Argentina plena e extrema

Desbravar a região norte do país, em uma roadtrip intercalada por trekkings de diferentes níveis, revela uma nova face de uma paisagem árida, feita de cerros, lagos, vales, um deserto de sal, vinhas e da rica herança da cultura pré-colombiana

Muito embora as paisagens áridas não façam parte da percepção primária dos brasileiros sobre a Argentina, que costuma ser lembrada pelas montanhas de picos nevados dos Andes, pelos lagos glaciais, pelas pradarias nos Pampas do sul e, claro, pelo agito da capital, Buenos Aires, é nela que se descortina a aventura sem precedentes que você vai ler a seguir. 

Como consequência de sua posição latitudinal tão distinta, a Argentina é lar de extremos. Vai desde áreas muito baixas, como a Laguna del Carbón, na província de Santa Cruz, que fica 105 m abaixo do nível do mar (um dos pontos mais baixos do planeta), até o Monte Aconcágua, em Mendoza, de 6.962 m de altura, o ponto mais alto do Hemisfério Sul.

Extrema na altitude, no clima e nas paisagens, a região norte da Argentina se estende pelas províncias de Salta, Jujuy, Catamarca, Tucumán e Santiago del Estero, todas muito próximas às fronteiras do Chile e da Bolívia. Salta e Jujuy são as duas mais extremas, e a partir delas fica mais rápido cruzar para a Bolívia do que voltar para a capital argentina. A região era parte do Império Inca na época da colônia. 

Desertos de sal tão brancos que mais parecem neve, montanhas esculpidas pelo vento nos mais variados formatos e marcadas por um arco-íris de cores, cactos gigantescos e dezenas de ruínas de civilizações pré-colombianas são um preâmbulo da paisagem arrebatadora das caminhadas, uma proposta obrigatória de quem visita a região e vai, inevitavelmente, se ver inundado pelo silêncio e pela exuberância natural.

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House of Jasmine 

Salta, cujo significado é “beleza” no idioma quéchua, não poderia ser o destino mais adequado para abrigar o elegante House of Jasmine. Aos pés da Cordilheira dos Andes, o hotel, que leva chancela da rede Relais & Châteaux, é intimista, embora ocupe uma enorme propriedade cercada de muito verde, entre árvores centenárias preservadas. São apenas 14 quartos, separados em três casas, um restaurante de cozinha orgânica, com assados suculentos e produtos direto da horta para a mesa, e um spa de espaço abundante. Entre as medidas de sustentabilidade, o House of Jasmine prioriza fornecedores locais e ainda abre espaço para que artistas de Salta ou das cidades no entorno se apresentem no hotel. Além disso, incentiva os hóspedes a conhecerem a região de bicicleta.

Benefício: Experiência gastronômica exclusiva preparada pelo chef do hotel com base na cozinha local de Salta e seus sabores.

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Validade: Benefício expirado
Flamingos em uma laguna em Catamarca
norte da argentina
Flavia Vitorino em trekking por Uquia

Cultura intacta em Salta 

A cidade de Salta é a capital da província que leva o mesmo nome. A maior cidade do norte da Argentina pode ser o ponto de partida de uma expedição de dez dias, entre roadtrip e trekkings em regiões distintas. Além de ter voos saindo de São Paulo, com uma rápida conexão em Buenos Aires, a cidade oferece uma programação mais tranquila antes das andanças, com muita história, arquitetura e vinho. Além dos antigos casarões, da Plaza Central e dos museus de arte, há o museu de Arqueologia de Alta Montanha, onde ficam as múmias ritualísticas incas encontradas no Pico Llullaillaco, de 6.739 m, na fronteira com o Chile. Também uma próspera região vinícola, o lugar tem a seu favor o tempo seco, com cerca de 300 dias de sol por ano, e a altitude. A torrontés é a uva por excelência da região, com bons vinhos brancos, que podem ser degustados em variados programas de visita às bodegas locais.

Pé na estrada – e nas trilhas 

Depois da ambientação cultural, histórica e enogastronômica, é chegada a hora da expedição. O ideal é dividir a programação em duas partes e, para ambas, será necessário alugar um veículo, de preferência um 4×4, ou contratar uma operação local que já possua veículos próprios. 

norte da argentina - Cafayate
Formações rochosas pelas estradas de Cachi e Cafayate

A primeira rota pode durar em torno de cinco dias e sai de Salta em direção à província de Jujuy e seus arredores. É ali que estão os trekkings mais variados, podendo se converter em travessias com pernoites ou caminhadas diárias com retorno aos pueblos locais, cada dia em um diferente.

O Pueblo de Tres Cruces, um pequeno povoado do departamento Humahuaca, é a marca para o começo da trilha do Espinazo del Diablo, com destino final à Ponte del Diablo, uma formação rochosa gigantesca, que faz uma ponte entre um lado e outro de uma espécie de conjunto de pedras e covas de cores claras, que estão acima dos 4 mil metros de altitude. A altitude elevada é, aliás, outro dos motivos pelos quais é preciso de pelo menos um ou dois dias de aclimatação em grandes cidades, como Salta e Jujuy, para evitar o famoso mal de soroche durante as caminhadas, um desafio maior do que as distâncias em si. 

O visual realmente impressiona. Durante o caminho é possível ter uma visão de 360 graus de toda a região, avistando vulcões e parte da Cordilheira dos Andes, e as formações da Ponte del Diablo surgem como uma surpresa final. O trecho total desse trekking é de cerca de 16 km, porém é uma subida que se inclina em 800 m no último trecho.

norte da argentina - vicunhas
Vicunhas

Pueblos e lendas 

Continuando pela Ruta Nacional 9, Uquia é outro povoado, de apenas 500 habitantes, que fica em uma região formada por um grande vale, com mais de 150 km de extensão, que engloba várias outras cidades e vilarejos, como Tilcara, Purmamarca e Maimará. É em Uquia que fica a Quebrada de las Señoritas, uma região de grutas, cavernas, formações rochosas e montanhas tão avermelhadas que chegam a embaralhar os olhos. 

