Da Califórnia ao Chile: o Caçador de Ondas

Uma viagem inesquecível e um giro pelos sete melhores points de surfe da América Latina

A primeira vez que surfei no México foi em 1981. Lá se vão 42 anos. Eu tinha 18 anos e estava morando sozinho na Califórnia. Meu melhor amigo no Brasil, Rodrigo, veio me visitar, e saímos explorando a costa. Íamos os dois na minha moto, ele na garupa, carregando as pranchas com muita dificuldade debaixo dos braços. Quando chegamos a San Diego, decidimos cruzar a fronteira e dar uma esticada até Baja Califórnia, já adentrando o território mexicano. Acampados numa praia deserta por vários dias, esperamos por uma ondulação que demorou a chegar. 

As latas de sardinha já haviam acabado e nos restavam apenas meio pacote de macarrão e algumas bolachas, quando fomos despertados pelo barulho do mar enfurecido, chocando-se contra as pedras. Surfamos aquelas ondas de sonho por horas a fio, não nos importando com a temperatura gelada da água, a fome e a sede. Não dispúnhamos das necessárias roupas de borracha, mas éramos jovens e invencíveis.

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Da Califórnia ao Chile: os melhores points de surf
Hoje Puerto Escondido é um destino badalado, com bons hotéis, gastronomia de primeira e muitas opções de diversão
Surfe em Punta Mango El Salvador
Placa indica a vocação maior da região: o surfe

Naquele tempo, eu nem imaginava para que caminhos o destino me levaria, mas acabou acontecendo que, muito devido àquela aventura maluca, viajar em busca de ondas se tornou uma obsessão – que, por sorte, pude transformar também numa fonte de renda. Posso dizer que fiz disso a minha profissão.

Em 1987, também de moto, eu novamente parti da Califórnia rumo ao sul, só que dessa vez sozinho ‒ à parte minha prancha, que levei na garupa. Após oito meses, 25 mil quilômetros rodados e 14 países cruzados, cheguei ao Brasil. Várias matérias e um livro, Alma Panamericana, foram o resultado. Bem mais recentemente, resolvi que, 35 anos depois, havia chegado a hora de refazer esse trajeto. Em agosto de 2022, acelerei pela mesma rota, agora a bordo de uma minivan, com quatro pranchas na capota e uma bicicleta elétrica no rack traseiro. Dessa vez, a ideia foi captar material para fazer um documentário, que está com a sua edição em andamento.

Escolhi sete ondas para recomendar nesta matéria. Sendo sete o número da espiritualidade que tanto busco quando surfo”

Claro que deixei de fora vários lugares que mereciam figurar na lista. Tem muita onda boa para ser surfada nesse roteiro, mas acredito que o mais importante não é dizer ao leitor onde ele deve ir, e sim despertar nele a vontade de partir.

Da Califórnia ao Chile: surfe em Punta Mango
Amanhecer em Punta Mango, El Salvador

Puerto Escondido,  México 
Num dia de ondas grandes na Praia de Zicatela, em Puerto Escondido, você não precisa entrar no mar para sentir seu coração querendo sair pela boca. Só de observar os tubos gigantescos sendo desafiados por verdadeiros camicases sobre pranchas já é o suficiente para que os batimentos cardíacos disparem. Aliás, pense bem antes de entrar na água se não estiver no melhor do seu preparo físico e técnico. Os acidentes graves, fatais inclusive, são comuns, tamanha a violência das ondas. O certo é começar devagar e ir se adaptando à verticalidade das paredes de água e à velocidade com que quebram. A cada dia, você irá se sentir mais à vontade até estar apto a tentar a sorte num dos tubos, em que uma imagem sua será um troféu a ser guardado para o resto da vida. 

Punta Mango,  El Salvador 
O atual governo de El Salvador está investindo forte para tornar o país um dos principais destinos para surfistas do mundo todo. Os ativos mais importantes para esse ambicioso plano de marketing, batizado de Surf City, são suas ondas espetaculares. A mais conhecida é La Libertad, que fica na cidade portuária de mesmo nome, a meia hora do aeroporto internacional. Porém a que ganhou maior fama nos últimos anos é Punta Mango. Localizada quatro horas de carro mais ao sul, fica numa zona rural repleta de belas praias, que nos tempos da guerra civil não podiam ser acessadas. Por essa razão, ainda mantém um sedutor charme selvagem, que não deve durar muito. Com a qualidade das ondas de Punta Mango, e de outras praias vizinhas, como Las Flores, atraindo um número cada vez maior de investidores, um boom imobiliário e turístico está em andamento. Vá antes que seja tarde.

