Londres: A exposição sobre Sargent e moda na Tate


"Lady Helen Vincent, Viscondessa D'Abernon" (1904)

Exposição sobre Chanel em LondresCerca de 60 pinturas do artista estadunidense expatriado John Singer Sargent (1856-1925), considerado o “principal pintor de retratos de sua geração”, estão expostos na Tate Britain, em Londres, a partir desta quinta, 22 de fevereiro. O conjunto da exposição ‘Sargent’s Style: Portraits and Fashion’, distribuído por nove salas temáticas, inclui grandes retratos, que raramente são deslocados, e várias peças de vestuário e acessórios de época, estrategicamente expostos ao lado dos retratos correspondentes.

Para deleite de uns e olhares revirados de outros, a exposição lança uma nova abordagem sobre a obra de John Sargent ao explorar a forma como o pintor atuava também como um estilista para definir a imagem de seus  retratados – com quem muitas vezes tinha relação próxima –, escolhendo e ainda ajustando partes da indumentária vestida por eles nos quadros. Sargent chegava a criar detalhes e mudar cores dos trajes nas pinturas, até obter o resultado desejado. Não à toa, Andy Warhol (1928-1987) observou certa vez que Sargent fez todo mundo parecer glamouroso. Mais alto. Mais esguio.

Exposicão Sargent Londres
“Lady Agnew de Lochnaw” (1892) e “Sra Fiske Warren (Gretchen Osgood) E Sua Filha Rachel” (1903) | Reprodução

A abordagem gerou controvérsia no meio artístico – como um convidado bem-vestido que chega a uma festa monótona, trazendo uma animação necessária e provocando levantadas de sobrancelhas entre os presentes. Enquanto parte da crítica de arte argumenta que a mostra é obcecada pela moda (presumivelmente ofuscando a profundidade artística e o impacto emocional das pinturas de Sargent), a mídia especializada em moda ergue brindes orgulhosos a essa mistura inovadora, com seus champanhes metafóricos.

Para estes últimos, o ângulo da mostra  atrai dimensões antes inexploradas ao entendimento do trabalho de Sargent – ainda que esse novo olhar aconteça somente um século após a sua morte.

Sargent e a moda em exposição na TATE Londres
Nonchaloir (Repose), 1911 | Wikicommons

Crítica mordaz

No ‘The Guardian’, que classificou a exposição como “farsa tragicômica”, a curadoria de ‘Sargent’s Style: Portraits and Fashion’ foi criticada por não entender a arte do pintor, tratando-o como um retratista de moda, em vez de um artista relevante da vida moderna. Esse ranço é provavelmente alimentado em parte pelo fato de que arte e moda raramente são abordadas lado a lado em uma instituição de peso, ainda mais do porte da Tate Britain. Sem contar os longos séculos de descaso com detalhes e informações sobre o vestuário dos retratados em grandes obras.

Exposicão John Sargent Londres Tate
“Dr. Pozzi em casa'”(1881) e “Senhora Hugh Hammersley” (1892) | Reprodução

Já o cerne da apreciação positiva da imprensa de moda reside na habilidade de Sargent em capturar a opulência de sua época – não apenas por meio de seus retratados da alta sociedade, mas também pela representação meticulosa de tecidos e roupas: sua habilidade em retratar vividamente texturas, como a fluidez dos vestidos, é destacada em vários trabalhos expostos.

“Como jornalista de moda, o que me impressiona é a beleza da técnica de Sargent”, cravou Sarah Mower na Vogue Britânica, em uma longa e elogiosa reportagem sobre ‘Sargent’s Style: Portraits and Fashion’.

“A maneira como ele captura as texturas, a cor e o fluxo dos vestidos; o sussurrar quase sinestésico da seda, as dobras pesadas do cetim, a vibração do chiffon, a profunda palpabilidade do veludo que ele evoca. E todo esse movimento!”… “Como a exposição revela, Sargent manipulou a moda com a mesma fluência que usou seus pincéis de cabo longo para se gabar e correr em suas telas”, concluiu a jornalista.

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Vogue + Sargent + Kidman e Meisel

Ensaio para Vogue com Nicole Kidman e Sargent
Nicole Kidman no ensaio da Vogue: doses de imaginação com relação à obra original

Falando em Vogue e Sargent, em junho de 1999, a edição norte-americana da revista de moda publicou um editorial espetacular, pelas lentes do aclamado Steven Meisel. Nicole Kidman encenou uma série de reinterpretações dos retratos de John Singer Sargent, alternando entre a fidelidade e a imaginação – com o adendo da própria personalidade da atriz.

Já em 99, a confluência entre arte e moda esboçava uma perspectiva singular e atemporal do trabalho de Sargent.

Ensaio Vogue Nicole Kidman e Sargent
Kidman, retratada por Steven Meisel, aqui aparece fiel ao trabalho de Sargent, “Sra. Charles E. Inches” (Louise Pomeroy, 1887)

Identidade e personalidade

De acordo com a apresentação da Tate, Sargent usava a moda como ferramenta poderosa para expressar identidade e personalidade. E esse uso inovador do traje foi central em sua arte, permitindo a ele expressar sua visão como artista.

Exposição Sargent na Tate em Londres
“Lady Helen Vincent, Viscondessa D’Abernon” (1904) e “Madame X (Madame Pierre Gautreau, 1883-84) | Reprodução

Vale lembrar que, apesar de ter nascido em Florença e começado carreira em Paris, John Sargent, filho de pais estadunidenses, considerava Boston e Londres seus lares. E outra curiosidade: a alta costura surgiu em Paris durante o século XIX e foi estabelecida (e denominada) formalmente no início do século XX, coincidindo com a trajetória do pintor.

‘Sargent’s Style: Portraits and Fashion’ certamente ilumina as complexidades intrigantes do trabalho de John Singer Sargent e também a própria exposição da Tate. Independentemente das críticas, a mostra promete renovar a percepção da vida e da obra do artista, atraindo um público fascinado por moda e também admiradores de arte. Entre abotoaduras de ouro e laços de neón, todos encontram seu espaço.

 

TATE BRITAIN
De 22 de fevereiro a 7 de julho de 2024.
Ingressos: £22 / Grátis para membros

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