Com os olhos grudados nas janelas do avião e a trilha sonora exata tocando, procuro algum espaço entre as nuvens para captar qualquer sinal de terra. Infelizmente sou sabotada por elas e sigo apenas na imaginação. À medida que nos aproximamos do pouso, abaixo do mau tempo, sou surpreendida pela segunda maior massa de gelo do mundo, até entrar em um vale com neblina, montanhas de coloração preta e neve. Em instantes, o verde começa a tomar conta da paisagem e sinto um frio na barriga.
Pousamos no sul da Groenlândia, na minúscula e calma cidade de Narsarsuaq, de onde navegaremos pelos próximos nove dias. Esse território dinamarquês autônomo carrega o título de maior ilha do mundo, com 2.166.000 km², e também o de menor densidade populacional, com apenas 57 mil pessoas em toda sua imensa área. Ou seja, um lugar praticamente inabitado. Sou fascinada por destinos de natureza extremamente remotos: lugares de silêncio que se alinham como uma música em meus sentidos e emoções. A Groenlândia é, sem dúvida, um deles. Ouço o som oco do vazio e então tenho a certeza de que uma majestosa aventura se iniciará.
Situada na América do Norte, entre os oceanos Glacial Ártico e Atlântico, mais de dois terços da Groenlândia ficam acima do Círculo Polar Ártico, o que mantém climas absurdamente frios. Nossa jornada seria na parte mais quente, abaixo do círculo, rumo ao sudeste de sua costa, mas mesmo assim, gélida.
Benefícios Exclusivos UNQUIET: Groênlandia, Quark Expeditions
Saiba maisConsulte seu agente de viagens
Quark Expeditions
Benefício: Amenities de boas-vindas preparado especialmente para leitores UNQUIET.
Caminhos do mar
A Groenlândia possui apenas 150 km de estradas, portanto a melhor maneira de conhecer a região é navegando, e foi o que fizemos. A Quark Expeditions, a empresa pioneira em expedições dos polos, tem expertise e oferece nas rotas a melhor e a mais autêntica estrutura, o que nos permite um panorama excepcional da região. Ainda no aeroporto, nos encontramos com o time da Quark, e de lá seguimos para o píer, embarcando no navio.
A chegada é imponente. Com a ajuda do bote de modelo Zodiac, um dos mais potentes do mercado, nos aproximamos para entrar no Ultramarine, a novíssima embarcação da companhia. Fizemos parte do seleto grupo de 130 pessoas que experimentariam pela primeira vez o roteiro Aventura na Groenlândia: por Terra, Mar e Ar, com a possibilidade de conhecer a área de diversos ângulos. Uma das coisas especiais, além de os hóspedes estarem eufóricos, é que dava para sentir, já nos primeiros contatos, com os largos sorrisos da equipe que nos recebia, que eles também estavam vibrantes com a estreia.
Com certeza, o espaçoso Ultramarine se destaca entre as opções para viajar pela imensa ilha. Embora intimista, o navio tem 128 m de comprimento e 102 cabines, de diferentes categorias, todas muito confortáveis, além de uma biblioteca, com opções de leituras sobre o Ártico, um lounge bar, com ótimos drinques, uma completa carta de vinhos, e um amplo teatro, onde são realizadas as apresentações.
Ainda disponíveis aos passageiros, há um spa aconchegante, uma sauna com vista para o mar e os fiordes, uma academia muito bem equipada, sala de ioga com matches profissionais e um restaurante com serviço prestativo e gastronomia saborosa. São inúmeras as opções de passatempo a bordo.
“Hoje é o primeiro dia de sol em um mês!” Com esse anúncio, cheio de empolgação, fomos acordados pela voz de Ali, o chefe do time de expedições, no alto-falante, após nossa primeira noite a bordo. Pulei da cama e meu impulso foi buscar o horizonte. Corri para a varanda da minha cabine para observar os raios de sol, refletidos na neve dos dramáticos fiordes, e os diversos icebergs, que vão se pronunciando bem ao lado do navio.
Outros diferenciais da companhia são as múltiplas funções da equipe de experiências e o espírito de expedição implícito em cada saída. Cada tripulante tem mais de uma função: além de saber pilotar os Zodiacs ou orientar as rotas em terra firme, por exemplo, há entre eles biólogos, glaciologistas, geológicos e um fotógrafo.
