Conheci Keith Vincent, CEO da Wilderness, quando comecei minha carreira no turismo, há mais de 20 anos. Junto com Corinna Sagesser, publisher da UNQUIET, compartilho uma profunda admiração por esse visionário, comprometido com a conservação e o turismo sustentável na África. Sob sua liderança, a Wilderness recebeu inúmeros prêmios ao longo dos anos, incluindo o prestigiado Sustainable Tourism Leadership Award na última Virtuoso Travel Week. Esses reconhecimentos reafirmam o compromisso da companhia em proporcionar experiências de safári de classe mundial, enquanto preservam as áreas selvagens e apoiam as comunidades locais.
Unquiet: A Wilderness é conhecida por seu compromisso com a conservação. Você poderia compartilhar alguns dos projetos ambientais mais impactantes em que a empresa está atualmente envolvida?
Keith Vincent: Nosso maior impacto é o sucesso do modelo pioneiro de conservação e hospitalidade, que atualmente protege 6 milhões de acres (2,3 milhões de hectares) de terras. Nossa meta é dobrar essa área até 2030 e continuar usando nosso negócio para promover um impacto positivo e duradouro. Nossos programas de conservação e empoderamento comunitário se concentram em três pilares: Educar, Capacitar e Proteger. Nossos projetos de agricultura de conservação ensinam técnicas que protegem o solo e promovem a coexistência entre a vida selvagem e os agricultores. Através da Wilderness Trust, apoiamos a Claws em Botsuana, que desde 2013 ajudou a duplicar a população local de leões, graças a um sistema de alerta que protege as comunidades.
Há algum programa dedicado à educação que gostaria de destacar?
Um destaque do pilar Educar é o programa Children in the Wilderness (CITW), que há mais de 20 anos impacta a vida de mais de 20 mil crianças rurais. Essas crianças participam de Eco-Clubs em escolas próximas às áreas protegidas, e desde 2001 7,8 mil crianças são atendidas anualmente em nossos acampamentos de conservação. Além disso, treinamos mil professores e oferecemos bolsas de estudo a 600 crianças por ano.
Como vocês equilibram a necessidade do turismo com a imperatividade de conservar a vida selvagem e seus habitats?
Para que ecoturismo e conservação sejam mutuamente benéficos, é essencial um planejamento eficaz e deliberado. Na Wilderness, seguimos nossa Estratégia de Impacto, baseada em uma Teoria da Mudança que define claramente nossas ações e os resultados esperados. Monitoramos e relatamos esses resultados regularmente, promovendo as melhores práticas. Nossos Relatórios de Impacto por país estão disponíveis para demonstrar esses resultados e inspirar melhorias na indústria.
Expandir nosso modelo de turismo é essencial para proteger as últimas regiões selvagens do mundo
Você pode contar sobre as iniciativas da empresa para reduzir sua pegada de carbono e promover a sustentabilidade em suas operações?
Nossa Estratégia de Impacto define as áreas onde buscamos gerar impacto, começando com nossos camps e áreas selvagens privadas. Seguimos um rigoroso Padrão Mínimo Ambiental (GEMS) para construir, operar e descomissionar nossos camps, auditando-os duas vezes por ano para garantir 85% de conformidade com o padrão. Monitoramos nossa produção de resíduos e uso de combustíveis fósseis, visando melhorias contínuas. Fora de nossas operações diretas, o Wilderness Trust arrecada fundos para apoiar parceiros de conservação e elevação comunitária alinhados aos nossos objetivos. Nosso programa educacional CITW opera em todos os países em que atuamos e é um exemplo forte desse esforço. Esse trabalho é impulsionado por nossas equipes dedicadas de Impacto, estrategicamente localizadas em cada país onde operamos.
Como a tecnologia mudou a experiência de safári para seus clientes na última década?
Nos últimos anos, a tecnologia verde evoluiu, tornando a energia renovável a norma, com fazendas solares apoiando lodges remotos e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Estamos comprometidos em minimizar impactos ambientais negativos, enquanto promovemos a conservação e o empoderamento comunitário. A adoção de filtros de osmose reversa nos acampamentos também ajudou a eliminar o uso de garrafas plásticas. O mais gratificante é que essa tecnologia é visível em toda a nossa operação e nas interações com fornecedores e comunidades.
Há inovações tecnológicas novas que você está animado para integrar em seus safáris no futuro próximo? Como a Wilderness utiliza a tecnologia para melhorar os esforços de conservação?
Nossos esforços de conservação incluem o uso de tecnologia avançada, como colares de satélite e sistemas de alerta para proteger leões e elefantes, monitoramento Smart para combater a caça furtiva em Hwange, Zimbábue, e armadilhas fotográficas infravermelhas em Botsuana. Paralelamente, nossos acampamentos na África economizam mais de 5 milhões de kwh de energia anualmente com a adoção de energia solar e sistemas híbridos, evitando o uso de mais de 1,2 milhão de litros de diesel por ano.
Quais são os objetivos de longo prazo para a Wilderness em termos de expansão e desenvolvimento, incluindo atrair novas gerações para suas experiências?
Nosso objetivo é dobrar a área de terra protegida até 2030. Começamos com a abertura do acampamento móvel Wilderness Usawa, na Tanzânia, em 2023. Expandir nosso modelo de turismo para novas áreas é essencial para proteger as últimas regiões selvagens do mundo, beneficiando também as comunidades locais. Para atrair novas gerações, diversificamos nossa estratégia de mídia social e lançamos uma campanha de influenciadores. Além disso, fortalecemos nossas ofertas para viagens familiares e recém-casados, adaptando-nos ao crescimento das viagens multi-geracionais e proporcionando descontos atrativos para casais.
