Uma jornada literária pela capital da Bahia seguindo os passos do escritor Jorge Amado — e de seus amigos, Carybé e Pierre Verger
Por Daniel Nunes Gonçalves | Fotos: Andréa D’Amato
Pierre Verger, Jorge Amado e Carybé
A multidão se levantou como se fosse uma só pessoa, e a cena bem que podia estar em um livro de Jorge Amado. Assim que os primeiros toques dos tambores abriram os trabalhos espirituais no terreiro de candomblé Aganju, na periferia de Salvador, a plateia ficou em pé e passou a bater palmas e cantar junto. Era a Festa de Ogum, e os presentes entoavam os cânticos de boas-vindas a esse e a outros orixás, divindades de origem africana que representam as forças da natureza.
Em instantes, o ambiente de encantamento dominou o chão sagrado da cidade que melhor preserva as raízes africanas no Brasil. No centro da roda, cerca de 50 filhos de santo paramentados passaram a rodar e bailar. Segundo a crença dessa religião afro-brasileira, que tem seu berço principal na Bahia, as pessoas estavam incorporadas pelos espíritos dos deuses, que costumam vir cantar e dançar com os humanos que eles protegem.
Homenagem a Iemanjá na Colônia de Pescadores do Rio Vermelho, onde viveu Jorge Amado
O livro Jubiabá que atraiu Carybé e Verger à Salvador
Seguindo os personagens de Jubiabá
Ao pisar em um dos mais de mil terreiros de candomblé de Salvador, eu não estava somente sendo abençoado com o axé, como é conhecida a energia sagrada dos orixás. Aquela era mais uma experiência de imersão na cultura negra desse estado, onde 80% da população se reconhece preta ou parda.
Estar ali era parte da proposta deste roteiro cultural: mais que tomar sol nas praias, eu buscava conhecer a cidade dos livros de Jorge Amado (1912-2001), autor de clássicos da literatura brasileira, como Capitães de Areia e Tieta do Agreste.
Eu viajava com meus colegas do Clube Nomad, um grupo de leitura da agência de turismo Nomad Roots, que cria rotas literárias para destinos onde se passam as histórias lidas. Dessa vez, o livro estudado era Jubiabá. No terreiro Aganju, parecia que a qualquer momento iria se apresentar o pai de santo Jubiabá, líder espiritual que batiza a obra. Assim como quando visitamos outros terreiros famosos, o Casabranca e o Gantois, me senti quase o jovem Baldo, o personagem principal, seduzido pela beleza dos rituais mágicos da fascinante capital da Bahia.
Procissão católica no Centro Histórico de Salvador
Renovação dos espaços culturais
Do candomblé às rodas de capoeira, do acarajé ao Carnaval de rua, os ícones da cultura baiana, descritos de forma apaixonada nos 49 livros de Jorge Amado, foram surgindo à medida que descobríamos essa faceta literária de Salvador. Um dos maiores escritores da história do Brasil, Jorge nasceu em Itabuna, no sul do estado, e traduziu como ninguém o estilo de vida da capital, onde viveu a maior parte da vida. Enquanto caminhávamos pela Salvador contemporânea, com seu Centro Histórico cada vez mais revitalizado, recordamos as passagens de Jubiabá, lançado em 1935, quando Jorge tinha somente 23 anos.
No coração do Pelourinho, visitamos a recém-reformada Fundação Casa de Jorge Amado e assistimos à encenação de um trecho do livro. Entre as surpresas da jornada nas ladeiras de casarões coloridos, vimos e até tocamos com grupos de percussão e capoeira, além de acompanhar uma procissão e uma missa, que misturavam elementos de candomblé e cristianismo. Também visitamos as novidades de centros culturais como a Casa do Benin, a galeria no subsolo do Mercado Modelo e o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab).
O toque dos tambores segue embalando as ruas do pelourinho
O Forte São Diogo, na Praia da Barra, onde funciona o Espaço Carybé de Artes
Ambiente da Casa do Rio Vermelho, hoje transformada em museu
Inscrição que identifica o casarão
citado no livro Tenda dos Milagres: destaque na rota do Pelourinho
Embaixadores da cultura baiana
Na residência onde Jorge viveu com a mulher, Zélia Gattai, por quatro décadas, a Casa do Rio Vermelho, hoje transformada em museu, nosso grupo de leitores teve a exclusividade de ser recebido por ninguém menos que Paloma Amado, sua filha. “O livro Jubiabá atraiu para o Brasil artistas e intelectuais respeitados, que viraram amigos de papai, como o argentino Carybé e o francês Pierre Verger”, contou Paloma, entre relatos divertidos de memórias afetivas em família. “Também apaixonados pelo candomblé, esses dois estrangeiros acabaram se tornando soteropolitanos de coração e embaixadores da cultura baiana mundo afora”, explicou Adriana Lacerda, a Teté, curadora da rota literária. Outro livro que lemos, Carybé, Verger & Jorge, Obás da Bahia (Editora Solisluna, 2017), misturou lindamente as linguagens dos três amigos, com textos de Amado, fotos de Verger e ilustrações de Hector Bernabó, o nome de batismo de Carybé. Os três receberam o nobre título de “obás” do terreiro Afonjá por difundirem a cultura do candomblé.