Responsabilidade e bons exemplos
A organização das experiências está ligada ao turismo responsável, uma das premissas da companhia. Em um momento em que viajar não é mais explorar, mas sim conviver com o mundo, as práticas sustentáveis da Quark vão além das atualmente necessárias – como a diminuição do uso de plástico, a reciclagem e a redução da emissão de carbono. A companhia tem consciência de que o meio ambiente precisa ser cuidado hoje para ser revivido em anos, e que a conexão significativa entre as pessoas e os lugares é imprescindível para engajar os hóspedes com as práticas corretas. Os dias são guiados por palestras de educação sustentável e excelentes exemplos a bordo e em terra firme, o que, com certeza, resulta em enormes mudanças positivas. Além disso, a Quark faz parte de diversas organizações com o objetivo de preservar os polos. A intenção é ser o principal investidor de projetos de divulgação nas regiões polares, apoiar pesquisas ambientais e envolver cada vez mais a comunidade em seus projetos.
O ponto forte do Ultramarine é que ele permite desbravar a Groenlândia de diversos ângulos. Todos os dias, de manhã e à tarde, uma saída inédita do barco nos aguardava, e juntamente com ela a possibilidade de outra experiência. Equipada com caiaques, Zodiacs, mountain bikes e dois helicópteros bimotores Airbus H145, cada saída do navio proporciona visões incríveis. De caiaque, remando ao lado dos icebergs, em um voo de helicóptero, com pouso na camada de gelo, em um corajoso pulo nas águas mais geladas do Oceano Atlântico ou conhecendo de perto uma banda de rock autêntica do território, o itinerário diário da Quark reserva surpresas e muita diversidade.
Fizemos parte do seleto grupo que estreou o novo roteiro da Quark expeditions pela Groenlândia
Caminhadas pelo passado
Nos tirar do navio era sempre o objetivo da equipe de expedição. E era também onde a mágica da Groenlândia acontecia. Eu me joguei de corpo e alma em cada uma delas. Os únicos passeios que não fiz foram a mountain bike, o caiaque nas montanhas e o camping, atividades extras, cobradas à parte. Quem foi, no entanto, contou que são momentos únicos, todos começando com um voo de helicóptero extraordinário, com destino a lugares especiais e ainda mais afastados. As outras atividades estão inclusas na estadia.
Um dos programas mais interessantes são as caminhadas. São as experiências mais comuns, mas nem por isso normais. Reservado apenas para o nosso grupo – os outros estavam em outras atividades –, a ideia era caminhar pela vegetação dos fiordes e descobrir algum lugar encantador, entre tantos.
A natureza da Groenlândia é surpreendente, e também um sinônimo de resiliência. Mesmo que o frio não fosse tanto (vale dizer que estávamos no verão e o aquecimento global é uma realidade que sentimos na pele, pois chegamos a pegar 15 ºC, em uma época que era para estar no máximo 10 ºC), a tundra é o bioma constante da região. Trata-se de uma vegetação totalmente verde e rasteira, com flores e muitos arbustos pelo caminho, que insiste em prosperar mesmo tendo o solo congelado por um longo período do ano.
Uma das sensações mais incríveis é caminhar entre os fiordes e imaginar como tudo aquilo se formou. Fiordes são enormes vales rochosos alagados pelo mar, criados pela ação do gelo, nas eras glaciais, nos últimos 3 milhões de anos. Basicamente, o gelo arrastava tudo o que encontrava pela frente, arrancando pedaços de rochas, o que resultava em vales estreitos e paredões íngremes. Avistar o horizonte da Groenlândia sob o ângulo dos verdes e pontudos fiordes, subir em suas rochas e ver a vastidão do mar azul potente, cruzar os rios cristalinos, com a água das geleiras, são oportunidades de ouvir o silêncio do passado e criar na mente uma paisagem incrivelmente diferente da atual. Foram momentos inesquecíveis.
Uma manhã no povoado de Aappilattoq
Sim, você leu certo. Essa profusão de consoantes e vogais aparentemente sem nenhum sentido é, de fato, um lugar. Essa pequena e modesta vila de nome impronunciável foi a nossa primeira interação com alguma civilização após dias navegando. Localizada em uma baía rochosa do pitoresco fiorde de Prins Christian Sund, Aappilattoq conta com apenas 100 carinhosos moradores e uma estrutura básica, com uma escola simples, uma igreja charmosa, um supermercado curiosíssimo e um surpreendente campo de futebol, além de casas totalmente coloridas para tentar espantar o escuro do inverno. Abastecido por dois helicópteros por semana, o lugar vive à base de métodos ancestrais de pesca e caça e acaba de completar 100 anos.
