Um novo olhar sobre Miami

Novos museus, coleções privadas, street art e um ambiente muito acolhedor para novas tendências e culturas fazem dessa cidade da Flórida um novo must da rota da arte contemporânea mundial

É difícil imaginar uma cidade que passou por um rebranding maior do que Miami nas últimas duas décadas. Ficaram para trás os clichês, os neons e os edifícios art déco da Ocean Drive, a sensação perene de estar em um imenso mall, cercado por palmeiras e adornados por flamingos rosa-choque, e todos os outros estereótipos que marcaram Miami até o início dos anos 2000. Essa vibe, claro, ainda está ali, mas só para quem quiser viver a aura retrô-decadente sem preconceitos. 

A maioria das pessoas hoje procura Miami com outros olhos e outros anseios. Além de ser um hub inevitável para centenas de destinos nos Estados Unidos — em especial, Orlando (quem nunca?) — e no Caribe, a cidade deu vazão a sua faceta mais interessante ao se levantar como uma metrópole que esbanja novidades nos campos da arquitetura, gastronomia, multiculturalidade e hotelaria de ponta. E que, acima de tudo, respira arte. 

Criatividade emergente 

O movimento artístico na cidade nasceu de forma tímida e autoral. Novos artistas, galeristas e talentos de diversas áreas encontraram nessa imensa cidade ensolarada espaços e a luz certa para criar e brilhar. E a cidade, ciente de que jamais teria como se equiparar a centros culturais mundiais com acervos que abrangem o cânone histórico da arte, como Nova York, Paris e Londres, apoiou a arte contemporânea proveniente de produções locais, do Caribe e de Cuba, entre outros, que se lançava ali de forma gentil e acolhedora.

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A impressionante estrutura do Pérez Art Museum às margens da Biscayne Bay

Um dos primeiros passos para a renovação aconteceu com a primeira edição da Art Basel Miami, em 2002. Trata-se de um dos principais eventos de arte moderna e contemporânea, que todos os anos, no mês de dezembro, reúne centenas de expositores, compradores e entusiastas, numa explosão de tendências. Mas não é preciso esperar a feira para se surpreender com o potencial de Miami. Basta traçar uma rota certeira de museus, galerias e destaques que mais se combinam com o gosto pessoal: há uma imensa variedade de estímulos e estilos em cada proposta. Eu escolhi dividir minha incursão em vários dias, alternando arte e gastronomia de alta qualidade na mesma proporção – posso afirmar, com certeza, que a dobradinha é perfeita. 

Quadro da exposição The South American Dream, da brasileira Marcela Cantuária

Novos artistas, colecionadores e galeristas encontraram em Miami espaço para criar e brilhar

Hospedada em uma das imensas suítes do Acqualina Resort & Residences — quando eu digo imensa, leia-se um apartamento completo, com amplos ambientes e uma enorme varanda debruçada sobre a praia –, aproveitei o primeiro dia e o clima (quase sempre) agradável da Flórida para curtir o hotel. Membro da Leading Hotels of the World, e um dos mais aclamados da cidade, o Acqualina é um clássico, que fica em Sunny Isles (uma região que escapa do perímetro do distrito de Miami), e, ao lado de Bal Harbour e Surfside, se destaca como um hotspot de hotelaria de alto padrão, grandes e caros empreendimentos imobiliários, ótimos restaurantes e um clima perene de barefoot chic na brisa do mar e dos canais. 

Sala com obras da mostra Public Enemy, de Gary Simmons, no Pérez Art Museum

Entre os mimos do serviço de praia e de piscina e do excepcional spa – que conta em seus diferenciais, além de tratamentos signature, com uma estrutura de saunas, paredes feitas de sal do Himalaia e fontes geladas –, me preparei para o meu primeiro contato com as instalações daquele que é hoje conhecido como o principal museu da cidade. 

Janela cultural 

Em Biscayne Bay, o Pérez Art Museum (Pamm) é um monumento à arquitetura e à arte contemporânea, cuja estrutura, projetada pelo escritório suíço Herzog & de Meuron, impressiona por si só. A coleção permanente inclui nomes como Gerhard Richter, Sam Gilliam e Rashid Johnson, além de dar amplo destaque à arte do Caribe e da América Latina, na tentativa de exaltar a riqueza cultural da região. O museu também é conhecido por proporcionar mostras e retrospectivas, como a de Leandro Ehrlich, e obras experimentais de nomes como Carlos Cruz-Diez e Yayoi Kusama.  

