No deserto de Gobi, Mongólia

Paisagens infinitas, pastores nômades e espiritualidade colorida. Viajar pela terra de Chinggis Khan é uma aventura.

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Three Camel Lodge

Benefício expirado

Estamos na Mongólia, país de longos espaços abertos ensanduichado entre a Rússia e a China, terra de Chinggis Khan, conquistador que formou o gigantesco império mongol, no século 13. Um enorme território do tamanho do Amazonas, formado majoritariamente por estepes e planícies. O deserto de Gobi se estende pelo centro-sul do país.

Partindo da capital do país, Ulaanbaatar, voamos a Dalanzadgad. Essa cidade a 600 quilômetros da capital é o aeroporto do deserto. Está no limite do parque nacional Gurvansaikhan, meu primeiro destino no Gobi.

Foto: Getty.
Crianças e jovens de Hanhongor, com vestimentas típicas, e um xamã na província de Khentii,
Foto: Getty

Nosso grupo tinha oito pessoas – duas brasileiras, um irlandês, um canadense e quatro ingleses – mais dois guias nativos falantes também de inglês, um ajudante com função de faz-tudo e um cozinheiro. De Dalanzadgad em diante, viajamos em três carros 4×4, nos revezando na direção. Uma curtição com tanto espaço livre para brincar com o carro, acelerar, testar habilidades ao volante em terrenos de diversos tipos.

Aventuras no deserto de Gobi

O dia no deserto de Gobi começa antes de o Sol nascer. As sombras dos platôs do parque Gurvansaikhan dançavam sob as luzes que vão passando do roxo ao lilás, daí ao laranja e ao amarelo. Em meio a esses platôs, os guias montaram os cabos de aço para a tirolesa sobre um vale profundo. Às 8 horas da manhã já estávamos deslizando pelos 300 metros de cabo, a 600 metros de altura.

Com as malas nos carros, começou a aventura off-road pelo Gobi. Alcançamos Yolyn Am, um cânion profundo e tão estreito que, em alguns trechos, só passava um carro por vez. É uma área de paredões úmidos, gelo eterno e beleza cênica impactante.

Vez ou outra cruzávamos com estradas de terra. Quase nunca as seguíamos, porque nosso guia, Uugii, sempre conhecia um caminho mais interessante. E foi assim, brincando de pilotar entre montanhas e precipícios, que chegamos a outro highlight do parque Gurvansaikhan: Khongoriin Els, as “dunas cantantes” do Gobi.

Elas ocupam menos de 5% da superfície total do deserto, e por isso são tão cobiçadas. Depois de horas praticando sandboard, sentamos para assistir ao pôr do sol, ouvindo a melodia do vento ao serpentear por entre as montanhas de areia. Nessa noite, acampamos aos pés das dunas cantantes.

camelos no deserto de gobi
Foto: Divulgação.
deserto de gobi à noite
Foto: Divulgação.

Hospedagem

A típica hospedagem mongol é um ger camp. Cada uma das yurts tinha quatro ou cinco camas dispostas em círculo, equipadas com travesseiros e edredons de lã de ovelha e camelo, quentes e macios. Isso fez bastante diferença porque, embora fosse primavera, melhor época para ir à Mongólia além do verão, as temperaturas caem bastante quando anoitece no deserto. Mesinhas e cadeiras coloridas e lindas tapeçarias decoravam o espaço. O banheiro era um antigo caminhão russo adaptado.

De dez anos para cá, alguns poucos ger camps de luxo começaram a aparecer. Ainda assim, é preciso ter em mente que a viagem pela Mongólia pede disposição aventureira. Fora da capital, asfalto, restaurante e lojas são facilidades que não fazem parte do roteiro. Você vai almoçar um piquenique. A refeição noturna é o horário de experimentar a comida local, preparada pelos cozinheiros dos acampamentos: basicamente, muita carne, principalmente de carneiro, derivados de leite (de cabra, camelo e égua), cachaça feita de leite. 

passeio bike no deserto de gobi
Foto: Divulgação.
O arco e flecha é uma tradição.
Os mongóis acertam seus alvos enquanto galopam estepe afora. | Foto: Divulgação
Os iaques formam extensos rebanhos, fornecendo comida, leite e pele para os mongóis | Foto: Getty

Nomadismo

Ao longo da viagem, encontramos muitos pastores conduzindo suas ovelhas, cabras, camelos e iaques. Esse trabalho sintetiza a essência da vida nômade: é para garantir alimento e água para os animais que as famílias camponesas mudam de lugar. Um quarto da população da Mongólia é nômade.

O nomadismo não significa necessariamente pobreza. Há famílias que vivem com muito conforto. 

