See you in May
Saímos de mala e cuia da penúltima sessão do Festival do Clube de Criação na Cinemateca de São Paulo direto para o aeroporto de Guarulhos. Não havia tempo a perder. O verão no hemisfério norte ia terminar em uma semana e com ele os últimos cruzeiros e passeios pelas geleiras do Alasca. Turistas LGBTs não costumam se prender às temporadas, mas, como constataríamos em breve, boa parte do estado americano simplesmente fecha no fim de setembro e só reabre em maio.
Chegamos em Anchorage, a maior cidade, e pegamos o carro a tempo de comer algo quente na Glacier Brewhouse, o lugar mais popular da região. Depois de degustar um giant king salmon com raspberry wheat, a cerveja local, fomos descansar do voo longo que teve escalas em Detroit e Seattle.
Muito cedo no dia seguinte, partimos em direção a Seward, de onde saem os cruzeiros para os fiordes e geleiras do Parque Nacional de Kenai.
Apesar de tecnicamente ainda ser verão, a temperatura era de 1 grau negativo. No caminho, lindas paisagens verdes e brancas em uma estrada cênica que prometia a possibilidade, não concretizada, de ver baleias. Compensamos a frustração em uma visita ao Alaska Wildlife Conservation Center, uma espécie de Simba Safári onde se vê bem de perto alces, bisões, raposas, bois almiscarados, linces, ursos e muitas outras espécies da fauna local com nomes sem tradução para português.
Bem ao lado fica o Alyeska Ski Resort, parcialmente desativado fora do inverno, de onde é possível subir de teleférico ao alto da montanha e ter uma vista do vale e de parte do complexo de pistas de esqui.
O charmoso porto de Seward tem lojinhas simpáticas e diversas opções de restaurantes. Em todos a especialidade é o king crab, caranguejo cujo tamanho superou todas as expectativas. Da mesma maneira, o cruzeiro que passou por uma sequência de geleiras gigantes e paisagens de tirar o fôlego, não decepciona.
Na volta a Anchorage passamos pelo cenográfico vilarejo de Hope, àquela época, um povoado fantasma. Na porta de absolutamente todos os estabelecimentos e casas a mesma placa: ‘See you in May‘. É que a população de parte das cidades do interior se muda do fim de setembro ao começo de maio para estados da costa oeste dos Estados Unidos para fugir do frio que chega a 50 graus negativos.
Descobrimos que o uso recreativo de cannabis é legal no Alasca e que há várias lojas pelo centro da cidade que oferecem uma miríade de variações do tema. Na região ficam os três bares em que se resume a cena gay local. Simpáticos, mas nada digno de nota.
A última parada da viagem foi Juneau, a capital do estado que só é acessível por avião ou navio. O centro histórico manteve as fachadas do casario original do final do século 19. Um dos destaques é o Red Dog, réplica de um salão da era da corrida do ouro. Não há bares ou lugares gays, apesar da reputação friendly da cidade.
A principal atração de Juneau é a deslumbrante geleira Mendenhall. Fica praticamente dentro da cidade. Ela chegava até o centro, mas com o aquecimento global das últimas décadas recuou mais de quatro quilômetros. É preciso tomar cuidado com ursos grandes passeando pelos bairros residenciais. Vimos mais de uma vez e confesso que a excitação vem junto com um certo medo. Para quem gosta de trilhas a região oferece muitas opções bem sinalizadas e com vistas surpreendentes, terminando em geleiras menores.
Com a partida do último navio da temporada, assistimos no dia seguinte ao fechamento do porto e da maioria dos comércios. Hora de encerrar a jornada. See you in May, quem sabe…
Pride e Festivais:
As celebrações do Orgulho LGBT em Anchorage são relativamente pequenas, mas acontecem durante todo o mês de junho com piqueniques, festas e uma simpática parada. O Alasca é um estado republicano raiz, conservador, mas desde 2014 reconhece direitos LGBT como casamento e legalizou o consumo médico de maconha em 1998. Foi o terceiro estado dos EUA que liberou uso recreativo, em 2014. A prefeitura de Anchorage tem um interessante programa que contrata drag queens que leem histórias infantis para crianças em bibliotecas públicas.
Essencial Proudly UNQUIET:
A melhor maneira de ver o melhor do Alasca é embarcando em um cruzeiro pela região. Navios pequenos acessam áreas de natureza intocada, impossíveis de se chegar de carro. As modalidades variam da aventura à contemplação.
Dica UNQUIET:
A melhor época para visitar o Alasca é nos meses mais quentes de verão, entre maio e setembro. Nesta época, os dias não são frios e com grandes períodos de luz. Entre 10 de maio e 2 de agosto, o sol não se põe na cidade de Barrow, localizada no extremo norte do estado. Para ver os ursos, viaje entre julho e setembro. A aurora boreal pode ser observada nos meses de setembro e março, quando as noites longas tomam conta da região.
Como explorar:
A maioria das companhias marítimas oferece programas completos para descobrir o Alasca. A Seabourn é famosa pela qualidade dos guias. A Silversea pela gastronomia. Já a Crystal oferece uma estrutura formidável em uma frota novíssima. Princess Cruises, Celebrity e Holland American são, também, excelentes opções.
Idiomas oficiais: Inglês
Moeda: Dólar americano
Clima: : Com clima subpolar, o Alasca tem invernos longos e extremamente frios, com muita neve e temperaturas mínimas que podem chegar a -30°C. No verão, a temperatura máxima fica acima de 20°C. Na estação mais quente, prepare-se para chuvas diárias. No extremo norte, o clima é polar.