LUTETIA
- Drink especial criado para leitores UNQUIET servido no lendário Bar du Lutetia, para apreciar a decoração Art Noveau restaurada do edifício.
Código de Reserva: UNQUIET SPECIAL OFFER
Validade: Viagens até setembro de 2022
Falar das livrarias de Paris é deixar a porta aberta para um romance, muitas vezes num (duplo) sentido literal. A primeira história que quero contar aconteceu na Fnac do Forum Les Halles, em janeiro de 1981.
Não havia, claro, internet no início da década de 1980. Para descobrir então esses pequenos templos de estantes, o melhor mesmo era topar com eles no meio da rua. A grande Fnac de Les Halles, no entanto, era meu sonho. Quis visitá-la logo na primeira tarde livre e… me encantei de cara.
Não por sua atmosfera pouco intimista, uma vez que seus corredores eram tão grandes que muitas vezes você nem via o fim deles. Muito menos pela história. Mas fui me apaixonar naquela (e por aquela) Fnac, em toda a sua abundância. Fazer o quê?
Numa tarde, enquanto fuçava fascinado a vasta seção de LPs brasileiros (os CDs ainda não eram populares), fui surpreendido por um sussurro clássico em francês me perguntando: “Aimez-vous la musique brésilienne?”. Foi tudo o que bastou para que eu começasse, de fato, um romance na cidade mais linda do mundo.
Hoje, a Fnac tornou-se mais uma loja de produtos eletrônicos, além de um supereficiente balcão de tíquetes de shows de música e teatro. Vou lá bem pouco atualmente – apenas quando quero matar as saudades daquela incrível história de amor. Nesses anos todos, fui seduzido aos poucos por tantas outras livrarias parisienses, que é bom começar a contar sobre elas antes que a gente fique sem espaço.
Comme un Roman…
Sim, as reticências fazem parte do nome. Ela fica no Marais, bem ao lado do mercado dos Enfants Rouges. Como é de costume, as estantes da Comme un Roman… estão sempre abarrotadas. E é nelas que procuro o melhor da literatura contemporânea francesa, além de excelentes livros de arte e uma seção enxuta, ainda que bem completa, de gastronomia. Seus vendedores, timidamente escondidos atrás do caixa, pouco interferem nos longos minutos (às vezes horas) que os clientes passam por lá. E há sempre a possibilidade de você olhar pelas enormes vitrines e se distrair com o movimento frenético da rue Bretagne.
Ofr. Librairie
Ainda ali pelo Marais, há a ultratransada Ofr. Librairie, o sonho de qualquer hipster munido de uma lista de endereços descolados de Paris, de preferência de uma revista ou um site americano. Com a frase “Beautiful books and ideias” estampada em uma de suas vitrines, ela é um ímã para turistas antenados. Ah! E funciona também como uma galeria.
instagram.com/ofrparis
Librairie Jousseaume
A Vivienne é uma das galerias mais tradicionais da capital francesa, revitalizada nos anos 1980 quando Jean-Paul Gaultier instalou seu QG por ali. Em meio a antigas butiques, algumas lojinhas de suvenires e um templo dos amantes de vinho (Caves Legrand), você encontra um amontoado de livros que, na sua charmosa deselegância, quase destoa dos arcos impecavelmente desenhados do lugar. Não desanime: explore cada caixa com volumes variados espalhada pela Jousseaume. E se possível, saia com um presentinho para alguém que ame livros.
librairie-jousseaume.fr
La Belle Hortense
Se além de sua paixão por eles, você também gostar de um bom copo, volte para o Marais, mas bem tarde da noite, para conhecer La Belle Hortense. Ali, na rue Vieille du Temple, bem na frente do clássico Au Petit Fer à Cheval, funciona uma das minhas lojas de livros favoritas. Se você achar que é só um bar, não tem problema.
La Belle Hortense é especialmente animada nas altas horas da madrugada – sobretudo no inverno. Atrás de seu balcão minúsculo, uma mulher com o ar ao mesmo tempo cansado e convidativo, que conheci como Brigitte, serve taças de vinho, champanhe, conhaque e (meu fraco) calvados. Os clientes bebem e conversam animadamente e só quando se apoiam nas estantes se dão conta de que estão em uma livraria. E eventualmente até compram um livro!
Les Mots à la Bouche
Ali ao lado ficava também outro endereço tradicional da boemia do Marais, a livraria Les Mots à la Bouche, especializada em cultura gay. Por mais de 40 anos ela foi referência obrigatória para a comunidade LGBT parisiense, bem como para os turistas que procuravam exatamente títulos de autores e temas ligados à homossexualidade. Livros de fotos incríveis, revistas e fanzines, além de vídeos (nos anos 80) e DVDs (até recentemente) de filmes e documentários de arte dentro desse universo, povoavam suas prateleiras até o início de 2020.
Com o Marais ficando cada vez mais gentrificado, porém, e as lojas antigas cedendo espaço para as Eatalys da vida moderna, o aluguel do espaço ficou caro demais para esse símbolo da contracultura e eles estão agora em um novo endereço, não muito distantes dali, na Bastilha. A atitude, a ousadia e a fina curadoria, no entanto – tudo continua como antes, se não melhor.
motsbouche.com
La Chambre Claire
Também mudou de endereço uma outra favorita minha, esta especializada em livros de fotografia. A antiga La Chambre Claire, comandada pelo simpaticíssimo Jensen, sempre pronto a oferecer um volume autografado por um fotógrafo famoso, esteve por anos ali em Saint-Sulpice. Mas desde o último verão europeu sua simpatia e dedicação (ao lado da sócia Catherine Rambaud) está no número 3 da rue d’Arras, bem perto da Sorbonne, renomeada La Nouvelle Chambre Claire.
la-chambre-claire.fr
Sur le Fil de Paris
Se eu puder, porém, dar ainda duas dicas bem pessoais, tente visitar a Sur le Fil de Paris, quase chegando no Sena pelo Quai des Célestins, na adoravelmente batizada rua de l’Ave Maria. Só livros antigos, mas não exatamente de literatura: moda, decoração, arquitetura, artes e espetáculos e até inesperados livros infantis dos anos 1920 até os 1970.
surlefildeparis.fr
Dicas extras
Quer algo bem específico e charmoso? Librairie des Alpes, em Saint-Germain, com títulos especializados em… montanhas! Para vivenciar um pouco da história literária de Paris, vá, claro, à Shakespeare & Co., também em Saint-Germain, mas esta você acha em tudo quanto é guia. Bem como a Smith&On Paris, a mais completa livraria em inglês da França, na rua de Rivoli. Ou a estupenda Taschen, no mesmo bairro, com os livros de arte mais desejados do mundo.
Fecho esta lista com uma indicação que não é bem uma livraria, mas uma loja de edições antigas de revistas de arte, moda e comportamento, a Comptoir de l’Image. Um cafofo adorável e caótico como esse só tem uma contraindicação para quem ainda gosta de ter nas suas mãos páginas de papel: você pode não querer sair mais de lá…
Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 04 da Revista UNQUIET.