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Às vezes, é preciso se afastar aos poucos do ruído, das filas, dos horários que espremem o dia como se fosse suco. Talvez por isso eu tenha escolhido o mar. Um cruzeiro entre as correntes do Bósforo e as ilhas do mar Egeu. É assim que começa essa viagem. Não com pressa ou euforia, mas com o vento morno do pré-verão soprando sobre Istambul, o ponto de partida dessa jornada, onde cúpulas e minaretes ainda guardam o fôlego de três impérios. Passei dois dias imersa em suas ruas, absorvendo seus sons, aromas e sua luz oblíqua, até o momento de embarcar. No porto de Gálata, nenhum tumulto, nenhuma pressa. E, de repente, já estou a bordo do Explora I, da Explora Journeys.
Em uma volta de reconhecimento, encontro restaurantes de diversas geografias, coquetéis criados sob medida e um corpo de hosts quase na proporção um‑para‑um, que garantem atenção sem ser invasivos.
Descubro também uma loja Rolex (a única em alto‑mar) dividindo espaço com vitrines Cartier e Panerai, todas livres de impostos.
Detalhes assim são fruto de um investimento de € 600 milhões e de entrevistas com 21 mil viajantes no mundo todo, incomodados com filas, barulho e cabines claustrofóbicas dos cruzeiros convencionais. A resposta da MSC foi a criação da marca Explora Journeys e seu primeiro “iate de grande porte”, capaz de atracar em portos que os mastodontes com cinco mil passageiros a bordo jamais alcançam.
Satisfeita a curiosidade inicial, recolho‑me antes que o relógio precise lembrar que já é madrugada.
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Explora Journeys
Benefício: Mimo de boas vindas e experiência preparada pelo time de concierges do cruzeiros especialmente para os leitores UNQUIET
- Use o código: UNQUIET
- Validade: Setembro de 2026


Harmonia em campanários
Após um dia inteiro de navegação, acordo com a luz filtrada por uma cortina de sal e silêncio. Nem percebi o mar durante a noite. A embarcação navegou sem alarde, como quem respeita o sono dos convidados, até atracar em Siros. Embora seja a capital das Cíclades, a ilha continua fora do radar e preserva um ar de segredo bem guardado. Em Hermópolis, sua sede administrativa, a silhueta é marcada por duas igrejas ortodóxas: a cúpula azul da Anástasis (Igreja da Ressurreição) e as torres creme de São Nicolau.
O dia se desenrola com calma, e é fácil perder a noção do tempo nesse lugar, de sotaque grego e perfume de figo seco. Há tempo para subir as escadas de mármore sem fôlego nem motivo, cruzar com gatos multicoloridos e preguiçosos e buganvílias escandalosamente vivas, que caem sobre varais e portas azuis.
Siros é feita de camadas: jônios, romanos, venezianos, otomanos, todos passaram. Alguns ficaram. Os venezianos, por exemplo, deixaram mais do que pedra.
Eles dominaram a ilha entre 1207 e 1537, e essa herança se reflete na forte comunidade católica que ainda vive em Siros. É por isso que aqui existem tanto igrejas ortodoxas quanto católicas, uma coexistência pacífica que é um diferencial em relação a outras ilhas gregas. Em Ano Syros, cidade alta fundada pelos venezianos no século XIII, a Catedral Católica de São Jorge (Agios Georgios) se ergue no topo da colina, dominando a paisagem.
À sombra de palacetes neoclássicos em Hermópolis, onde funcionaram a primeira escola pública e o primeiro correio da Grécia moderna, entendo por que o presente aqui parece tão leve. Talvez porque Siros não precisou de confrontos para existir como é.


História e tangerina
De madrugada, o navio cruza sem aviso a linha invisível que separa a Grécia e a Turquia. Acordo com uma cidade no horizonte, que parece feita de pedra e memória. Bodrum é assim, elegante sem tentar ser, um lugar onde o tempo se acomoda entre muralhas e cafés. No centro da cena está o Castelo de São Pedro, construído em 1406 pelos Cavaleiros Hospitalários. Suas torres falam idiomas diferentes (francês, espanhol, alemão), refletindo os cruzados que ali se revezaram. As pedras foram reaproveitadas do antigo Mausoléu de Halicarnasso, e provavelmente por isso cada bloco pareça carregar mais de uma história. Hoje o castelo abriga o Museu de Arqueologia Subaquática, nome que pode soar técnico demais para o que de fato se vê. Dentro, o Mediterrâneo reaparece em vitrines, com ânforas, joias, fragmentos.
Na saída, troco o sal da história pelo doce de um mandalinalı sorbe, o incontornável sorvete artesanal de tangerina protegido por Indicação Geográfica, feito com a fruta fresca, sem corantes. Seu sabor é tão puro que, por um instante, quase sinto o perfume do pomar. De volta ao navio, descubro que há aulas de história a bordo e penso em como tudo se encaixa, das ruínas aos livros e sabores. Uma forma de o passado não querer apenas ser lembrado, mas também vivido.