O livro que reune a arte dos três gênios
No rastro de Carybé e Verger
Seguimos também, é claro, os passos desses dois obás. De Carybé (1911–1997), contemplamos as pinturas no saguão do Cine Glauber Rocha e as esculturas de concreto sobre a fachada do vizinho Edifício Bráulio Xavier, na Rua Chile — ao lado de dois dos hotéis mais refinados do Centro Histórico de Salvador, o Fasano e o Fera Palace. Belas obras de Carybé e Pierre Verger (1902–1996) estão no vasto acervo de artes de outro hotel próximo, o Wish, o antigo Hotel da Bahia. No bairro de Brotas, visitamos o lindo ateliê da Casa Carybé (aberto somente com agendamento), ouvindo histórias de seu neto Gabriel Bernabó e do assistente e amigo Bené Bomfim. Ali perto conhecemos a sede da Fundação Pierre Verger, a casa onde o francês viveu, que funciona como um centro cultural e de ações sociais. Ao final de uma semana conhecendo outra Salvador, entendemos que não é só Jorge Amado que segue vivo em sua Bahia, mas também seus seguidores e amigos Verger e Carybé. “Dei à Bahia o sábio e o artista, acha pouco? Tenho ou não motivo para vaidade?”, questionou Amado. Logo se corrigindo: “Quem os trouxe na barra do mistério foi o pai Jubiabá…”
Paloma Jorge Amado
A máquina de escrever de Jorge Amado
O restaurante do
Wish Hotel, cujo
destaque é o
painel de Genaro
de Carvalho
O tradicional edificio do jornal A Tarde hoje abriga o Hotel Fasano
O Grupo Fasano apoia o Projeto Arredondar por meio arrecadação de recursos e repasse às ONGs parceiras. Atualmente o projeto encontra-se implementado nos Hotéis Fasano Angra dos Reis, Boa Vista, Rio de Janeiro e São Paulo Jardins e Itaim. Os demais Hotéis estão em fase de implantação. O impacto da arrecadação do ano de 2023 corresponde a: (1) 733 crianças apoiadas integralmente durante um mês de estudo pela ONG AFESU. (2) 945 pacotes com 100 sementes de alface oferecido para as famílias atendidas pela ONG Instituto Melhores Dias. (3) 315 sacolas verdes com quatro verduras, 1kg de legumes e 1kg de frutas para as famílias assistidas pela ONG CREN.
Gestão de Resíduos
Mapeamento e destino adequado de cada resíduo com acompanhamento do ciclo completo de reúso, da metragem cúbica economizada em aterros sanitários e compensação da emissão de CO² na atmosfera.
Biodiversidade
Ações de cuidado com o Meio Ambiente e propagação de conhecimento junto ao hóspede, parceiros e colaboradores.
Plastic Free
Substituição de materiais em plástico por outras alternativas sustentáveis.
Horta Social Urbana
Projeto em parceria com a Arcah, para transformação de espaços ociosos em hortas orgânicas. Resgate, capacitação e reintegração social de pessoas em situação de rua.
Pontos de Recarga de Veículos Elétricos
O Grupo Fasano disponibiliza em 8 propriedades carregadores de carros elétricos oferecido como cortesia aos hóspedes.
Água e Energia
Os Hotéis e Restaurantes do Grupo Fasano possuem sistemas e ações voltadas à economia de energia e água.
Brasil Livre de Gaiolas
O Grupo Fasano assumiu o compromisso de utilizar e comercializar somente ovos oriundos de galinhas livres do confinamento em gaiolas em 100% das operações no Estado de São Paulo até 2023 e demais estados até 2024.
Comida Invisível
Os Restaurantes do Grupo Fasano fazem parte da plataforma Comida Invisível, que através de tecnologia, integração e processos conecta alimentos que perderam o valor comercial com quem precisa. Em todos os projetos, a plataforma certifica o impacto social (pessoas alimentadas) e ambiental (CO2 evitado), com a missão de reduzir o desperdício, a má distribuição de alimentos e contribuir para a diminuição de gases de efeito estufa no planeta.
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