Por Erik Sadao
Quando o barão de Gauville reconheceu, durante a Revolução Francesa, o lado da mesa onde jacobinos se sentavam ‒ na assembleia que daria o pontapé à criação da maior nação tricolor do planeta ‒, o termo esquerda passou a ser utilizado para conceitualizar um dos lados da balança em todas as democracias do mundo ocidental.
Alheia a visões políticas binárias do termo, utilizado para denominar o lado do cérebro mais usado por destros, a Rive Gauche faz bater mais forte o lado esquerdo do peito de quem visita, transita ou vive Paris, o meu inclusive.
Desde a reforma do formidável Lutetia, único hotel Palácio na Rive Gauche, e da reabertura do Le Bon Marché, uma verdadeira instituição parisiense para os amantes dos melhores sabores e dos últimos lançamentos da secular moda da cidade, os bairros localizados na margem esquerda do Rio Sena voltaram a receber hordas de boêmios, amantes das artes e shopaholics, e muitos se orgulham de passar dias na cidade sem pisar na margem droite do rio.
Confesso que sou um deles. Mesmo nas escapadas para conferir as exposições do Grand Palais, da Bourse de Commerce ou da Fundação Louis Vuitton, programo os minutos para explorar do 5º ao 7º e do 13º ao 15º arrondissements.
Comer longe dali está praticamente fora de questão. Mesmo com um sem-fim de pequenos restaurantes para explorar, hospedando-se ou não neste hotel lendário, é obrigatória uma parada na Brasserie do Lutetia para provar o famosíssimo frango assado, acompanhado por uma taça de branco da impressionante carta de vinhos selecionados para acompanhar os pratos criados pelo chef Patrick Charvet.
Ali do lado, uma filial dessa badalada boulangerie, símbolo contemporâneo de padaria parisiense, foi inaugurada recentemente e serve pâtisserie e comidinhas para deixar memórias mesmo em quem bate cartão em St. Germain.
Se existisse na época dos embates entre girondinos e jacobinos, o Bon Marché seria uma unanimidade. Não há como sair dele de mãos abanando. Além de itens das principais marcas, incluindo coleções de algumas das mais moderninhas, a seção de alimentos, a chocolateria e, claro, a charcuterie são a receita irresistível para o pecado do excesso de bagagem.
A caminhada entre o 6º e o 7º arrondissements é um deleite. Como se faltassem motivos para uma visita ao D’Orsay, a aguardada exposição Paris 1874 ‒ Inventer l’Impressionnisme estará em cartaz entre 26 de março e 14 de julho, no lendário vão que serve de lar para algumas das obras mais importantes expostas no maior divisor das artes do século XIX, o Salon des Refusés.
Do Quartier Latin para o Quartier Asiatique, as ruas revelam a miríade de culturas que se adaptaram ao modelo de café e galerias parisienses, parte da aura quase imbatível da “metrópole do charme”. Uma via inaugurada este ano é dedicada ao Camaleão do Rock. A Rue David Bowie deve atrair fãs do cantor britânico para esse lado do rio Sena, repleto de confeitarias e restaurantes asiáticos e uma aura artsy à la Nova York e Londres do final dos 1960, moldada por ateliês instalados em antigos frigoríficos.
Para quem é movido a arte, exposições e vernissages organizadas pelas galerias dos quarteirões e do entorno da Quai Voltaire dividem a atenção de transeuntes com algumas das lojas de design e curadorias das marcas mais legais da capital francesa. A Galerie Arcanes é especialista em cerâmica e mobiliário garimpados com o olhar de decoradores como Jacques Adnet e privilegia o design de pegada italiana dos anos 1970.
Se espaço na bagagem for um problema, é recomendado não entrar nessa livraria na Rua Bonaparte. Especializada em coffee table books de arte, moda, lifestyle e viagem, ela costuma exibir seus produtos com kits e caixas perfeitas para presentes impressionáveis.
Para o deleite absoluto do olfato, os produtos dessa histórica perfumaria, com vibe de farmácia do século XIX, têm fragrâncias marcantes e produtos de beleza com embalagens vintage feitas para colecionar.
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Paris é sempre uma boa ideia
Com tantas novidades surgindo lado a lado com verdadeiras instituições locais, não há como negar que Paris é sempre uma boa ideia e que os bairros da Rive Gauche são referências onipresentes quando se pensa no modo de vida local, seja no imaginário popular, seja em nossas melhores memórias da capital francesa.
Descobrir achados a alternar com os lendários cafés De Flore e Le Deux Magots é um hobby tão antigo quanto a rixa entre jacobinos e girondinos.
Benefício para leitores Unquiet
Hotel Lutetia
Welcome Amenity Especial de Boas Vindas e dicas curadas do concierge para as últimas novidades da Rive Gauche.
Validade: Março de 2025
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