Mosaicos e charme medieval
O Sol ainda não subiu por completo quando Rodes surge na linha do mar. Antes de atravessar a cidade amuralhada, que resistiu a impérios, guerras e ao próprio tempo, sigo de carro para o Monte Smith e dou sorte de encontrar a Acrópole de Lindos quase deserta. Caminho entre ruínas autênticas e outras reerguidas com cuidado, tentando não só ver, mas sentir o que ficou.
Depois retorno e passo pelo Portão d’Amboise, um bastião de 1478, erguido para conter os canhões otomanos. Ele engole a gente devagar, dando a impressão de testar nossa disposição para o passado. São 4 km de muralhas góticas, reconhecidas pela Unesco, e mais do que isso: vivas. Rodes foi o lar de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, o Colosso, e quartel dos Cavaleiros Hospitalários, que aqui resistiram até Solimão, o Magnífico, cercar a cidade, em 1522.

Visito o Palácio do Grão-Mestre, onde os mosaicos romanos vindos da vizinha Kos brilham entre colunas e móveis de tempos cruzados. Percorro os salões com a sensação de estar em um livro de páginas pesadas, cujas palavras não foram feitas para ler com pressa. Lá fora, as ruelas mantêm outra espécie de memória, a das mãos, com oficinas artesanais que preservam a tradição cerâmica ítalo‑levantina e lojinhas de joias e decoração. O aroma de café grego é constante e convida à pausa. Aceito. Ao cair da noite, volto ao convés e, com uma taça de vinho retsina na mão, observo o Mar de Creta, prateado sob o luar. Por um instante, entendo por que fenícios, cruzados e otomanos se revezaram nessa ilha. Rodes não é só estratégica. É inevitável.



Berço de gênios
A manhã seguinte começa com Samos ao horizonte e o toque firme e ritmado das mãos de Rachel, uma terapeuta filipina do spa do navio, que aplica em mim a massagem Intense Muscle Release: liberação muscular profunda com óleos de aromaterapia. Saio quase levitando e, com os músculos em paz, decido ouvir o que Samos tem a dizer.
Desembarco sob o olhar de Pitágoras, esculpido em pedra no cais, e caminho por esse solo, que, desde o século VII a.C., já era próspero, com vinho e cerâmica jônica. É um chão que financiou o pensamento ‒ e não qualquer pensamento, mas desses que ousam inverter o céu. Pitágoras, claro. Mas também Aristarco, que, 200 anos depois, imaginaria um Sol no centro de tudo. Samos, descubro, sempre foi uma ilha de ideias.
No caminho, encontro o Pitagoreion e o Heraion (templo dedicado à deusa Hera) e o túnel de Eupalinos (feito de dentro para fora, em simetria perfeita) ). Fé, ciência e poder econômico caminharam (e ainda caminham) juntos por aqui. Na vila de Kokkari, o tempo se desacelera entre tavernas, jogos de tavli e prainhas de seixos. As encostas são forradas de vinhas, e o moscatel local, com denominação Samos (PDO), que tem seu festival em julho, repousa nas garrafas como um segredo doce. Volto ao navio com algumas delas na sacola e um caderninho mental cheio de teoremas.


Ter o dia inteiro para explorar cada destino é um prazer incomum em cruzeiros. Mas nesta viagem, chega-se pela manhã e parte-se à noite, o que permite não só desvendar as cidades, mas também absorver o essencial antes de retornar ao navio e jantar a bordo.
A gastronomia do Explora I, aliás, oferece nove restaurantes de estilos variados. Do Sakura, com sabores orientais, ao Marble & Co Grill, dedicado às carnes, cada espaço cria memórias gustativas que selam a jornada. Ainda posso sentir o charme dos cafés da manhã à francesa no Fil Rouge e as pausas nos momentos de pressa doce no Crema Café, com aroma de torra recente e pastéis de nata que degustei como souvenirs. E nas noites em que o cansaço era quase celebratório, o serviço de quarto 24 horas transformou meu terraço em um refúgio gastronômico: eu, as estrelas e um menu que ignorava o tempo.
Mármore e contemplação
Paros é a última parada antes de Atenas, epílogo clássico dessa viagem. A ilha não impressiona de imediato. Ela sossega. E isso, depois de tantos portos, é exatamente o que eu preciso. A capital, Parikia, se insinua gradualmente. Primeiro com seu moinho antigo à beira do porto. Depois com suas ruas estreitas, que se abrem em pátios, cafés e silêncios. Minha impressão é a de que Paros é feita de uma matéria que não se apressa, talvez porque seu tesouro sempre tenha estado sob os pés, e não nas fachadas. Elementar. Das pedreiras de Marathi, saía o mármore pariano, branco, translúcido, quase vivo. Um material tão raro que seus blocos geraram a Vênus de Milo e a Vitória de Samotrácia, hoje habitantes do Louvre.
Penso nisso a caminho da Praia de Parasporos, onde fica o Olvo,
restaurante do hotel Andronis Minois, de atmosfera minimalista mediterrânea. Peço um tagliolini com camarões, cujo sabor vai certamente me revisitar em sonhos por anos. À tarde, deixo que o tempo me carregue e me perco nas infinitas lojas. Depois, me acomodo em um dos múltiplos bares pé na areia, quase colados ao mar, onde o Sol se dissolve devagar no Egeu e os rostos ao redor parecem saber que essa luz não se repete. Ninguém corre, ninguém finge estar ocupado. A contemplação é uma tarefa coletiva.
Nesse silêncio compartilhado, entendo que a viagem não se moveu somente no espaço, mas também no tempo. Cada porto foi uma página. E agora, no fim da jornada, percebo que todas elas formam uma narrativa que não cabe em um roteiro. Nesses dias navegando pelo Egeu, também fui navegada por ele. O mar e seus séculos passaram por mim. Como o mármore que guarda luz, cada lembrança carrega uma transparência diferente. Viajar, afinal, é se aproximar. Do mrundo. Da história. E, se der sorte, de si.