Certa manhã bem cedo, em outro acampamento, recebemos a visita de dois pastores montados a cavalo. O guia Uugii nos contou se tratar de uma visita cordial. Os homens desejavam saber quem éramos e nos oferecer um dos cavalos como presente de boas-vindas. A cultura equestre é parte da identidade local. O número de cavalos no país é maior que o de habitantes. 

A fé popular na Mongólia é muito misturada com o xamanismo. Viajando pelo país, com bastante frequência você encontra montes de pedras com um pedaço de madeira fincado e pedaços de tecido azul amarrado. São os ovoos, tão respeitados pela população que até as estradas são desviadas quando encontram um deles – sempre pela esquerda, que é o jeito certo.

Um quarto da população do país é nômade e vive do pastoreio. Foto: Getty.

Em nosso último dia no deserto de Gobi, acomodados no ger camp, Uugii me convidou para visitar uma família nômade. Avô, avó, mãe, pai e quatro crianças nos receberam com sorrisos, queijo e leite de camelo fermentado. Por sugestão do guia, presenteie os pequenos com chocolates, porque são itens muito difíceis de encontrar mesmo nas raras cidadezinhas do deserto. Ao ir embora, a mulher mais velha se despediu de mim cheirando minhas bochechas – é um hábito dos antigos. E me deu de presente um pedaço de tecido azul. Claro que no retorno ao ger camp, paramos no primeiro ovoo para cumprir o ritual de fé. A tradição recomenda fazer pedidos; mas, olhando para a estepe infinita, o verde e o dourado da relva, para um cavalo solitário que bebia água solitário e para a luz do pôr do sol que se aproximava, também tive vontade de agradecer.

Tendas do Three Camel Lodge | Foto: Divulgação

threecamellodge.com 

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SUSTENTABILIDADE

Ações de conservação do meio ambiente e ações sociais

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Three Camel Lodge

  • Práticas de Política ambiental reconhecidas mundialmente: reduz e recicla energia, água, lixo e carbono.
  • O primeiro lodge da Mongólia “plastic free”
  • Compostagem feita com todo resíduo orgânico utilizado nas estufas de alimentos orgânicos;
  • Redução de carbono, fornecendo mais de 50% dos suprimentos, serviços e ingredientes em um raio de 80km, complementados por produtos orgânicos cultivados na estufa local;
  • Trabalho com a comunidade Gobi inclui um poço local que fornece água a milhares de animais pertencentes a pastores nômades.
  • Fornecimento de ração animal e capim durante invernos rigorosos;
  • Aulas de inglês e equipes esportivas em uma escola próxima;
  • Equipe de optometristas para dar exames oftalmológicos aos membros da comunidade, resultando na distribuição de mais de 1.000 óculos;
  • Proporciona emprego em tempo integral e capacitação profissional aos membros da comunidade local – equipe 100% mongol empregada durante o ano todo;
  • Contratação, treinamento e capacitação de funcionários – mulheres em particular – para alcançar papéis de liderança dentro da empresa. A maioria dos gerentes são mulheres;
  • Apoio de cadeias de abastecimento comunitárias sustentáveis para ajudar no crescimento da economia local, favorecendo as famílias locais, pequenos negócios Gobi e artesãos que vendem produtos manufaturados localmente.
  • Impostos pagos à província local e não ao governo nacional, que financia o desenvolvimento local onde ele é mais necessário.
  • Membros do Pack for a Purpose, uma iniciativa que permite que viajantes tenham um impacto duradouro na comunidade em seu destino de viagem.
  • Ações de preservação de fósseis de dinossauros da região;
  • Base de pesquisas do deserto de Gobi responsável por especialistas internacionais;
  • Trabalhos com comunidades locais para capacitar estudantes locais a se tornarem futuros administradores do patrimônio natural do Gobi, incluindo bolsas de estudo;
  • Desde 2008, apoio a estudantes de música e dança tradicional mongol na escola Hanhongor de Gobi, compartilhando o talento dos jovens com convidados com apresentações;
  • Doação de materiais e instrumentos musicais para a escola – intercâmbio de alunos para outros países;
  • Programa de bolsas de estudo para patrocinar totalmente estudantes que desejam estudar música e artes cênicas em nível universitário;
  • O lodge foi construído com arquitetura e design tradicionais, com materiais locais e guiados por práticas de meio ambiente, incluindo o bebedouro que mantem vivos os animais de comunidades nômades.

Three Camel Lodge

Mapa: Antônio Tavares

Clique aqui para ler a matéria sobre bike na Mongólia.

Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 02 da Revista UNQUIET.

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