Chapada dos Veadeiros

Cenários pontilhados com trilhas, cristais de quartzo, cachoeiras de água cristalina e piscinas rochosas formam um dos mais belos cartões-postais do país

De acordo com uma lenda do calendário maia, o dia 21 de dezembro de 2012 seria marcado por uma catástrofe apocalíptica e o mundo sucumbiria. Exceto por um cantinho goiano chamado Alto Paraíso. Para inúmeros esotéricos, a principal cidade da Chapada dos Veadeiros estaria protegida, já que se encontra sobre uma imensa placa de cristal de quartzo de 4 mil metros quadrados, formada há 1,8 bilhão de anos. A força dos cristais agiria como um escudo contra o caos.

Como sabemos, o fim do mundo não aconteceu. Mas é igualmente reconfortante saber que temos, a 230 quilômetros de Brasília, um refúgio para chamar de nosso. A profecia serviu para atrair milhares de turistas para a região e reforçar ainda mais a identidade mística que envolve a Chapada dos Veadeiros. É praticamente unânime, mesmo entre os céticos, que, além de um banho de natureza e de belezas inigualáveis, há algo mais. Uma energia realmente difícil de explicar.

Cortada pelo paralelo 14, que também atravessa Machu Picchu, no Peru, a Chapada dos Veadeiros é uma joia no coração do estado de Goiás. Estamos na essência do Cerrado, o mais antigo bioma brasileiro, que abrange 25% do território nacional e onde nascem seis das principais bacias hidrográficas do país – entre elas, a do Tocantins-Araguaia e a do Paraná. Não à toa, o bioma é considerado a caixa d’água do Brasil: sua área concentra nascentes e leitos de rios de oito bacias hidrográficas, entre as 12 que existem no país. Uma espécie de paraíso das cachoeiras, com mais de 2 mil catalogadas.

Chapada dos Veadeiros: Cachoeira dos Saltos
Cachoeira dos Saltos | Foto: André Dib
Foto: Ion David

A biodiversidade do Cerrado é impressionante. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a área reúne mais de 6 mil espécies de árvores e 800 de aves, sendo que mais de 40% das plantas lenhosas e 50% das abelhas são endêmicas, ou seja, nativas da região. Infelizmente, o bioma tem sofrido com o crescimento acelerado dos desmatamentos e das queimadas nos últimos anos – boa parte ilegais, provocadas pela ambição de players do agronegócio.

O turismo voltado à natureza é um dos fatores que contribuem para a preservação de nossos biomas. E Veadeiros dá um banho nesse quesito. Mas como explorar essa região tão vasta? Primeiro, é preciso se desligar da vida urbana – de preferência, deixe o celular no modo avião e reserve o aparelho exclusivamente para registrar experiências memoráveis.

Chapada dos Veadeiros
Chapada dos Veadeiros | Foto: André Dib
Aventura é o que não falta: tirolesa, balonismo, trekking e rapel estão entre as atividades para explorar a região | Fotos: André Dib

Na Chapada dos Veadeiros

Quase 3 horas separam a capital federal de Alto Paraíso, porta de entrada da Chapada. É a principal entre as oito cidades abrangidas por Veadeiros e também a que mais exalta o perfil místico. Além dela, a vila de São Jorge, no quintal da entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, é outra parada obrigatória, marcada pelo ecoturismo. De tom rústico, suas ruas de terra estão recheadas de restaurantes descolados, lojas de suvenires – vários com referências a extraterrestres – e animados forrós, como a Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge.

Há também o município de Cavalcante, a cerca de 90 quilômetros de Alto Paraíso. Apesar de não ter atrativos tão famosos como os das cidades vizinhas, serve como base para explorar cachoeiras belíssimas – como a Santa Bárbara, localizada dentro da comunidade Quilombo Kalunga, com piscina natural de águas azuis-turquesa, e o complexo do Prata, com a Cachoeira Rei do Prata e seu poço verde-esmeralda.

