Túnel do tempo caribenho
Com seu ar de túnel do tempo e o sonho da revolução popular ainda vivo, Havana segue sendo um destino imperdível. Os instagramáveis carrões coloridos dos anos 1950 continuam rodando pela cidade, o centro histórico de Habana Vieja é realmente deslumbrante e o povo extremamente amigável, sobretudo com brasileiros, tratados como “hermanos”.
Viajantes LGBT podem certamente se sentir seguros e seguras, mas Cuba nem é o “novo paraíso gay” como chegou a ser alardeado, nem o inferno homofóbico que já foi um dia. Muito pelo contrário. Foi-se o tempo que gays eram perseguidos como traidores do regime, como descreveu o escritor Reinaldo Arenas no clássico Antes Que Anoiteça. Muito dessa mudança se deve a Mariela Castro, filha de Raul Castro, feminista e diretora do Centro Nacional de Educação Sexual. A capital cubana chegou a ter algumas “congas anuais”, animadas Paradas contra Homofobia que reuniam centenas de pessoas no 17 de maio, mas foram proibidas pelo governo em 2019 sem maiores explicações.
Alguns bares e boates gays animados lembram um pouco os de cidades do interior do Brasil dos anos 1980. É o caso do Cabaret Las Vegas e seus divertidos shows de drag queens e “gogo boys”.
A internet continua rara, mesmo em hotéis. À noite, pequenas multidões se aglomeram em praças sem luz do Centro para acessar wi-fi gratuito. Por isso é muito difícil encontrar cubanos nos aplicativos de encontro e a paquera acontece abertamente na rua – em especial no Malecón, a famosa avenida e paredão beira-mar que lota nos fins de tarde e à noite. O difícil às vezes é distinguir se o interesse é real ou meramente monetário, situação vivida por todo turista gay ou não.
Nos finais de semana a praia de Mi Cayito, a 25 quilômetros do centro, é o ponto de encontro LGBT de turistas e habaneros. Os ônibus que saem a cada meia hora do belíssimo Parque Central já servem como uma espécie de esquenta praieiro.
Seguindo o Malecón fica Vedado, bairro com uma atmosfera mais moderna e menos turística, com jovens de piercing e cabelos coloridos pelas ruas e vários bares gay friendly. A porta de entrada é o Hotel Nacional, testemunho monumental do luxo em estilo hollywoodiano dos anos pré-revolução. Na outra ponta fica a Fábrica de Arte Cubano, um enorme complexo de pistas, palcos de shows, galerias, restaurantes e ambientes externos que foi considerado recentemente pela Time Magazine um dos 100 melhores lugares do mundo.
Em Habana Vieja, sobretudo nas ruas O’Reilly, Obispo e Peña Pobre, há uma concentração de charmosos cafés e restaurantes onde é possível comer bem, tomar ótimos mojitos e ver gente bonita. Mas a experiência gastronômica não será completa sem conhecer um paladar, os restaurantes improvisados em casas particulares cujo nome tem origem no restaurante da personagem Raquel de Vale Tudo. As novelas brasileiras, por sinal, continuam muito populares na ilha. Talvez você já tenha visto o mais lindo e cenográfico dos “paladares”, localizado no último andar de um prédio em ruínas no coração do Barrio Chino. O La Guarida foi cenário de Morango e Chocolate, o primeiro filme de temática gay produzido em Cuba. Sugiro que faça reserva para o último jantar da viagem, como celebração de uma aventura memorável.
Pride e Festivais:
O dia 17 de maio marcava a data das “Congas”, equivalente à Parada do Orgulho de Havana. Infelizmente, não há, no momento, expectativas de seu retorno.
Essencial Proudly UNQUIET:
Reservar um “paladar”, os restaurantes improvisados nas casas de moradores de Havana, é imprescindível para conhecer a essência da capital cubana.
Museus que recomendamos:
Para complementar a viagem, o Museu da Revolução mostra objetos e documentos que celebram a luta de Cuba contra a ditadura de Fulgencio Batista, nos anos 1950. Equipamentos de tortura, aviões, armamentos mostram uma luta de forças desiguais. O Granma Yatch usado por Fidel Castro quando retornou do exílio no México está exposto no jardim. Fãs do escritor americano Ernest Hemingway não podem deixar de visitar o Hemingway Museu, Finca Vígia, a casa de campo onde ele viveu até o fim de seus dias. Uma impressionante coleção de objetos e uma biblioteca pessoal com quase dez mil livros fazem companhia às espingardas e aos troféus de casa de Hemingway. O famoso iate Pilar também pode ser visto na residência. Construído pela coroa espanhola para proteger os bens do reinado, os prédios onde estão localizado o Museu de Belas Artes guardam a coleção internacional de arte da ilha. No Museu da Cidade, a luta cubana pela independência da Espanha pode ser acompanhada em uma linha do tempo repleta de objetos e registros.
Onde Ficar:
Gran Hotel Manzana Kempinski La Habana
O primeiro hotel de uma cadeia de luxo internacional inaugurado em Havana é um deleite arquitetônico, em homenagem à história e identidade da ilha. Seu concorrido bar no terraço já virou cartão-postal dos visitantes internacionais. O hotel se orgulha de sua imponente coleção de rum, por si, um motivo para elegê-lo como endereço na capital cubana.
Hotel Saratoga
Vintage e real, este hotel tipicamente cubano tem localização privilegiada em frente ao Edifício do Capitólio Nacional. Próximo, também, da esplanada de Malecón, o endereço mais agitado da noite cubana.
Idiomas oficiais: Castelhano
Moeda: Peso cubano