Andréa Damato se lembra que tinha 18 anos e cursava produção editorial nas faculdades Anhembi Morumbi em São Paulo quando o pai deu a ela de presente uma viagem ao Pantanal Mato-Grossense.
“Foi minha primeira viagem de avião, levei uma câmera Olympus Pen e voltei enlouquecida”, conta. Tão enlouquecida que ao voltar aceitou o convite de um amigo para ser estagiária num estúdio de moda. Naqueles tempos analógicos, ela aprendeu a revelar filmes em laboratório e depois se tornou assistente de Araquém Alcântara. Finalmente, se aperfeiçoou no Curso Abril. Retratar o Brasil e a religiosidade dos brasileiros passou a ser seu objetivo.
Para isso Andréa, hoje com 48 anos, já contava com a ajuda de Conceição Rosa, sua avó. Católica, devota de são João e festeira, a casa de dona Conceição vivia lotada durante o mês de junho, entre novenas e trezenas. Ecumênica, sem preconceitos, foi ela quem levou a neta para conhecer um terreiro de umbanda. O gosto pelas fotos de Pierre Verger, Mario Cravo e José Medeiros ainda levaria Andréa a um mestrado em antropologia visual junto à comunidade afrodescendente Omo Ilê Agboulá na ilha de Itaparica, Bahia.
Seguidora dos preceitos do candomblé, Andréa levou mais de uma década para reunir as fotos deste ensaio. Que, batizado de Será o Benedito?, tornou-se um clássico instantâneo assim que foi exposto na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Nele pulsam as manifestações folclórico-religiosas de todo um continente chamado Brasil. Do maracatu de baque solto nordestino à festa do Divino, das cavalhadas na goiana Pirenópolis à congada da festa do Rosário, essas imagens revelam reis e rainhas, guerreiros e demônios, músicos e vaqueiros – numa prova incontestável de que o Deus brasileiro tem diversas cores.