O museu a céu aberto de Wynwood Walls.

O impacto dessa multiculturalidade preenche boa parte do dia, e uma forma de terminá-lo é jantar em um dos restaurantes do complexo do Acqualina, entre eles o excelente oriental Ke-hU, cujo frescor dos peixes reflete seu grande sucesso, e o excepcional Il Mulino New York, um italiano listado entre os mais disputados da Big Apple e que fez morada e fama com a unidade dentro do Acqualina, com suas massas e seus pratos clássicos. 

Vista sobre o complexo de piscinas e o beach club do Acqualina Resort & Spa, um clássico atemporal em Miami
Vista aérea de Wynwood Walls

Arte de rua

Uma vez afastado do centro da cidade, onde, aliás, a Brickell também desponta como um grande centro comercial e de tendências, é preciso estar preparado para alguns longos deslocamentos de carro. Mas a ida até Wynwood Walls é tão excitante que o tempo em trânsito passa voando. Isso porque é ali que vibra um dos símbolos culturais mais pujantes da faceta artística que projetou Miami nessa seara. Trata-se de um quadrilátero, hoje convertido em um museu a céu aberto, onde as paredes, com grandes grafites, são as protagonistas e servem de fundo para as selfies dos visitantes, que se aglomeram. O bairro, antes um distrito perigoso e hostil, é hoje a perfeita tradução da street art: fora obras consagradas, como trabalhos assinados por nomes como Os Gêmeos e Shepard Fairey, mais conhecido como Obey, que assina Hope, um retrato de Barack Obama, os murais vivem em constante transformação, com novas obras sobrepondo as antigas de tempos em tempos. Hoje há mais de 70 galerias na região e uma profusão de manifestações que atestam a veia inclusiva e plural dessa corrente artística, que pulsa na cidade. 

O quadro Sleep do pintor Kehindle Wiley

Arte de família 

Não muito distante, no emergente bairro de Allapattah, a mudança drástica de cenário parece completar o meu dia. Isso porque, diretamente dos vibrantes murais e grafites de Wynwood, fui transportada o que parece ser o sonho de todo entusiasta de arte contemporânea: o novíssimo Rubell Museum, um enorme armazém convertido em museu, concentra um dos principais acervos de arte privada do mundo. De propriedade de Mera e Don Rubell, ele é de longe a maior coleção de arte contemporânea do sul da Flórida, num vasto arquivo de família, dos anos 1960 em diante. 

A obra DOB in The Strange Forest, de Takashi Murakami, no Rubell Museum

Os jardins da propriedade antecipam o clima sofisticado e minimalista do museu, cujo silêncio parece dar voz às obras que tomam as galerias. Logo na entrada, um corredor de esferas espelhadas de Yayoi Kusama (que, aliás, mantém outras duas salas interativas no museu) me convida a transitar pelos amplos ambientes, repletos de peças de artistas como Jeff Koons e Sterling Ruby, além de uma galeria semelhante a um santuário para Keith Haring. Não há nada de sistemático no roteiro: uma das coisas que mais me agradaram foi a liberdade de percorrer as salas sem nenhuma necessidade de seguir uma rota cronológica. Em um momento eu me encontrava frente a frente com um Basquiat, em outro diante de uma obra de Takashi Murakami ou de Yoshitomo Nara. Eis um tour perfeito, apenas pelo simples prazer de observar e aprender com a notável produção de grandes artistas dos últimos 50 anos. Quem quiser esticar a estada pode consultar a completa biblioteca do museu (com agendamento) ou ainda engatar um almoço descolado no Leku, o restaurante badalado do museu. 

O casal de colecionadores Don e Mera Rubell

Arte Futurista

Do outro lado da rua, um enorme bloco chama a atenção e dá a dica de que o bairro está em franco crescimento cultural. O Superblue, aberto há pouco mais de dois anos, é um espaço de arte imersiva e experimental, que reúne projeções, telas, hologramas e nuvens artificiais num espaço futurista. 

Eu não fui dessa vez, mas quem conhece acha muito interessante, inclusive para visitar com crianças devido aos “efeitos mágicos” propostos. 

Direto de Allapattah, me surpreendi — mais do que isso, fiquei de queixo caído — ao me deparar com a nova aparência do Design District. Sem visitar o bairro havia mais de cinco anos, quase não reconheci suas ruas, que agora ostentam lojas de grandes grifes internacionais, com fachadas imponentes, restaurantes sofisticados – muitos deles veganos, saudáveis e orgânicos, uma nova tendência da gastronomia na região – e um clima meio Rodeo Drive que paira no ar. 

