A água dos lagos é tão clara que espelha o contorno das montanhas. As trilhas seguem em ziguezague, passando por florestas mistas e trechos floridos. O som ambiente é o do vento, da água corrente e dos pássaros. No verão, os Alpes não descansam. As estações de esqui se transformam em parques de bicicleta e os lagos glaciais ganham remadores e pranchas de stand-up paddle. Trilhas que no inverno seriam intransitáveis revelam caminhos sob o céu limpo, com a vista permanente para os cumes, alguns ainda nevados, como o emblemático Mont Blanc. Ali o verão não é uma pausa entre temporadas, mas a época em que tudo se transforma. A natureza se mostra mais acessível e a montanha troca o desafio técnico do esqui pelo prazer prolongado de travessias, se transformando em uma plataforma para uma vida ao ar livre talvez menos veloz, porém igualmente intensa.
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Annecy: remar, pedalar e explorar
Entre o traço exato da fronteira suíça e o relevo dos
Alpes franceses, a cidade de Annecy se encaixa como um espaço geograficamente francês, mas com sotaque internacional. Fica a 40 minutos de Genebra e a cerca de 550 km de Paris, embora pareça mais próxima da natureza do que de qualquer centro urbano. Cair na estrada em direção a essa região alpina é uma experiência de transição geográfica e de visual intenso e contemplativo. Viver por ali é ter o privilégio de um ritmo de vida que equilibra natureza e funcionalidade. Não por acaso, Annecy foi eleita a melhor cidade para viver na França em 2020 segundo a publicação Le Journal du Dimanche.

Remar no Lago de Annecy é uma das formas mais sensoriais de compreender a geografia e a escala da região. Com uma área de 27,59 km², o lago glacial é um dos maiores da França e figura entre os mais limpos da Europa, protegido por políticas ambientais exemplares desde os anos 1960. Em um percurso de aproximadamente três horas de remo a partir de pontos como Veyrier-du-Lac e Talloires, foi possível explorar margens preservadas, enseadas silenciosas e trechos desafiadores, especialmente quando o vento sopra contra. Um dos pontos altos é remar diante da Reserva Natural do Roc de Chère, onde saliências calcárias cobertas de vegetação formam um teto natural sobre a água.
Se remar é uma experiência sensorial, explorar Annecy por suas trilhas é uma das formas mais honestas de conhecê-la. As trilhas por ali se adaptam a diferentes fôlegos: das caminhadas leves às subidas com exigência física. Uma das mais legais parte do vilarejo de Talloires, na margem leste do lago, e leva à Cascade d’Angon, uma queda-d’água de 60 m, que se esconde no fundo de um vale estreito. O percurso tem cerca de 4,7 km e, ao final, o som da água anunciando a chegada é tão marcante quanto a imagem da cascata, que surge de forma abrupta, moldando o ar ao redor com umidade e uma temperatura mais amena.


Pouco depois de o dia amanhecer, as margens do lago são ocupadas por ciclistas. Sozinhos ou em grupos, eles seguem em um movimento contínuo e silencioso. A ciclovia que acompanha o contorno do Lago de Annecy, conhecida como Voie Verte, tem mais de 40 km de extensão e transforma a paisagem em uma trilha visual: vilarejos com mercados matinais, praias escondidas e sombras móveis projetadas pelo relevo alpino. Ao atravessar o centro histórico, a rota se aproxima de Annecy em sua versão mais urbana: um núcleo medieval cortado por canais, pontes e fachadas floridas, que lhe rendeu o apelido de Veneza dos Alpes. O trajeto, quase sempre plano e asfaltado, é acessível mesmo para quem pedala sem ambições atléticas. Já quem busca esforço e ganho de altitude encontra nos arredores subidas mais técnicas, como a que leva ao Col de la Forclaz, um passo de montanha localizado acima do Lago de Annecy. Lá de cima, o lago se impõe novamente: amplo, silencioso e perfeitamente encaixado entre as montanhas.
O caminho que parte para a próxima parada, Megève, tem cerca de 65 km, com a média de 1h10 de viagem, e merece calma. Isso porque uma pausa pede tempo e atenção, a Grotte et Cascade de Seythenex: uma caverna calcária com uma cascata de mais de 45 m. Estalactites e formações esculpidas ao longo de milhares de anos acompanham o caminho, que pode ser percorrido com um guia local em cerca de 30 minutos. É um desvio rápido, mas que transforma a travessia entre Annecy e Megève numa pequena expedição geológica.


Megève: elegância alpina, cenário radical
Enquanto Annecy se espalha em torno do lago, Megève concentra tudo em torno da montanha. A vila, a mais de mil metros de altitude, parece suspensa em outro tempo. Com ruas de pedra, fachadas de madeira e um cenário que preserva, mesmo no verão, a arquitetura e o clima de inverno. Criada no início do século XX pela família Rothschild como uma resposta francesa a St. Moritz, Megève manteve a aura de destino sofisticado sem se tornar caricata.Com mais de 100 km de rotas sinalizadas para mountain bike e e-bike, Megève funciona como um parque de diversões alpino sobre duas rodas. As trilhas variam por trechos leves, por florestas e pastos, e percursos técnicos, com grandes desníveis e vistas panorâmicas. Entre os destaques estão o Tour du Jaillet, com 11 km e cerca de 360 m de ganho de altitude, e o extenso circuito Belvédères de Megève, com 45 km e mais de 2,3 mil metros de desnível positivo, ideal para os ciclistas experientes. Operadoras locais oferecem roteiros guiados com e-bikes full suspension e saídas ao nascer ou pôr do sol, combinando esforço físico, conforto e paisagem.

No coração de Megève, o Hôtel Cœur de Megève se destaca como um refúgio contemporâneo sem perder o charme alpino: são 38 suítes decoradas de madeira, ligadas por lounges acolhedores e pelo spa, com sauna, banho finlandês e tratamentos assinados pela Tata Harper, que ofereceu uma bela e silenciosa pausa após longos dias de pedal.
No verão, destinos moldados pela neve revelam outras camadas de beleza. Sem os excessos do inverno, as paisagens antes cobertas ganham textura, cor e tranquilidade. Caminhos se abrem, lagos se mostram e o tempo desacelera, como quem sabe que ali tudo dura pouco. É nessa brecha da temporada que a montanha respira e quem passa respira com ela.
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