Da Califórnia ao Chile: cultura andina
A cultura andina, sempre presente em todo o Peru
Os melhores points de surf da Califórnia ao Chile
Placa que é um emblema para os surfistas: respeitar o meio ambiente, sempre

Playa Colorado,  Nicarágua 
Que tal se hospedar na Hacienda Iguana, um condomínio que conta com bons restaurantes, campo de golfe, piscinas, passeios a cavalo, agradáveis casas e apartamentos de frente para o mar, e ainda oferece como a cereja do bolo poder surfar num dos melhores tubos das Américas? A maioria das pessoas tem a percepção de que a Nicarágua é um país muito pobre, com um governo autoritário, que não respeita os direitos humanos, e que uma viagem para lá certamente acarreta muitos riscos. Correto para os dois primeiros itens, e longe da realidade o terceiro. A Nicarágua está entre os países mais seguros para receber surfistas da América Central e desenvolveu uma eficiente estrutura para esse tipo específico de visitante. Um dos melhores exemplos é a Hacienda Iguana, que tem nas ondas da Playa Colorado seu maior atrativo, com tudo para realizar as fantasias de qualquer caçador de tubos.

Salsa Brava,  Costa Rica 
Tendo morado na Costa Rica em duas oportunidades, somando quase cinco anos nesse país, que considero uma segunda casa, desenvolvi uma ligação profunda com as três ondas às quais mais me dediquei: Salsa Brava, Pavones e Roca Bruja. Estamos falando respectivamente de um fundo de coral, de um fundo de pedras e de um fundo de areia, ou seja, fica até difícil comparar, pois suas mecânicas são essencialmente diferentes. Todas picos capazes de produzir ondas de nível internacional, e cada uma com suas peculiaridades. Como tenho que escolher apenas uma dessas três ondas, vou ficar com Salsa Brava, em Puerto Viejo, por ser a mais intensa, com seus tubos profundos e desafiadores. Se você for à Costa Rica, tente surfar as três.

Da Califórnia ao Chile: Playa Colorado Nicaragua
Os tubos da Playa Colorado são famosos. Nicaragua

Santa Catalina,  Panamá
Chegar não é fácil, mas, depois de conhecer a beleza e a tranquilidade do lugar, juntamente com a perfeição de suas ondas, mais difícil ainda é ir embora. Um dos pioneiros de Santa Catalina foi o brasileiro Ítalo Izola, dono do Hostal Surfer’s Paradise. No final dos anos 1970, trabalhando com exportação e importação na Zona do Canal, na Cidade do Panamá, ele recebeu o convite de um amigo local para conhecer uma praia, que vinha sendo mantida em segredo devido a uma onda fenomenal que quebrava ali. Como é sabido, os surfistas são muito egoístas quando se trata de dividir ondas. Ítalo foi, conheceu a tal onda proibida de ser divulgada e se apaixonou por ela. Acabou comprando uma das propriedades mais bem situadas da praia. O tempo passou e, apesar do esforço contrário, mais e mais surfistas foram descobrindo o lugar, colocando Santa Catalina no mapa das melhores ondas centro-americanas como uma parada obrigatória. Hoje a pequena vila abriga competições internacionais, e Ítalo se tornou uma referência em hospedagem na região.

Chicama,  Peru 
Considerada a onda mais longa do mundo, situada no pequeno porto pesqueiro que leva o nome de Malabrigo, uma hora ao norte de Trujillo, Chicama é um desses lugares a que todo surfista deveria ir pelo menos uma vez na vida. A água fria, a paisagem desértica, o vento incessante, tudo contribui para reforçar a impressão de aspereza do ambiente. Mas, quando a série de ondas desponta no horizonte e se alinha, caminhando baía adentro, quebrando uma atrás da outra de forma simétrica, nada mais importa, somente pegar uma das ondas e percorrer quase 2 km em cima da prancha, até as pernas estarem doendo de tanto repetir manobras. Se antes o povoado era o próprio retrato do fim do mundo, um esforço coordenado pelos empresários fundadores do Chicama Boutique Hotel promoveu uma mudança radical na paisagem em terra. Hoje o visitante pode contar com uma variada oferta de boas hospedagens e restaurantes, com o Chicama Boutique Hotel puxando a fila.

Point de surf: Punta de Lobos
Punta de Lobos, a onda mais famosa do Chile
Da Califórnia ao Chile: Punta de Lobos
A boca incandescente do Vulcão Masaya
Vista externa e panorama de Santa Catalina, da pousada Hostal’s Surfer’s Paradise

Punta de Lobos,  Chile 
A onda mais icônica do Chile conta com uma ativa comunidade de surfistas locais, que se estabeleceu nas suas proximidades e vive da economia gerada pelo surfe. Protegida contra os efeitos da especulação imobiliária e do crescimento desordenado, toda a área costeira de frente para o pico foi transformada numa reserva natural. O que só foi possível após uma ação conjunta liderada pelo mais famoso surfista chileno, Ramon Navarro, que reuniu a ONG Save the Waves, a Fundación Punta de Lobos e a marca Patagonia. O movimento resultante conseguiu levantar dinheiro suficiente para comprar o enorme terreno bem de frente para as Duas Tetas, o par de enormes pedras que marcam a paisagem do lugar, com as ondas quebrando a seus pés. Se isso não tivesse sido feito, um hotel com dezenas de quartos teria sido construído, dificultando o acesso às ondas e implicando sabe-se lá quais consequências para o meio ambiente. Situada a poucos quilômetros da charmosa cidade de Pichilemu, Punta de Lobos é o epicentro do surfe chileno, com várias outras ondas de alta qualidade nas redondezas.  Não faltam bons lugares para se hospedar e comer, mas a melhor opção é o Hotel Alaia, com serviços de primeira, de surfista para surfista.