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SUSTENTABILIDADE

Ações de conservação do meio ambiente e ações sociais

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Acqualina Resort

Áreas públicas

  • Disponibilizamos lixeiras para reciclagem em diversos locais, inclusive na academia.
  • Oferecemos agave filtrado, certificado pelo USDA, aprovado pela FDA e certificado para degradar canudos, ao mesmo tempo que oferecemos uma experiência elevada ao hóspede.
  • Temos recipientes para viagem de cana-de-açúcar feitos de recursos renováveis ​​e recuperados, talheres de agave, sacolas ecológicas para viagem e copos de bambu biodegradáveis.
  • A água KOPU está disponível em uma garrafa ecológica no Ke-uH, Costa Grill e AQ Gelato & Coffee Bar. É proveniente de uma nascente artesiana milhares de metros abaixo dos vulcões adormecidos da Cordilheira Cascade, no Oregon.
  • Fones de ouvido recicláveis ​​estão disponíveis na academia.
  • Todos os banheiros de áreas públicas oferecem panos reutilizáveis ​​para secar as mãos.

Quartos de hóspedes

  • iPads estão localizados em todos os quartos, onde os hóspedes podem encontrar jornais digitais, revistas, meditações e e-books.
  • Garrafas de água de vidro estão disponíveis em todos os quartos.
  • Para lavagem a seco e lavanderia, estão disponíveis sacos de algodão reutilizáveis.
  • Ao se hospedar no Acqualina, você tem a oportunidade de participar dos esforços de Apoio à Sustentabilidade do resort e optar por renunciar à troca diária de lençóis e toalhas.
  • Todos os quartos estão equipados com recipientes para reciclagem designados, incentivando práticas sustentáveis ​​de gestão de resíduos.
  • Nossos quartos exibem garrafas reutilizáveis ​​para produtos de higiene pessoal.
  • Oferecemos uma opção digital conveniente e sem papel para seus processos de check-in e check-out.

Veículos elétricos

  • Oferecemos uma variedade de opções de aluguel de carros EV.
  • Temos duas estações de carregamento no resort.

Comida & Bebida

  • Mais de 50% das ofertas do nosso menu são elaboradas com ingredientes de origem local. Fazemos escolhas conscientes que priorizam o frescor, a qualidade e a sustentabilidade, garantindo que cada prato servido incorpore nosso compromisso com uma refeição ética e consciente.

Uma maravilha natural

  • Na região Sul da Flórida filhotes de tartaruga emergem anualmente da areia entre abril e outubro. Cerca de 600 locais exclusivos de nidificação de tartarugas podem ser encontrados na área metropolitana de Miami – incluindo alguns em Acqualina. Fortemente protegidos por ambas as leis locais, os ninhos podem conter centenas de ovos dos quais emergem os filhotes – a maioria dos quais são tartarugas cabeçudas nativas.

Para os hóspedes ansiosos por aprender ainda mais sobre esses direitos anuais de passagem das tartarugas, visite  The Sea Turtle Conservation of the City of Sunny Isles.

Na Acqualina, estamos profundamente empenhados na conservação destas magníficas criaturas e empenhamo-nos ativamente na sua proteção através de sessões regulares de formação de equipe dedicadas a garantir a segurança e o bem-estar das tartarugas marinhas durante a época de nidificação.

acqualinaresort.com/sustainability

Por ali, o Sofia é um restaurante italiano contemporâneo com mesinhas sob enormes ombrelones e pratos que trafegam pela cozinha napolitana, romana e francesa. Ele é  tido entre os melhores da cidade. Incrível e ótima pedida para arejar a cabeça depois da profusão de informações que as obras de arte impõem. 

Na mesma noite, outro ótimo restaurante mediterrâneo, também consagrado em Nova York, o Avra integra o complexo das residências do Acqualina e oferece uma experiência muito especial, com direito a uma vitrine de peixes e frutos do mar, que podem ser escolhidos ali mesmo pelo comensal, além de desfiar um cardápio de outras delícias, especialmente de inspiração grega. Memorável. Há muito ainda para ver na cidade. Eu particularmente ainda tenho um roteiro repleto para uma próxima vez, incluindo o The Bass, o Lowe Art Museum e o Locust Project. Afinal, Miami não para de se transformar e acolher novos movimentos, cores e expressões, que tanto colorem e alegram seu skyline.  

Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 14 da Revista UNQUIET.

Ilustração: Antônio Tavares

Erik Sadao

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