Explora Journeys
Tecnologias “verde” nos navios
- Todos os navios da frota utilizam Selective Catalytic Reduction (SCR), reduzindo emissões de NOₓ em até 90 % explorajourneys.com.
- Todos os seis navios terão certificação RINA Dolphin, reduzindo significativamente o ruído subaquático e protegendo a fauna marinha explorajourneys.comCruise Trade News.
- Nos navios EXPLORA III e IV, está previsto o uso de GNL (gás natural liquefeito), com retrofit do casco para acomodar essa tecnologia Cadena SERCruise Trade NewsWikipedia.
- Os navios EXPLORA V e VI combinarão GNL com hidrogênio, utilizando sistemas criogênicos para permitir zero emissões enquanto estiverem atracados, por meio de células de combustível que geram energia do hotel sem motor ligado Cadena SERCruise Trade NewsWikipedia.
Eficiência energética e infraestrutura limpa
- Inclusão de shore-to-ship power, permitindo ligar-se à rede elétrica em porto e evitar operar motores — com aumento de pontos conectados de 44 em 2023 para 142 em 2024 seatrade-cruise.com.
- Uso de desalinizadoras, sistemas avançados de tratamento de água de lastro e resíduos, iluminação LED, HVAC inteligente, pintura anti-incrustação, entre outros — presentes nos navios EXPLORA I e II explorajourneys.comCadena SER.
- Otimização de itinerários e operação via ferramentas como OptiCruise e Oceanly Performance, que evitaram cerca de 50.000 toneladas de CO₂ seatrade-cruise.com.
Redução de plástico e apoio à conservação
- Abolição total de plásticos descartáveis, tanto a bordo quanto em experiências em terra explorajourneys.comDirect Travel Vacations.
- Parcerias com a MSC Foundation para apoiar causas ambientais, entre elas:
- Combate ao lixo marinho no Mediterrâneo via Marevivo;
- Programa Super Coral nas Bahamas para restaurar recifes de coral;
- ‘Ships of Hope’ na África, com a ONG Mercy Ships, oferecendo atendimento médico a comunidades remotas;
- Apoio à crise humanitária ucraniana Direct Travel Vacations+1.
- Oferece excursões de baixo impacto ambiental chamadas Protectours (284 em 2024), além de milhares de outras que priorizam sustentabilidade social e ambiental seatrade-cruise.com.
Ações Sociais e de Comunidade
Bem-estar da tripulação e diversidade
- Criação de um comitê de Diversidade & Inclusão, com tripulação de mais de 140 nacionalidades e índice de retenção elevado (89 %) seatrade-cruise.com.
- Programa de enriquecimento para os anfitriões a bordo, focado em qualidade de vida, equilíbrio e bem-estar Direct Travel Vacations+1.
Apoio a comunidades locais e cultura
- Parcerias com operadores locais certificados por práticas sustentáveis, visando benefícios culturais e econômicos aos destinos Direct Travel Vacations+1seatrade-cruise.com.
- A bordo, o conceito de varejo “The Journey” oferece mais de 30 marcas artesanais e sustentáveis — com certificações como B Corp e Butterfly Mark, valorizando o artesanato e a responsabilidade ambiental Moodie Davitt Report.
Educação do passageiro
- Promoção de experiências educacionais relacionadas à biologia marinha, oceanografia e práticas sustentáveis, incentivando o protagonismo dos viajantes na conservação Southampton Cruise Centre.
- Algumas excursões e programas convidam passageiros a participar em esforços de conservação oceanográfica ou a aprender sobre preservação ambiental Southampton Cruise Centreseatrade-cruise.com.


































































































































































