Com silhueta arrojada e alma resiliente, Rotterdam se transformou, sem muito alarde, em uma das cidades mais vibrantes da Europa. Moderna por vocação e profundamente enraizada em sua história portuária, a segunda maior cidade dos Países Baixos é hoje uma verdadeira capital do pensamento criativo. Aqui a arte, a arquitetura e a memória caminham lado a lado, refletidas em construções audaciosas e museus que abrigam coleções impressionantes e espaços onde o passado se projeta no presente, convidando à reflexão sobre os caminhos que moldam o futuro.
A nova atração dessa cena pulsante é o recém-inaugurado Fenix Museum of Migration, um projeto que transforma o conceito tradicional de museu. Instalado em um antigo armazém da Holland America Line, de onde zarparam milhões de europeus rumo ao “Novo Mundo”, o Fenix transforma a ideia de partida em potência poética. A arquitetura, assinada pelo premiado escritório chinês MAD Architects, é por si só uma declaração: a memória é global, e as travessias também.
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O Peso das Malas, a Emoção dos Encontros
Ao entrar no museu, sou impactado por uma instalação monumental: uma escultura forma um imenso corredor de malas suspensas, que contam centenas de histórias reais, narradas por etiquetas interativas acessadas de um moderníssimo sistema de audioguide. É como se o passado se recusasse a ser apenas uma lembrança. Em cada etiqueta, uma alma em trânsito compartilha sua jornada, e é impossível não nos reconhecermos em algumas delas. A experiência mantém viva não somente cada trajetória, com seus percalços, desafios e incertezas, mas também o espírito de transformação que toda partida carrega.
A exposição fotográfica no segundo pavilhão térreo emociona ao revelar o olhar de imigrantes de diferentes continentes, épocas e circunstâncias. Casais, famílias, pessoas LGBTQIA+, refugiados, muitos em contexto de vulnerabilidade, tiveram momentos cruciais de sua nova vida capturados ao longo do século XX, e até os dias atuais, por fotógrafos renomados e anônimos. As imagens misturam dor, ternura, medo e esperança, convidando o visitante a refletir sobre seus próprios caminhos e andanças. Um mosaico sensível da condição humana em movimento.

Arquitetura dos Abraços
Do térreo ao terraço, uma escadaria metálica em espiral conecta, no real sentido da palavra, todos os andares. Ao contrário da célebre escada do Vaticano, projetada pelo engenheiro e arquiteto italiano Giuseppe Momo, onde os caminhos nunca se cruzam, aqui a proposta é o encontro. O estúdio MAD concebeu uma gigantesca estrutura espelhada para refletir não só quem somos naquele instante, mas quem poderíamos ser. Independentemente do caminho escolhido, cruzamos com estranhos subindo, descendo, hesitando cada um em sua própria travessia. A metáfora é potente: somos todos trajetórias em movimento, e o museu nos convida a enxergar a dos outros com empatia.
O encontro no topo do museu é celebrado pela transformação da escada em uma escultura que já integra a paisagem do maior porto da Europa. Dali é possível avistar outro prédio da Holland America Line e o hotel onde o maior contingente migrante de que se tem registro aguardava o momento de partir rumo às ex-colônias do leste asiático ou ao horizonte promissor do Novo Mundo. Ao redor, os arranha-céus de Rotterdam e os edifícios residenciais reconstruídos após os bombardeios da Segunda Guerra Mundial compõem um panorama que é, ao mesmo tempo, memória e renascimento. Uma cidade que, assim como seus imigrantes, se refez de suas próprias ruínas, se reinventando a cada geração.




Arte como tradução do indizível
Com curadoria sensível e provocadora, o Fenix traz obras de artistas como Ai Weiwei, Kara Walker, William Kentridge, Marilá Dardot, Shirin Neshat e Do Ho Suh, entre outros, em diálogo com mestres do passado, como Rembrandt. São pinturas, instalações, vídeos e esculturas, que não falam apenas de fronteiras e passaportes, mas também de perda, reinvenção e, sobretudo, pertencimento.
Em meio a tantas obras, chamou a minha atenção um biombo japonês sem autoria, datado do início do século XVIII, quase 100 anos após a Holanda conquistar o monopólio do comércio com a ilha. Acostumado a ver samurais, ondas de tsunamis e estampas de quimonos impressos nesses painéis, como uma escultura dobrável, me surpreendi ao encontrar ali dois mercadores holandeses. Vestindo trajes pretos de brilho austero (o auge da moda entre os primeiros calvinistas), com calças de corte oriental, eles estampam um dos objetos que, invariavelmente, representam o imaginário da Terra do Sol Nascente. Um retrato histórico do peso das travessias e da criatividade de seu intercâmbio de moda e costumes.


