cidade australiana se tornou nas últimas décadas um centro artístico vivo e pulsante

Sydney, banhada por oceanos turquesa e coroada por céus de um azul profundo, é um convite a uma jornada artsy singular. Desembarcar na cidade mais famosa da Austrália nos coloca em um fuso horário distante, onde o tempo parece fluir em um ritmo próprio, ditado pela natureza indomável e pela cultura ancestral, que permeia cada canto da ilha-continente. O isolamento geográfico, que outrora a manteve distante dos olhos do mundo, moldou a arte australiana. Uma arte que floresceu com identidade própria, profundamente conectada à terra e à sua história primitiva. 

Se a beleza de uma cidade pode ser medida pela presença da natureza ou pelas construções do homem, em Sydney, em especial no grandioso Art Gallery of New South Wales, ela se revela em cada obra de arte. A influência europeia, um sopro do passado (desde os impressionistas até os artistas da vanguarda do século XX, mestres que o tempo consagrou), se tornou um dos pilares da arte contemporânea produzida por aqui. As pinceladas, cores e luz floresceram com vigor e virtude, traduzindo paisagens que só existem na cidade.

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Arte em Sydney, Austrália
O principal cartão-postal da cidade, a Baía de Sydney, com a Opera House ao fundo | Foto: Getty
Pavilhão com obras na área externa do Art Gallery of New South Wales

Identidade inspirada pela natureza

Apesar de profundamente marcada pela influência dos movimentos de vanguarda que surgiram na Europa, a arte australiana do século passado se destacou por artistas que pareciam ávidos por experimentar novas técnicas e expressões, absorvendo e reinterpretando as ideias dos modernistas europeus, adaptando-as à realidade australiana. Por isso, criou-se uma identidade artística única. 

A arte aborígene ‒ ancestral, profunda e reflexo de uma cultura passada há séculos somente de forma oral ‒, se entrelaçou com estilos como o impressionismo, de Monet, o cubismo, de Picasso e Braque, o expressionismo, de Munch, e a abstração, de Mondrian, em um todo harmonioso, em que a natureza, a terra e o mar inspiram a criação. Na Austrália, a arte é vida, um convite à imersão em um mundo à parte. Eu só pude compreender essa relação quando me aventurei pela primeira vez pelos principais museus da cidade.

Art Gallery of New South Wales, Austrália
Art Gallery of New South Wales

Testemunhas da conexão entre a Arte Australiana e o Mundo

A coleção da Art Gallery of New South Wales abrange a arte local e a internacional. Suas galerias, com pé-direito alto e iluminação natural, proporcionam uma experiência imersiva. Elas apresentam expoentes da celebrada arte aborígene atual em diálogo com obras de artistas contemporâneos de todas as nacionalidades. Uma linha do tempo das mais interessantes inclui impressionistas europeus e intrépidos artistas da ilha-continente que rumaram a Paris, capital do mundo da arte na virada do século XIX para o XX, trazendo para a Oceania influências que alterariam para sempre a arte australiana. 

Os trabalhos de John Russell, um dos primeiros artistas australianos a alcançar reconhecimento no Velho Mundo, foram enormemente influenciados pelos realistas franceses. Suas paisagens com vistas de Sydney revelam um olhar atento aos detalhes e uma paleta de cores vibrante. E. Phillips Fox, conhecido por seus retratos e suas cenas cotidianas, trouxe para a terra dos coalas a influência da pintura acadêmica europeia. Obras como A Família são exemplos de um realismo preciso e elegante. Já Charles Conder, um dos principais simbolistas australianos, tem obras marcadas por cores suaves e linhas sinuosas, que revelam uma sensibilidade poética, com um profundo amor pela natureza, que divide com seus conterrâneos.

Obra da coleção do Museu de Arte Contemporânea
Art Gallery of New South Wales
A fachada majestosa do Art Gallery of New South Wales | Foto: Karla Dickens

A arte aborígene, ancestral e profunda, se entrelaçou aos estilos e movimentos de vanguarda europeus

Com a chegada de muitos imigrantes no pós-Segunda Guerra, a Austrália enriqueceu ainda mais sua cena artística. Tony Tuckson, do Egito, trouxe a influência da arte islâmica e copta. Suas obras, com formas geométricas e cores vibrantes, são uma celebração da diversidade cultural. Ainda Tomescu, da Romênia, foi um expressionista abstrato que explorou a linguagem da cor e da forma, com pinceladas vigorosas e gestuais, transmitindo uma energia que remete a Pollock. Fred Williams, John Brack e Weaver Hawkins, juntamente com o mundialmente aclamado Sidney Nolan, são considerados os principais representantes da chamada Escola de Melbourne. Suas obras, muitas vezes satíricas e com um forte senso de ironia, exploram temas da identidade australiana e da vida diária. Nolan é famoso por suas séries de pinturas sobre Ned Kelly, um lendário fora da lei australiano. Marcadas por cores vibrantes e formas simplificadas, as telas de Nolan são um reflexo do espírito aventureiro e rebelde de seu povo.