Na mesma região, prepare-se para admirar as inúmeras cores das montanhas do Cerro Hornocal e do Cerro de Catorce Colores, em Humahuaca, que ficam acima dos 4 mil metros de altitude. Essas subidas devem, idealmente, ser feitas em 4×4, seguidas de caminhadas para explorar o local e assistir ao pôr do sol. 

norte da argentina - Deserto de Sal
Na Ruta 52, o Deserto de Sal, onde ficam os ojos del salar (piscinas naturais em tom turquesa), oferece uma das paisagens mais belas da região
Cactos da espécie cardón no parque Nacional los Cardones

Deserto de sal 

Situado na bela Ruta 52, que liga a Argentina ao Deserto do Atacama, está a área de Salinas Grandes de Jujuy, um deserto de sal a cerca de 3.450 m de altitude, que tem 320 km de largura. Em um cenário todo branco, as salinas são o resultado do acúmulo de sais minerais que descem da Cordilheira dos Andes. É possível explorá-lo a pé, pedalando ou de carro, mas é necessário (e obrigatório) a contratação de um guia local – a maioria deles são indígenas locais –, que controlam a entrada de turistas e também a extração de sal.

A caminhada sobre o salar é uma “viagem lisérgica”. Um silêncio que só é quebrado pelo barulho dos passos, já que a sensação é de flutuar na paisagem. Além do sal, o deserto possui pontos chamados ojos del salar, piscinas naturais com águas em tons turquesa, que formam contrastes incríveis.  

Para uma imersão ainda maior, é possível dormir nos domos aconchegantes do chamado Pristine Camps, um glamping cheio de estilo, que é também o único local para pernoite. O anoitecer convida a passeios sob um céu tão estrelado e tão límpido que possibilita avistar a Via Láctea. Fascinante. 

Caminhar é preciso 

Vivenciar e andar pela natureza vem se tornando, a cada dia, mais urgente: uma necessidade vital para a mente e para o espírito. E viagens desse tipo servem para provar como os desafios e a chance de conhecer com profundidade um lugar completam o prazer de caminhar. É preciso fôlego e disposição, é verdade, mas a recompensa chega a cada passo, e nesse caso estamos falando do trajeto entre a cidadezinha de Tilcara e Calilegua, em Jujuy.  

A travessia tem a duração total de quatro dias e 68 km, pernoitando em barracas e sacos de dormir e caminhando de seis a oito horas por dia, entre subidas e descidas e cenários que variam ao longo do percurso. A operação é feita por um grupo chamado Champaqui, que pode organizar saídas privadas ou em grupos. 

Natureza pungente 

Para a segunda parte da viagem, é preciso se deslocar através da Ruta 68, uma das estradas mais bonitas do país, que cruza enormes cânions e montanhas de coloração avermelhada e rochas curiosamente retorcidas, que formam uma paisagem bruta e árida à beira do Rio de Las Conchas, o segundo maior da Argentina. A estrada vai serpenteando por entre formações geológicas para a região da província de Salta, em uma alça que passa pelos pontos principais, que podem ser os locais de pernoite: as cidades de Cafayate e Cachi e o Parque Nacional de Los Cardones. 

Cafayate, a 180 km de Salta, tem 12 mil habitantes e é conhecida pela produção vinícola, embora esteja na altitude mais baixa da região, a apenas 1.600 m de altitude. Sua rota de vinhos é muito conhecida, estendendo-se até Molinos, cujos vinhedos atendem como os mais altos do mundo – a mais de 3 mil metros.

Pode-se optar por dois tipos de caminhada na região. A primeira é para explorar a Bodega El Esteco, que fica a apenas 3 km do centro da cidade, em uma grande mansão colonial, com uma vista para jardins, fincas e montanhas. A bodega é uma das mais premiadas da Argentina (e do mundo) e mantém um hotel em suas instalações: o prestigiado Patios de Cafayate é um cinco estrelas entre os melhores da província.

A segunda opção explora os entornos do Rio de Las Conchas e as formações mais curiosas, chamadas de Garganta del Diablo, Los Castillos, El Obelisco, El Fraile, El Sapo e Las Ventanas, entre outras. O Anfiteatro – uma abertura enorme, com um curioso efeito acústico – é a mais impressionante.

Seguindo pela Rota 40 em direção ao povoado de Cachi, o ponto alto é o Monumento Natural de Angastaco, na Quebrada de Las Flechas. Suas origens remontam a 15 ou 20 milhões de anos, e ele é formado por um lago que já não existe. Nesse período, placas tectônicas se levantaram e, com a ação do vento e da chuva, criaram as formas pontiagudas que se avistam hoje. Esses acidentes geológicos podem ser apreciados por vários quilômetros ao longo da estrada.

Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 09 da Revista UNQUIET.

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SUSTENTABILIDADE

Ações de conservação do meio ambiente e ações sociais

Saiba mais

House of Jasmines

# Reciclagem de folhas

# Horta ecológica

# Lâmpadas economizadoras de energia

# Reposição nos quartos de todas as garrafas plásticas

# Iluminação de despensas, casas de banho e descanso por detector de movimento

# cozinha que utiliza ingredientes naturais com produtos sazonais e cultivados no próprio hotel

# Fornecedores selecionados nas comunidades próximas

Terraço do intimista House of Jasmine
Piscina da House of Jasmines
Mapa: Antônio Tavares

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