Descobrir a Groenlândia por meio dos costumes de seu povo nativo foi bastante incomum. Os moradores são da cultura inuíte (não fale esquimós!), povos indígenas originários das regiões congelantes da América do Norte, de trechos do Canadá, do Alasca e da Groenlândia. Hoje, eles vivem com certa modernidade, claro, mas com muitos desafios por causa do derretimento do gelo, o que muda bastante as atividades cotidianas – e aumenta a vontade de emigrar. Segundo cientistas, setembro de 2022 foi atípico, com as temperaturas mais altas atingidas nesse mês desde 1979.
De caiaque entre os icebergs
Devidamente trajada com uma roupa impermeável, da cabeça aos pés, parti com meu grupo para o caiaque no gélido Mar da Groenlândia. Com a ajuda do Zodiac e de Mark, nosso guia, chegamos até uma enseada mais abrigada, onde nos posicionamos em nossos caiaques duplos. Vale saber que, sendo a pessoa um expert no esporte ou um estreante, é praticamente impossível virar.
Era nossa melhor chance de ter o melhor ângulo dos icebergs: aprendemos, em uma palestra prévia com Mike (que é geólogo), que os icebergs são massas de gelo que se soltam dos glaciares e são levadas pelo o mar, e que apenas 20% de um iceberg é visível acima da água. Por isso é preciso ter precaução, pois nunca se sabe se mais partes vão se soltar ou até mesmo se ele pode virar.
Chegamos perto de alguns menores, mas sempre com Mark em alerta, pedindo para termos bastante atenção. A quietude desse momento foi interrompida apenas pelos sons das pequenas partes que se soltam, como uma onda quebrando na praia. No mesmo passeio, ainda tivemos a sorte de ouvir o barulho de um animal na água, que se revelou ser uma foca solitária.
Voando sobre os fiordes
Entre os muitos recursos do Ultramarine, um dos mais importantes é a capacidade de transportar dois helicópteros, o que faz toda a diferença na hora de explorar a Groenlândia. Foram três chances de admirar os fiordes do alto. E foram as três experiências mais surreais de toda a viagem
Na primeira delas, estávamos programados para realizar outro passeio à tarde, quando os alto-falantes do navio avisaram que os planos tinham mudado: todos os grupos fariam o sobrevoo de helicóptero. Por sorte, fomos o primeiro grupo chamado e, mais sorte ainda, pude me sentar na frente, com o piloto. A volta de helicóptero durou 15 minutos, voando pelo meio dos fiordes e proporcionando uma das vistas mais magníficas, indo ainda mais fundo na ilha. Isso tudo misturado à sensação única de não ver ninguém, nenhuma casa, nem sinal de civilização a quilômetros de distância. Maravilhada, só conseguia ouvir os “uaus” e “ohs” dos meus companheiros de voo, inclusive do piloto. Para ficar na memória.
Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 09
Quark Expeditions
Metas para serem atingidas até 2025:
# reduzir as de emissões de carbono em 10% por passageiro e zero desperdício na frota da empresa
# liderar a mudança através do envolvimento da comunidade: apoio às atividades científicas, de conservação e desenvolvimento sustentável em comunidades polares.
# inspirar e capacitar os hóspedes a fazer mudanças que criem impacto positivo, onde quer que morem
# promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável. A Quark Academy visa para garantir que a equipe das expedições tenha o mais alto nível de formação na indústria. Fazem um investimento significativo em desenvolvimento profissional através de workshops, cúpulas e simpósios.
# comprometimento em eliminar o desperdício antes que ele seja feito. Estão em processo de desenvolvimento de plano de compras para atender a esse compromisso, e muitas iniciativas já foram implementadas, incluindo fornecer aos hóspedes garrafas, equipando cabines com sabonetes recarregáveis e frascos de xampu, fornecendo canudos e guardanapos apenas a pedido e eliminando as embalagens desnecessárias das parkas distribuídas.
# tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos. Através do investimento em um novo navio revolucionário, o Ultramarine, onde melhorias operacionais e o uso de combustível MGO com baixo teor de enxofre, continuamente reduzem as emissões de GEE.
# conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. A Quark Expeditions assumiu o compromisso da ONU Clean Seas e de participar do Clean Up Svalbard, ajudando a coletar e remover cerca de 20 toneladas de resíduos das praias de Svalbard a cada ano. O navio Ultramarine está equipado com hélices de 5 pás projetadas sob medida para reduzir as emissões de ruído.
# reforçar os meios de implementação de parceria global para o desenvolvimento sustentável.