Fernando Campana (1961-2022) 

Viajar com Fernando era sempre uma aventura

Viajar com Fernando era sempre uma aventura. Entre 2004 e 2010, fizemos seis workshops em Domaine de Boisbuchet. Situada a 400 km ao sul de Paris, é uma fundação dedicada a arquitetura, design e arte. Seu fundador, Alexander Von Vegesak, ex-diretor do Vitra Design Museum, nos convidou para ministrar programas de imersão de verão (Summer Workshops) para estudantes do mundo inteiro. O lugar é lindo, com obras de Shigeru Ban e Simon Vélez, uma casa tradicional japonesa e um pequeno café, abrigado num antigo moinho d’água, além de um castelo do século XIX, que funciona como espaço de exposições. A cada ano, nós fazíamos uma proposta diferente a partir de algum material que fosse a base do nosso trabalho. Em uma ocasião, usamos câmaras de pneus infláveis, em outra foram cordas etc. Na última edição, houve uma tempestade muito forte na região e não foi possível entregar os materiais para o tema escolhido. Fernando e eu chegamos à noite, vindos de São Paulo, cansados, e eu fiquei muito preocupado, pois as atividades precisavam começar na manhã seguinte e não tínhamos nada. Eu gosto de organização, e esses imprevistos me tiram do eixo. Nesse momento, meu irmão, que sempre foi mais ágil e inquieto, se deu conta de que a tempestade tinha deixado vários galhos de árvores quebrados pela propriedade. Então ele propôs a criação de pavilhões e objetos reaproveitando esses galhos, o que aconteceu ao longo dos cinco dias do workshop. Fez de um limão, uma limonada. Para o encerramento, ele deu a ideia de prepararmos uma festa, em vez de uma entrega formal de certificados, para a qual os alunos criaram cadeiras, castiçais, talheres e lustres. Costumes foram feitos e usados durante o jantar. Foi um dos projetos mais mágicos que realizamos lá, e teve o registro da conceituada fotógrafa alemã Deide Von Schaewen (autora do livro Inside Africa), que acompanhava os trabalhos. Fernando nem sempre era o melhor parceiro de viagem, pois tinha um gênio difícil. O caos era sua zona de conforto. Era ali que ele florescia, transbordava de ideias. Isso me dava muita segurança, pois eu podia sempre contar com ele nessas horas. Era como se tivesse um faro para encontrar a luz na escuridão, na adversidade, trazendo soluções criativas e sublimes.

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