Um país radical

Intersecção perfeita entre aventura e natureza, a Nova Zelândia oferece uma diversidade de opções esportivas, das caminhadas entre fiordes e lagos cristalinos aos radicais bungee jumpings mais cênicos do mundo

Em um dia corriqueiro de 1988, um jovem intrépido amarrou uma corda em seus tornozelos e saltou da Ponte Kawarau, em Queenstown, Nova Zelândia. A cena tinha tudo para ser catastrófica, mas foi épica. O jovem era Henry van Asch e, nesse dia, ele criou o bungee jumping, um dos esportes radicais mais desejados de todos os tempos. Sua inspiração foram as tribos indígenas da Ilha Pentecost, em Vanuatu, onde homens saltavam de torres de madeiras com cipós amarrados aos tornozelos, um ato que simbolizava a coragem e a fertilidade. Desde que Van Asch comercializou o salto livre, ele se expandiu mundo afora, mas a Nova Zelândia continuou sendo o epicentro do esporte. São mais de dez locais populares para os saltos livres, embora o Bungee Kawarau Bridge continue sendo o mais famoso.

Ainda que o bungee jumping seja o carro-chefe da indústria de aventuras neozelandesa, há muitos outros atrativos que rendem ao país a fama de capital mundial dos esportes radicais. A terra kiwi é uma referência também em diversas modalidades de aventura graças à sua natureza cênica, ao seu know-how no gerenciamento de esportes de alto risco e ao exímio talento de seu povo para desenvolver uma indústria que usa a natureza como a sua principal aliada, e ainda assim não a agride ou a polui visualmente.

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Trekking em meio à floresta de Fiordland National Park | Foto: Getty
Vista sobre a paisagem do Fiordland National Park | Foto: getty

Natureza no comando

Pano de fundo de algumas das trilhas mais belas do mundo e Patrimônio da Humanidade pela Unesco, o Fiordland National Park, no sudoeste da Ilha Sul, chama a atenção pelo caráter dramático e intocado de sua vastidão. Fiordes imponentes, vales profundos e lagos de águas cristalinas são o cenário de caminhadas deslumbrantes. A mais famosa delas, não à toa, é a Milford Track, conhecida também como “a trilha mais bonita do mundo”. São aproximadamente quatro dias para percorrer seus 53,5 km, através de paisagens edênicas, fiordes, cachoeiras, picos alpinos e florestas vultosas, e em sintonia com infindas espécies de aves e peixes. A maioria dos caminhantes se hospeda nos abrigos do Departamento de Conservação da Nova Zelândia, que é responsável pelo controle e cuidado da trilha, para evitar ter de carregar equipamentos pesados de camping

Casal observa o fenômeno Glow Worm na caverna de Waipu, em Waitom | Foto: Getty

Para quem quer levar a adrenalina ao extremo (e experimentá-la durante um longo período), a região das cavernas de Waitomo, a cerca de três horas de carro de Auckland, é uma escolha certeira. Todos os anos, milhares de pessoas se deslocam até lá para fazer rafting em rios subterrâneos, sob a mais completa escuridão, saltar de cachoeiras, atravessar espaços estreitos e fazer rapel. A aventura e o itinerário do rafting Black Labyrinth têm uma recompensa à altura do esforço: a visão dos glow worms
(insetos que brilham no escuro e transformam as paredes de rocha em um verdadeiro céu estrelado). Não é exagero dizer que a cena é um teletransporte para o espaço sideral. 

Outro esporte radical bastante popular no país, o paraquedismo também costuma fazer parte da bucket list dos aventureiros. O Skydive Abel Tasman salta sobre o Abel Tasman National Park, no extremo norte da Ilha Sul, e oferece uma vista excepcional de praias de areia dourada e florestas exuberantes. É também o único local onde é possível ver, das alturas, a Ilha Norte e a Ilha Sul ao mesmo tempo. Já o Skydive Queenstown pula sobre as montanhas nevadas e os lagos cristalinos característicos da região.

Papagaio Quia, típico da Nova Zelândia | Foto: Getty
A Mangapohue National Bridge nas cavernas de Waitomo | Foto: Getty
Salto De bungeej ump da Kawarau Bridge, onde o esporte foi inventado | Foto: Getty

Surfe Cênico 

Apesar de pouco conhecido e por vezes até subestimado, o surfe na Nova Zelândia oferece uma legião de “esquerdas perfeitas”, como se diz no vocabulário dos surfistas. Entre todas as praias, Piha, perto de Auckland, é a mais bem cotada para o esporte. Localizada na costa oeste, Piha assistiu ao nascimento do surfe na Nova Zelândia, no início da década de 1950, e hoje recebe competições nacionais e internacionais. Embora as águas possam parecer incrivelmente calmas, fortes correntes de retorno são comuns nesse trecho da costa, o que requer experiência e atenção. Na costa oposta, a pouco menos de três horas de viagem, na direção sudeste de Piha, está Mount Maunganui. The Mount, como a cidade é conhecida pelos locais, não tem mais o clima da pequena cidade costeira de outrora, porém a praia continua virgem e quase sempre deserta. O lugar é bastante conhecido por suas areias douradas e seus paredões de corais ‒ estar lá quando entra um grande swell é praticamente a garantia de um excelente dia de surfe.

Surfe em Piha, praia que é point do esporte perto de Auckland | Foto: Getty

Na parte selvagem da costa oeste está a lendária Raglan. A cidade gira em torno do estilo de vida do surfe, e as arrebentações ao longo de seu litoral alcançaram renome internacional. O local é conhecido pelas ondas rápidas e longas. 

Se os esportes de risco deram fama à Nova Zelândia, o potencial risco deles é igualmente divulgado e assegurado. Em 1974, os kiwis, baseados em uma mentalidade comunitária, estabeleceram a Accident Compensation Corporation. Dirigida pelo governo, a corporação concentra nela mesma o dever de assegurar aos turistas e aos locais a segurança financeira contra acidentes. As empresas pagam uma anuidade para financiar esse seguro e qualquer machucado ou grave acidente é coberto e respaldado financeiramente. 

Raros são os locais no mundo que sejam o cenário para a admiração e a aventura em igual medida. A Nova Zelândia figura com destaque nessa seleta lista. Sem esforço

O itinerário na Nova Zelândia pode conter aventuras para todos os ritmos e níveis de adrenalina em terra, sob a terra, no ar ou no mar

Salto de parapente | Foto: Getty
Ilustração: Antônio Tavares
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