Vivências artísticas em Buenos Aires

Além do circuito de grandes e consagrados museus, Buenos Aires é palco de novas manifestações, galerias e artistas

Cidade que fervilha no âmbito cultural, Buenos Aires dá sempre a impressão de estar povoada de arte, seja por referências populares, como o tango, que se ouve a todo momento, seja por fortes expressões de consagrados e novos artistas em cena nos muitos museus, nas galerias de arte, que surgem a todo momento, e nos vários monumentos espalhados por ela. Não é preciso acessar o legado histórico de grandes nomes para confirmar essa vocação, uma vez que basta andar pelos bairros para perceber que a oferta cultural é uma das vertentes mais latentes da metrópole. 

Afinal, não é qualquer cidade que tem uma livraria entre seus cartões-postais, como a El Ateneo, instalada no antigo Teatro Grand Splendid, na Avenida Santa Fe. O espaço, construído em 1919 para envolver um público de 500 pessoas, se tornou um dos mais monumentais e luxuosos edifícios dedicados à palavra escrita em todo o planeta. Também não é qualquer cidade que abriga um museu como o Malba, com sua inescapável coleção de arte latino-americana – que apresenta a seus visitantes, entre outras preciosidades, O Abapuru, de Tarsila do Amaral –, além de uma programação de exposições temporárias, que oferecem entradas em múltiplos momentos da história da arte moderna e contemporânea. 

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Depois de um dia regado a arte em Buenos Aires, encontrar no hotel o aconchego de um palácio, que guarda em seus aposentos o requinte da Belle Époque, pode ser uma ótima opção. No coração da Recoleta, o bairro mais sofisticado da capital portenha, o Palácio Duhau – Park Hyatt tem a seu favor, além das instalações elegantes, a localização central, a poucos passos de bons restaurantes, do bairro de Puerto Madero e do Museu Malba. 

O estilo rebuscado da propriedade, um edifício dos anos 1930, faz um contraponto perfeito à oferta contemporânea do hotel no que diz respeito às instalações, ao serviço, à decoração e à gastronomia, a exemplo do restaurante Duhau, entre os melhores da cidade, além de um prestigiado spa. Vale saber, ainda, que o Park Hyatt conta com uma galeria de arte, cujo acervo particular prestigia obras de artistas argentinos e latino-americanos. 

A imponência da livraria El Ateneo

Em minha última visita a Buenos Aires, as condições me permitiram conhecer outra camada da vida cultural. Trabalhando como curador adjunto da instituição francesa Centro Georges Pompidou desde o ano passado, tive, ao longo de cinco intensos dias, em companhia de Beatriz Yunes Guarita e Alexandra de Royere (integrantes do círculo de amigos latino-americanos do museu), a oportunidade de explorar ateliês de artistas, instituições de portes variados e espaços independentes. 

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A obra Mente Humana, instalação no Museo de Arte Moderno, uma das exposições da Fundação Arteba

Moderno

O Museo de Arte Moderno de Buenos Aires ou, simplesmente, o Moderno, no bairro de San Telmo desde 1956, sempre esteve associado à produção experimental e vanguardista. E o espaço tem, nos últimos dez anos, intensificado sua ambição e seu impacto na cidade. O edifício foi renovado, as exposições foram reorganizadas e ele recebe mostras de artistas jovens, ao mesmo tempo que mantém um acervo consistente  (um grande trabalho de revitalização sob a direção de Victoria Noorthoon).

Para além das exposições, a experiência no Moderno começa logo na entrada, no espaço iluminado e convidativo de seu piso térreo, onde é possível se informar sobre o que está em cartaz e planejar a visita. A produção, moderna e contemporânea, pode parecer desafiadora para quem está acostumado a um modelo estático de museu, com espaços de contemplação por meio de salões decorados com obras de arte posicionadas segundo uma cronologia consensual da história. No Moderno, as oportunidades são outras e, por vezes, estão em exposição obras intangíveis, ou, ao contrário, performáticas. Em outras vezes, produções feitas décadas atrás estão em contato com algo produzido há poucos meses.

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Uma das exposições da Fundação Arteba
Performance artistica em espaço da Universidade Torcuato di Tella

Parque de la Memoria

Antes de mais nada, o museu tem a função de guardar memórias, sejam elas odes a um passado glorioso de alegria ou um memorial ao sofrimento. Esse último é o caso da dolorosa, mas muito nobre, tarefa do Parque de la Memoria, criado em 1998 na margem do Rio da Prata. Trata-se de um vasto e belo parque onde sopra o vento e por onde caminhamos entre esculturas, instalações, espaços expositivos, bancos e até mesmo uma base de dados de consulta pública. Tudo ali foi pensado em torno da missão de criar um “monumento às vítimas do terrorismo de estado”, deixadas pela mais recente ditadura militar do país.