Art Gallerry of New South Wales
Uma das salas do grandioso Art Gallery of New South Wales

Nancy Borlase, apesar de geograficamente separada dos artistas da nossa Semana de 1922, e com décadas de distância, compartilhava a influência das mesmas vanguardas europeias que Tarsila do Amaral. Tanto na Austrália quanto no Brasil, os artistas do começo do século XX buscavam criar uma arte que expressasse a identidade nacional e a cultura de seus povos. Borlase, com suas paisagens abstratas, explorou a essência de sua terra e a condição feminina do pré-Segunda Guerra. Ao compará-la com os nossos modernistas, me dou conta de que, mesmo em contextos geográficos e históricos distintos, artistas influenciados por movimentos globais ainda conseguem expressar uma identidade local, movidos pela força universal da criação.

Fundado em 1871, o AGNSW originalmente ocupava um edifício neoclássico, que ainda hoje abriga parte de sua coleção permanente. Essa estrutura imponente, com colunas e cúpula, é um reflexo do gosto estético da época. Ao longo dos anos, o museu passou por diversas expansões para acomodar sua crescente coleção. A mais recente e significativa delas foi a abertura do Sydney Modern Project, em 2022. Liderado pelo arquiteto Jean Nouvel, ele adicionou um novo edifício à galeria, conectando-o ao prédio histórico através do The Domain, um dos jardins públicos mais queridos da cidade. A nova estrutura, de formas sinuosas e materiais modernos, cria um diálogo interessante com a construção histórica, celebrando tanto o passado quanto o futuro da arte.

Museu de arte contemporânea de Austrália (MCA)
A fachada do Museu de Arte Contemporânea Austrália (MCA)
Museu de Ate contemporânea de Sydney, Austrália
Exposição em cartaz no Museu de Arte Contemporânea Austrália

A arte que brota da baía

Outro exemplo emblemático dessa simbiose entre arte e arquitetura é o Museum of Contemporary Art Australia (MCA). Com sua fachada de vidro, que espelha as águas cintilantes da icônica Baía de Sydney, o MCA se tornou um novo cartão-postal da cidade, rivalizando em beleza com a famosa Opera House. As exposições abrangem desde o modernismo até a arte contemporânea australiana e internacional.

O MCA se orgulha de exibir uma coleção impressionante de artistas contemporâneos do país. Nomes como Tracey Moffatt, conhecida por suas fotografias e filmes que exploram temas de identidade e representação, e Gordon Bennett, cujas pinturas abordam questões de história colonial e pós-colonial, são destaques. A arte aborígene também tem lugar de destaque no MCA, com telas de artistas renomados, como Emily Kame Kngwarreye, mestre do pontilhismo e das cores vibrantes, e Rover Thomas, cujas pinturas abstratas retratam a paisagem e a cultura de seu povo.

Uma exposição no MCA

O MCA tem uma programação cultural diversificada, incluindo exposições temporárias de grandes nomes da arte contemporânea atual, como as recentes dedicadas a artistas sul-coreanos, como Do Ho Suh, conferida em minha visita. Conhecido por suas instalações imersivas e delicadas, que exploram temas de identidade, espaço e migração, Suh cria réplicas de espaços arquitetônicos (casas, estúdios e passagens) com tecido translúcido, convidando o público a refletir sobre a natureza efêmera da memória e do lar. 

Uma mostra com o diálogo de artistas contemporâneos com a IA foi anunciada para o próximo verão. Data Dreams: Contemporary Art in the Age of AI (entre 21 de novembro de 2025 a 26 de abril de 2026) promete ser uma das exposições mais concorridas, e na estação mais solar. 

Universo artístico na Austrália
Os três ícones que marcam o skyline de Sydney: a Harbour Bridge, o MCA e a Opera House | Foto: Getty

Invasão artsy no verão de Sydney

Lar de alguns dos cenários e praias mais fotografados do planeta, Sydney se tornou nas últimas décadas uma cidade artística viva e pulsante. Ao planejar a viagem durante o verão, a temporada preferida dos brasileiros por aqui, é altamente recomendado conferir a programação do Sydney Festival (entre a primeira e a terceira semana de janeiro). O evento reúne exposições de arte em galpões e galerias espalhados pela cidade, com performances ao vivo de artistas musicais e multimídias e intervenções urbanas, colorindo as ruas com muita criatividade. É uma ótima oportunidade para imergir na efervescente cena artística local, entre uma praia e outra.

Aproveite o isolamento do fuso down under para contemplar, com a máxima atenção e presença, uma das cidades que mais conseguiram combinar urbanismo, natureza e muita arte e cultura. É verdade que a distância geográfica pode parecer um obstáculo, demandando longas horas de voo para cruzar o globo. Mas acredite: cada minuto investido nessa jornada é recompensado. Sydney é a cidade onde os dias se estendem em um ritmo próprio, embalados pela força do oceano e pela energia vibrante de um centro que pulsa em sintonia com a arte e a natureza.  

Matéria publicada na edição 18 da Revista UNQUIET.

Ilustração: Antônio Tavares
Yasmin Smith Austrália
Obra de Yasmin Smith | Foto: Jessica Maurer

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