Entre gravuras de artistas renomados e anônimos, repousam relíquias que falam ao íntimo da condição humana. Estão aqui diários originais de Einstein, escritos antes de sua partida aos Estados Unidos, e de Freud, pouco antes do exílio forçado em Londres. São páginas que registram pensamentos e também o peso de deixar para trás tudo o que se conhece e nos fazem refletir sobre o que seríamos como humanidade se figuras como eles não tivessem partido rumo ao desconhecido.
Na mesma sala, um caixão de Gana, onde os funerais são celebrados com esculturas alegóricas que representam a vida de quem partiu. Em forma de um grande peixe, a peça homenageia um pescador. Cada objeto exposto parece sussurrar a mesma ideia: migrar é morrer um pouco, e renascer em outro lugar.
Do lugar de quem migrou, posso afirmar: uma visita ao Fenix basta para entender que migrar não é apenas mudar de endereço. É um ato de amor da parte de quem chega e da nação que decide acolher. Migrar é como trocar de pele. E a arte ali, mais do que ilustrar, provoca e devolve humanidade às estatísticas.


Além do Fenix: Uma cidade-espaço para a alma contemporânea
A vibrante cena artística de Rotterdam vai muito além do Fenix Museum. O Depot Boijmans Van Beuningen, considerado o primeiro depósito de arte totalmente acessível ao público no mundo, guarda mais de 150 mil obras, de clássicos flamengos e holandeses, como Bosch e Bruegel, a Yayoi Kusama e Anselm Kiefer. Instalado em uma imensa estrutura espelhada em formato de tigela invertida, projetada pelo prestigiado estúdio MVRDV, o edifício é uma verdadeira obra de arte. O visitante circula entre galerias, ateliês de restauro e arquivos, acompanhando de perto a rotina de restauradores, como um museólogo em plena imersão.
Logo em frente, o Het Nieuwe Instituut, um centro de reflexão sobre arquitetura, design e cultura digital, está instalado ao lado da Casa Sonneveld, uma relíquia modernista dos anos 1930 ‒ uma visita obrigatória para entender as ideias que explodiram no mundo a partir da minimalista escola De Stijl, capitaneada por Mondrian, Gerrit Rietveld e outros pintores, arquitetos e poetas no começo do século XX.



No caminho até o centro, instalado no jardim de um dos campus universitários da cidade, o Kunsthal Rotterdam tem o prédio assinado por Rem Koolhaas e traz exposições temporárias que desafiam os limites entre moda, design, performance e artes visuais. E na área mais central o badaladíssimo Markthal, também assinado pelo estúdio MVRDV, concentra restaurantes, cafés e um mercado vibrante, sendo a parada certa para almoço ou happy hour. Logo ao lado, as emblemáticas Casas Cubo, projetadas por Piet Blom, são um lembrete de que, em Rotterdam, a criatividade é uma política urbana.
O que torna essa cidade tão única talvez seja seu compromisso com a reinvenção. Da Erasmusbrug, uma ponte que conecta o passado portuário ao futuro urbano, às intervenções arquitetônicas de Renzo Piano e Norman Foster no bairro Kop van Zuid, tudo pulsa com a energia de uma cidade que não apenas se reconstruiu, mas se redescobriu.

Visitar Rotterdam hoje é mergulhar em uma prévia do futuro da Europa e talvez da humanidade. A cidade neerlandesa capitaneia a lista de destinos que abrigam, escutam e ousam propor novas formas de viver juntos, a partir de sua paisagem urbana e de seus centros de arte.
Matéria publicada na edição 21 da Revista UNQUIET.
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