À chegada ao parque, somos recebidos por esculturas que se equilibram entre o que pode ser ou não comunicado por palavras. As varas de aço da peça de Leon Ferrari oscilam com o vento ou com o toque dos visitantes, produzindo uma sonoridade de acasos. Adiante, dois espessos e altos blocos de aço corten, trabalhados por Marie Orensanz, trazem cortadas as letras da frase “pensar é um ato revolucionário”. Há outras obras e, após uma caminhada de alguns minutos, alcançamos o epicentro do parque, com suas quatro longas paredes, revestidas de 30 mil placas de rocha patagônica, gravadas com o nome dos cidadãos vitimados pelo estado argentino entre 1969 e 1983.

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Moderno, no bairro de San Telmo | Foto: Guido Limardo

À chegada ao parque, somos recebidos por esculturas que se equilibram entre o que pode ser ou não comunicado por palavras. As varas de aço da peça de Leon Ferrari oscilam com o vento ou com o toque dos visitantes, produzindo uma sonoridade de acasos. Adiante, dois espessos e altos blocos de aço corten, trabalhados por Marie Orensanz, trazem cortadas as letras da frase “pensar é um ato revolucionário”. Há outras obras e, após uma caminhada de alguns minutos, alcançamos o epicentro do parque, com suas quatro longas paredes, revestidas de 30 mil placas de rocha patagônica, gravadas com o nome dos cidadãos vitimados pelo estado argentino entre 1969 e 1983.

Pulpería Mutualica

Foi no bairro de Villa Ortúzar, distante do centro da cidade, que encontrei um dos espaços mais interessantes de promoção de ações artísticas e também de serviços comunitários. Criado em 2021, o Pulpería Mutualica é obra do artista Osias Yanov, cujo trabalho experimenta formas, materiais e movimentos, além de maneiras de viver e criar colaborativamente. De aparência bastante singela e prosaica, ele se abre diretamente para a calçada com sua vitrine envidraçada, semelhante à de um salão de cabeleireiro. O lugar convida moradores da comunidade e visitantes a entrar, conhecer e conversar sobre projetos como os que Osias fez no museu Moderno e na Bienal de Berlim, em encontros diversos e alheios à lógica do consumo. Lugares assim fazem de Buenos Aires um lugar tão propício como qualquer outro para pensar pela primeira vez em formas de cuidado e sensibilização de si e das outras pessoas.

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A obra 30.000, de Nicolás Guagnini

Pulpería Mutualica

Foi no bairro de Villa Ortúzar, distante do centro da cidade, que encontrei um dos espaços mais interessantes de promoção de ações artísticas e também de serviços comunitários. Criado em 2021, o Pulpería Mutualica é obra do artista Osias Yanov, cujo trabalho experimenta formas, materiais e movimentos, além de maneiras de viver e criar colaborativamente. De aparência bastante singela e prosaica, ele se abre diretamente para a calçada com sua vitrine envidraçada, semelhante à de um salão de cabeleireiro. O lugar convida moradores da comunidade e visitantes a entrar, conhecer e conversar sobre projetos como os que Osias fez no museu Moderno e na Bienal de Berlim, em encontros diversos e alheios à lógica do consumo. Lugares assim fazem de Buenos Aires um lugar tão propício como qualquer outro para pensar pela primeira vez em formas de cuidado e sensibilização de si e das outras pessoas.

A fachada das casas coloridas do tradicional bairro de La Boca
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As varas de aço da instalação de Leon Ferrari
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Sala do Departamento de Arte da Universidade Torcuato di Tella

Emblemática escultura Floraris Genérica, destaque na Plaza de las Naciones Unidas
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Mapa: Antônio Tavares
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SUSTENTABILIDADE

Ações de conservação do meio ambiente e ações sociais

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Palácio Duhau – Park Hyatt

  • Como parte do Hyatt o Palácio Duhau segue as diretrizes do programa World of Care, plataforma que visa promover o cuidado com o planeta, as pessoas e os negócios responsáveis.

hyatt.com/world-of-care

Clique aqui para ler a matéria na íntegra na edição 08 da Revista UNQUIET

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