Chapada dos Veadeiros - céu noturno
Foto: André Dib
Chapada dos Veadeiros: Cachoeira das Carioquinhas
Cachoeira das Carioquinhas | Foto: Ion David

Dirigir pela região é obrigatório. De preferência a bordo de um veículo com tração nas rodas, se o espírito for explorar trilhas e cachoeiras mais remotas. As distâncias são imensas, por isso é preciso planejamento para se hospedar perto das principais experiências. Já para quem não dirige, a opção é contratar guias e empresas especializadas, que levam turistas de forma segura e com conforto, utilizando a frota das próprias agências.

Escolher bem a época da viagem também é crucial, já que há duas Chapadas no ano. A seca (entre abril e setembro) e a chuvosa (de outubro a março). A primeira é ótima para percorrer trilhas batidas e aproveitar piscinas naturais e poços com águas translúcidas, além de curtir o friozinho das noites estreladas. Já no período úmido, o espetáculo é formado pela força das quedas no ápice de seus volumes, um convite à contemplação.

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

A 1 quilômetro da vila de São Jorge, está a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 2001. Ocupando cerca de 10% do Cerrado brasileiro, o parque é um dos principais atrativos de Veadeiros. Dentro dele, percorre-se 5 quilômetros para chegar à Trilha dos Saltos, repleta de cânions e penhascos espetaculares, que emolduram duas enormes quedas, de 80 e 120 metros de altura. Ambas desaguam nas corredeiras do Rio Preto.

Vale da Lua

Não distante da entrada do parque, está outro destaque de Veadeiros, o célebre Vale da Lua. Trata-se de uma região única, com formações rochosas esculpidas pela erosão das águas do Rio São Miguel ao longo de milênios. Hoje, o aspecto do solo lembra a superfície lunar. É onde muitos viajantes se divertem, sobretudo tirando fotos para postar nas redes sociais, aproveitando curiosas piscinas naturais que produzem pressão semelhante à das banheiras de hidromassagem. Vale a visita, ainda que o lugar já venha começando a sofrer os efeitos do turismo predatório.

Chapada dos Veadeiros: Vale da Lua
Vale da Lua | Foto: Ion David
Foto: André Dib
Foto: Ion David

Cachoeiras

De volta à região de Alto Paraíso, algumas quedas locais figuram no portfólio das 40 mais admiradas da Chapada. Quase todas localizadas dentro de propriedades privadas que cobram pela visita, com preços entre R$ 30 e R$ 70. Uma delas é a Fazenda São Bento, muito procurada para experiências ligadas ao turismo de aventura, que destaca uma bela cachoeira homônima, além das emblemáticas Almécegas I e II – a primeira com 45 metros de altura e incontáveis pequenas quedas. Para muito além das trilhas, há também como sobrevoar a região, inclusive para contemplar algumas das cachoeiras mais expressivas. Duas atividades aéreas foram introduzidas recentemente entre os atrativos locais. Uma delas é o balonismo, operado pela empresa Balonismo Chapada e praticado durante todo o ano, com exceção dos meses de agosto e setembro. A outra é a tirolesa. Na fazenda São Bento – com 850 metros de extensão e impressionantes cem metros de altura, é conhecida como Voo do Gavião.

Foto: Ion David

O nome homenageia os incontáveis carcarás que dividem os céus do Cerrado com araras, tucanos e outras 375 espécies catalogadas. A velocidade média do “voo” proposto chega a atingir 55 quilômetros por hora. “É a única por aqui e a segunda maior de Goiás, permitindo contemplar uma incrível vista de 360º, com as principais serras e o Morro da Baleia, além dos limites do Parque Nacional”, conta Ion David, que, além de proprietário da operadora que gere a tirolesa, a Travessia Ecoturismo, também é fotógrafo e assina algumas das imagens desta reportagem.

Vale colocar na agenda outros combos de trilhas e cachoeiras consideradas compulsórias em Veadeiros, como: Mirante da Janela, Saltos do Rio Preto, Carrossel, Segredo, Cariocas, Cristais, Dragão, Capivara, Anjos e Arcanjos, Veredas e Loquinhas, essa última bem acessível a crianças. A duração desses roteiros varia de meio dia a uma jornada.

Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 06 da Revista UNQUIET.

www.travessia.tur.br Travessia Ecoturismo

(62) 3446.1595 Tirolesa Voo do Gavião

Mapa: Antônio Tavares

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