Os campos de cima da serra, na extremidade nordeste do Rio Grande do Sul, perto da divisa com Santa Catarina, são formados por uma sucessão de morretes – as coxilhas, como preferem os gaúchos – em uma planície elevada, com altitude variando entre 900 a 1.200 metros, cortada por uma infinidade de riachos e cachoeiras.
É uma região de fazendas de gado, enfeitada aqui e ali por manchas de araucárias e com uma atração natural soberba, embora ainda pouco conhecida no país: os cânions.
Cambará do Sul, a 200 quilômetros de Porto Alegre, é a porta de entrada para vários desses desfiladeiros situados nos parques nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral. São José dos Ausentes, a 50 quilômetros dali, serve de base para outra série de abismos, que parecem cortados a faca, de tão vertiginosos. São José é uma cidade de apenas 3.300 habitantes, ainda mais perdida no mapa, mais alta que a sua vizinha, mais profundamente gaúcha e mais fria – é uma das poucas cidades brasileiras que não se surpreendem com a neve. E é pra lá que vamos.
Os cânions de São José dos Ausentes ficam um pouco distantes da cidade, o que significa que você terá de cruzar algumas fazendas – e abrir porteiras – para chegar até eles. Todos valem a visita, principalmente quando se tem à mão um Mitsubishi 4×4, que não estranha caminhos.
Comece pelo cânion Monte Negro, a 42 quilômetros do centro de São José dos Ausentes, que fica ao lado do pico de mesmo nome, que é o mais alto do estado, com 1.403 metros. Se a neblina atrapalhar a vista (ela pode subir a serra subitamente), tenha paciência e espere. Ou volte outra hora. Não vai se arrepender. Só com tempo bom você poderá ter ideia da real dimensão desse precipício – cuja borda se estende por quase um quilômetro – e ver até um pedacinho do litoral lá de cima. Se tiver pique, arrisque a subida ao topo do monte Negro para ter uma foto ainda mais ampla.
Para não ficar preso a horários, providencie lanches e bebidas para passar o dia. Caso dê sorte e encerre o passeio ao monte Negro ainda pela manhã, você pode almoçar na pousada Monte Negro, que fica perto. Num caso ou no outro, vá conhecer depois o Desnível de Rios, um curioso local onde os rios Silveira e Divisa correm a poucos metros um do outro, mas com uma diferença de altura de 18 metros. Você não precisa embarcar numa excursão para chegar até lá, uma vez que tem seu próprio 4×4 para vencer o acesso ruim. O cachoeirão dos Rodrigues, de pouca água mas muita largura, também pode ser visitado no mesmo dia.
O Amola Faca, como o nome sugere, é outro cânion cortado com capricho pela natureza. Pouca gente o visita, porque o acesso é intransponível para carros de passeio e mal sinalizado. Para não se perder, informe-se bem sobre o caminho ou contrate um guia – basta levantar um dedo que eles aparecem. Fica a 33 quilômetros do Centro, sendo que o quilômetro final tem de ser feito a pé.
O terceiro cânion imperdível é o Boa Vista, com acesso controlado pela pousada Ecológica dos Cânions, onde você poderá combinar de almoçar mais tarde, se quiser. Paga-se pouco para entrar na área, que tem duas cachoeiras bem altas, a Boa Vista, que despenca de 310 metros de altura, e a Diagonal, de 260 metros.
Caso você fique mais de três dias na região, tem ainda um monte de cânions que podem ser visitados: o do Tabuleiro, Realengo, Coxilha, da Cruzinha e Pedra da Catedral. Você pode aproveitar também para fazer uma cavalgada – as pousadas locais alugam cavalos para passeios de algumas horas e a agência Campofora (campofora.com.br) organiza roteiros mais longos, de dois a dez dias, reservados com antecedência. Se quiser curtir um fogo de chão e, eventualmente, ver neve, faça a viagem entre junho e agosto. Para aproveitar os banhos de cachoeira, venha no verão. Mas no ano todo será bem-vindo.
Onde ficar (e comer) em São José dos Ausentes
Os restaurantes da região funcionam com serviço de bufê dentro das principais pousadas, que ficam na zona rural. No centro de São José dos Ausentes há apenas uma churrascaria singela, a Charqueadas, e lanchonetes.
A pousada Monte Negro (fazendamontenegro.com.br), na estrada do Monte Velho, no distrito de Silveira, tem as melhores acomodações da região, com destaque para sua suíte “Super Luxo”, com lareira e banheira. Entre os produtos caseiros estão a linguiça com pinhão, o queijo serrano e vários licores e compotas.
A pousada Fazenda Potreirinhos (fazendapotreirinhos.com.br), na estrada Fazenda Potreirinhos, tem acomodações simples, mas confortáveis. Prepara trutas saborosas e um farto café colonial.
A Pousada Fazenda Aparados da Serra, https://www.facebook.com/pousadaaparadosdaserra/, é vizinha da Monte Negro, na mesma estrada.
Outra opção no distrito de Silveira é a Pousada Altos da Serra, https://www.facebook.com/AltosdaSerraRS/. O carreteiro de charque é uma boa pedida no restaurante anexo.
A Pousada Ecológica dos Cânions, https://www.instagram.com/ecodoscannyons_pousada/, fica na estrada do Chapadão, também em Silveira, no caminho para o cânion Boa Vista.