Quando cheguei a Reykjavík, já tinha feito a lição de casa. Assisti a séries policiais e documentários islandeses, fiz rotas virtuais no Google, reli lendas sobre vikings e vi muitos vlogs de nativos e imigrantes. Tenho o hábito de consumir um tanto de teoria antes de viver o local na prática, mas foi durante a pandemia que descobri que viajo do jeito como agora trabalhamos, isto é, de forma “híbrida”: uma parte presencial e outra em casa.
Sempre acreditei que a informação potencializa as experiências sensoriais, exatamente como acontece com os cardápios de restaurantes. Para mim, o texto do menu é o primeiro passo para degustar o prato. Arrisco dizer que a descrição antecipa a produção das enzimas para digerir aquele alimento específico.
Além das dicas de viagem que pego com amigos e em publicações especializadas, também busco aplicativos e pessoas locais em redes sociais. Foi assim que passei a seguir o perfil oficial da Polícia Metropolitana de Reykjavík no Instagram. A conta @logreglan, que virou um sucesso mundial e tem quase 200 mil seguidores, é o oposto de tudo o que esperaríamos da polícia. Tem fotos divertidas, descontraídas, com homens e mulheres de farda fazendo graça, mostrando cachorro, boneco de neve e arco-íris. Tem até policial segurando um patinho bebê. O conteúdo divertido tem uma clara explicação: a Islândia é um dos países mais seguros do mundo, com uma das menores taxas de criminalidade, o que deve garantir bastante tempo livre para a produção de conteúdo fofo. O país não tem exército, os policiais não andam armados e a pequena população de 325 mil habitantes tem um dos maiores índices de igualdade do mundo, em todos os sentidos.
Fiz todos os passeios de carro recomendados: as trilhas com cachoeiras impressionantes, gargantas com rios indescritíveis, praias de areia negra, geleiras, banhos de água quente, visitas a vulcões de nomes impronunciáveis, como aquele que fechou o espaço aéreo da Europa e me deixou retida dez dias em Berlim, em abril de 2010, o Eyjafjallajokull. Visitei museus, observatórios, ouvi concertos de órgão em igreja, comi bem e desfrutei dos longos dias de quase 22 horas de sol no verão. E, claro, como tricoteira, quase chorei de emoção com as lojas de lã em Reykjavík.
Em dado momento, quase sempre no fim da viagem, fiz a mesma pergunta que me acompanha aonde quer que eu vá, seja em Bangkok, Tallinn, Tel Aviv ou Sorocaba:
— Eu moraria aqui?
Porque há lugares para onde se vai sempre que possível, para desfrutar de tudo, como Nova York ou Paris. Há outros que fazem mais sentido em determinadas estações, como o verão em Koh Phi Phi ou o outono em Toronto. Há também os que se visita apenas uma vez. E alguns que, talvez, nem queremos conhecer.
Mas… e morar? Eu moraria nesse lugar, dormiria e acordaria ali todos os dias, trabalharia, faria amigos, plantaria uma árvore, cultivaria um jardim?
Lugares são um pouco como seres humanos. Alguns estão na nossa vida só de passagem. Outros são tão especiais que sentimos vontade de ficar e fazer morada. E toda a nossa busca é por essas pessoas e lugares no mundo, que nos trazem paz e conforto, que nos libertam para sermos quem somos. São os lugares e pessoas que, a cada viagem, nos dão a indescritível alegria de voltar para casa.