O North Sea Jazz Festival, um dos eventos mais aguardados do ano, retornou a Rotterdam em julho, trazendo uma experiência sensorial para os amantes do jazz, da música e das artes. Esse pequeno festival ocorre na vibrante e moderna cidade portuária dos Países Baixos e celebra a diversidade e a riqueza do jazz, reunindo lendas do gênero e talentos emergentes em um ambiente cheio de energia e criatividade.
O line-up é sempre espetacular, e este ano não foi diferente. O festival, que faz dobradinha com o Montreux Jazz – acontecendo quase simultaneamente –, trouxe para o norte da Europa as maiores atrações que também se apresentam no famoso festival suíço. Entre os destaques estavam gigantes do estilo, como Herbie Hancock, cuja maestria ao piano continua a atrair novos públicos, que cativam gente de todas as idades há décadas. Kamasi Washington, com seu saxofone inovador, mais uma vez impressionou, com performances eletrizantes e composições que desafiam os limites do jazz tradicional.
Variado e vibrante
Assim como em Montreux, o North Sea Jazz Festival não se limita aos mestres consagrados. Ele abraça uma vasta gama de gêneros musicais, refletindo a evolução contínua do jazz e suas múltiplas influências. Performances de artistas contemporâneos, como Thundercat, com seu estilo único de fusion jazz e funk, e a talentosa Jessie Ware, que trouxe uma mistura de pop, R&B e soul, encantaram o público diversificado do evento.
Entre as apresentações que conferi, Jamie Cullum me surpreendeu com seu carisma e sua energia. Pensei que seria um show tranquilo, mas vi o palco se transformar em uma celebração musical com notas de jazz e hits ao piano, incluindo Everlasting Love, imortalizada na trilha sonora do segundo filme da franquia Bridget Jones. A cantora Raye, uma das artistas mais celebradas da geração Z, levantou a plateia com voz e presença de palco potentes, deixando claro por que é uma das estrelas em ascensão na cena musical global.
O Brasil foi muito bem representado também. Marisa Monte trouxe sua MPB conceitual para um show superconcorrido, enquanto Djavan encantou com clássicos da música brasileira, feitos para cantar junto. Outros destaques foram Mahalia, com sua poderosa voz, Joss Stone, com uma atitude soul hipnotizante, André 3000, e seu talento, estilo e energia de palco, e Sting, com um repertório repleto de hits atemporais, incluindo as amadas canções do The Police.
O Ahoy Rotterdam, local que hospeda o festival, transformou-se em um verdadeiro templo da música, com múltiplos palcos, que proporcionaram uma experiência tanto intimista quanto grandiosa.
A atmosfera era contagiante, permitindo que o público se envolvesse em melodias, improvisações audaciosas e ritmos hipnotizantes, enquanto passeava por espaços meticulosamente criados para lounges, pequenos palcos e muitos restaurantes.
Matéria publicada na edição 16 da Revista
Fãs e músicos interagem em uma série de atividades paralelas, como workshops, masterclasses e jam sessions, incluindo algumas surpresas ao ar livre. Feiras de discos e exposições de arte, com a presença de algumas das melhores galerias do país, completaram o cenário. O Kunstmuseum de Haia instalou no lounge principal uma recriação do ateliê de Mondrian, um confesso fã do estilo, com alguns de seus objetos pessoais e uma réplica de Victory Boogie Woogie, seu inconfundível último quadro, pintado em Nova York, onde o criador do neoplasticismo passou seus últimos dias, criando formas de simplicidade complexa, enquanto varava as noites dançando boogie-woogie e curtindo jazz.
Explorar o Ahoy entre um show e outro foi uma experiência sensorial de muito bom gosto. Uma impressionante gama de champanhe, oyster e caviar bars dividia o espaço com food trucks gourmet, que ofereciam delícias de diversas partes do mundo, incluindo as culinárias argentina, vietnamita, brasileira, indiana, etíope, nepalesa e colombiana, para citar algumas. Um dos wine bars se orgulhava de servir alguns ótimos rótulos holandeses, impossíveis de encontrar em outros mercados. Cada detalhe do evento contribuiu para uma imersão completa na cultura dos artistas presentes.
O North Sea Jazz é muito recomendado para fãs de jazz ou para quem aprecia a boa música em ambientes pensados com cuidado. Além da garantia de performances inesquecíveis e da descoberta de novos talentos, é um convite a se perder na magia do jazz, explorando também o paladar e a visão em uma das cidades mais dinâmicas e cosmopolitas da Europa. Já reservei para o próximo ano!