Chicama Peru, a onda mais longa do mundo
As linhas lendárias de Chicama, a onda mais longa do mundo

Da Califórnia ao Chile: impactar para o bem 

Sempre acreditei que viagens devem ser experiências de mão dupla. Não podemos apenas “retirar” dos lugares visitados. Temos que deixar também. Ao partir rumo ao Brasil, fiz uma parceria com os California Locos, um renomado coletivo de artistas consagrados na cena de rua de Los Angeles. A intenção era promover oficinas de arte ao longo da jornada. Eles enveloparam minha van com trabalhos do lendário Rick Griffin, que faz parte do grupo In Memoriam, e me proporcionaram kits para colorir inspirados nele. Sempre que possível, eu organizava um dia para reunir a garotada mais carente dos lugares por onde passava.

Os desafios encontrados numa viagem dessas por terra são inúmeros. Não importa o quão preparado você esteja, imprevistos irão ocorrer sem que você possa encontrar a solução, dependendo apenas dos seus recursos. Mais ainda se você for para a estrada em condições longe das ideais em termos financeiros e de transporte. O objetivo era esse mesmo, testar o quão longe eu poderia chegar com muito pouco. Fui bem além do que imaginava e isso só se tornou possível graças à solidariedade recebida durante o caminho. O ganho mais significativo que resultou dessa jornada foi uma fé renovada no ser humano. Muitas vezes é aquela pessoa mais humilde a que com mais generosidade vai te receber.

Clique aqui para ler a matéria na edição 13 da Revista UNQUIET.

Viagem de surfe: Hostals Surfers Paradise
Pousada Hostal’s Surfer’s Paradise, do brasileiro Ítalo Izola
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SUSTENTABILIDADE

Ações de conservação do meio ambiente e ações sociais

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Para apoiar a resiliência e o desenvolvimento sustentável dessas comunidades, os hotéis da rede Marriott investem na vitalidade de suas comunidades e recursos naturais, além de fornecer ajuda e apoio, especialmente em momentos de necessidade.

Vitalidade das Crianças
Mobilização de hospedes e associados no fornecimento de suporte a um seleto grupo de organizações sem fins lucrativos que lideram o caminho para apoiar crianças em todo o mundo. 

Envolvimento da Comunidade
“Servir Nosso Mundo” é um dos valores fundamentais e orienta como fazem negócios. Através do voluntariado, arrecadação de fundos, dinheiro e doações em espécie, os hotéis e associados em todo o mundo estão empenhados em fazer o bem em suas comunidades e causar um impacto significativo.

Auxílio em desastres
Quando ocorre um desastre, trabalham com os hotéis locais e organizações de socorro estabelecidas para avaliar, responder e fornecer ajuda.

Investimento em Capital Natural
Investimentos em iniciativas de biodiversidade, como restauração de corais, proteção de florestas tropicais e esforços de reflorestamento.

Reduzir os impactos ambientais
Minimização da pegada ambiental gerenciando de forma sustentável o uso de energia e água, reduzindo os resíduos e emissões de carbono e aumentando o uso de energia renovável. Emprego de tecnologias inovadoras para planejar, implementar, rastrear e comunicar como operar de forma responsável para mitigar os riscos relacionados ao clima, beneficiando os negócios e as comunidades nas quais operam.

Fonte responsável
O objetivo é reduzir o impacto ambiental e social negativo das atividades comerciais, concentrando-se no fornecimento sustentável, responsável e local.

Juventude
A Marriott trabalha para ajudar a resolver a questão global do desemprego juvenil e garantir um futuro melhor para a juventude do mundo, fazendo parcerias com organizações sem fins lucrativos para identificar, treinar e orientar jovens para carreiras significativas no setor hoteleiro.

“Viajar é uma das ferramentas mais poderosas para promover a paz e o entendimento cultural. Com uma presença global, é imperativo que realmente entendamos, respeitemos e acolhamos a todos. Por meio de parcerias, treinamento e educação, trabalhamos para elevar as viagens como catalisadoras da paz e da compreensão cultural – garantindo que nossos hotéis sejam um local de inclusão e conforto para todas as pessoas.”

serve360.marriott.com

Ilustração: Antônio Tavares

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