Pode compartilhar planos para novos lodges ou acampamentos que estão em desenvolvimento?
O novo Wilderness Mokete acabou de abrir este mês na concessão Mababe, em Botsuana. Também reconstruímos o Desert Rhino Camp, na Namíbia, e os acampamentos Tubu Tree e Little Tubu, também em Botsuana, que reabriram em julho passado. O Wilderness Bisate Reserve, perto do Parque Nacional dos Vulcões de Ruanda, está previsto para abrir em setembro de 2024.
Como você enxerga o futuro do modelo clássico de safári versus a experiência contemporânea em lodges?
Ambos os modelos coexistem na economia turística atual e futura, atendendo a diferentes demografias e atraindo diferentes tipos de viajantes de safári. O lodge contemporâneo oferece uma experiência focada no luxo, enquanto os acampamentos clássicos de safári, mais acessíveis, proporcionam uma estadia básica, mas confortável. Ambos têm seu lugar no futuro das experiências de safári, dependendo da preferência e do orçamento do viajante.
Qual é o processo de treinamento de seus guias e funcionários para garantir que eles atendam aos altos padrões da Wilderness?
Nos orgulhamos de contar com equipes excepcionais em nossos acampamentos, desde guias até chefs e pessoal de limpeza. Frequentemente, os hóspedes mencionam que nossos funcionários deixaram uma impressão ainda mais forte do que a vida selvagem. Investimos substancialmente no treinamento, incluindo a operação de uma Escola de Treinamento em Botsuana desde 2005. Nossos guias são selecionados pela paixão e conhecimento e são continuamente apriomorados por Guias Principais e Equipes de Treinamento, com cursos anuais que abordam tanto habilidades de interação quanto técnicas.
Pode falar sobre parcerias ou colaborações com comunidades locais ou organizações que ajudam a melhorar suas operações?
Trabalhamos com a Wilderness Vumbura Plains e o Okavango Community Trust em Botsuana, com Ecoexist e CLaws, a nossa parceria pioneira com a comunidade, e a Save the Rhino Trust no Desert Rhino Camp na Namíbia. Temos uma parceria comunitária na Wilderness Bisate em Ruanda para fornecimento local de alimentos e outros itens. A lista de parcerias é extensa e reflete nosso compromisso em trabalhar com as comunidades locais e organizações para promover a conservação e o desenvolvimento sustentável.
Pode destacar alguns de seus projetos ou lodges mais inovadores e explicar o que os torna únicos?
A Wilderness Ruanda tem sido uma jornada exemplar de turismo de conservação, com o lançamento de Bisate em 2017, Magashi em 2019, e nossos projetos de reflorestamento em Bisate e Gishwati. Em setembro, inauguraremos o Wilderness Bisate Reserve, reforçando nosso papel pioneiro no turismo de conservação em Ruanda. Na Namíbia, o novo Wilderness Desert Rhino Camp, em parceria com Save the Rhino Trust e Conservâncias Comunitárias, é outro exemplo de nossa dedicação. Em Botswana, nosso aclamado acampamento Mombo continua a se destacar globalmente.
Como a Wilderness incorpora design sustentável e operações em novos lodges e nos já existentes?
O design de interiores de cada acampamento é cuidadosamente planejado para refletir o ambiente natural e cultural ao redor. No Wilderness Little Kulala, na Namíbia, as cores e formas ecoam as do deserto, enquanto nos acampamentos Bisate e Magashi, em Ruanda, o design incorpora elementos tradicionais da cultura local, como a arquitetura inspirada no palácio do rei ruandês. Além disso, o propósito de cada acampamento é integrado ao design, como no DumaTau, em Botsuana, que destaca a proteção de espécies-chave. A sustentabilidade também é fundamental: muitos acampamentos são movidos a energia solar e construídos com uma pegada mínima, utilizando tecnologias para reduzir o uso de água e energia. Vimos que nossos hóspedes desejam se sentir parte do ambiente e aprender sobre culturas locais, e isso é refletido no design. Além disso, muitos de nossos acampamentos oferecem academias e spas para atender à crescente demanda por bem-estar durante as viagens.
Há projetos ou iniciativas futuras dos quais você está particularmente animado?
Estamos comprometidos em expandir nosso impacto positivo, tanto na África quanto globalmente. Este ano, estamos lançando novos acampamentos, como o Bisate Reserve, em Ruanda, e Mokete, em Botsuana, além de reconstruir o Desert Rhino Camp, na Namíbia, e os acampamentos Tubu Tree e Little Tubu, em Botsuana. Também estamos renovando o branding do nosso programa CITW e lançando um novo site para o Wilderness Trust, com vários novos projetos de impacto e um relatório de impacto holístico a ser publicado no final do ano.
Como enxerga o papel do ecoturismo evoluindo na próxima década?
Acreditamos que nosso modelo africano de turismo de conservação pode funcionar incrivelmente bem em muitos outros lugares, e pela primeira vez a Wilderness está considerando aquisições fora do continente africano. À medida que o ecoturismo continua a crescer em escala como uma ferramenta de conservação comercialmente viável, também será importante garantir um foco acentuado na gestão da pressão do turismo em paisagens selvagens intocadas. Essa será a próxima evolução crítica no ecoturismo.
Qual conselho daria a outras empresas na indústria de safári e ecoturismo, particularmente no Brasil, que desejam melhorar seus esforços de conservação?
É imperativo trabalhar lado a lado com as comunidades locais e partes interessadas para garantir que o modelo de turismo e os programas de conservação implementados beneficiem, em última análise, as comunidades locais. Isso também garantirá as experiências mais genuínas dos hóspedes, pois são trazidas à vida por pessoas que conhecem intimamente a área e são apaixonadas por sua sustentabilidade a longo prazo
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