Fundada pela ex-primeira dama Ruth Cardoso em 1998, a Artesol, Artesanato Solidário, é uma organização sem fins lucrativos que promove o artesanato de tradições culturais brasileiras, capacitando os artesãos e difundindo o comércio de seus produtos. No delta do rio Parnaíba, duas associações apoiadas pela Artesol se destacam.
A primeira é a Bordadeira da Pedra do Sal. Localizada no povoado do mesmo nome, em Parnaíba, a associação foi criada por Norma Sueli, que teve a ideia de reunir um grupo de 15 mulheres para complementar a renda familiar por meio do artesanato. Por tradição familiar, elas já praticavam alguma forma de trabalho manual – crochê, trançado de palha e bordado – e decidiram se concentrar-se neste último, uma arte transmitida de mãe para filha há diversas gerações.
No início, o grupo bordava flores, desenho que não obteve muito sucesso comercial. Decidiram mudar e começaram a produzir bordados que focalizam a fauna e flora regionais, como cacto, peixe-boi, tartaruga, camurupim – peixe local que está em extinção – e a exuberante guará-vermelha, uma ave pernalta belíssima. Os desenhos são criados por Norma, inspirada no cenário natural do lugar. “Saio fotografando, vendo as paisagens e vou montando os desenhos”, diz. Os trabalhos são feitos principalmente com linhas e tecidos de algodão e também sobre palha de carnaúba, resultando em vestidos, guardanapos, toalhas, colchas, bolsas e objetos de decoração.
Antes chamada Grupo Produtivo das Mulheres Bordadeiras da Praia da Pedra do Sal, a entidade foi criada oficialmente como Bordadeira da Pedra do Sal em 2016. Três anos depois, desenvolveram e lançaram uma coleção, Emoção na Mão, em parceria com Sérgio Matos, designer convidado pelo Sebrae do Piauí, integrando várias unidades produtivas da Rota das Emoções, complexo turístico que abrange o delta. Hoje o grupo reúne oito bordadeiras da comunidade e comercializa seus produtos em feiras nacionais de artesanato e nas lojas Brasil Original, do Sebrae.
Situada no extremo norte do estado, a ilha Grande é a maior e mais importante das cerca de 70 do delta do Parnaíba. Ali funciona a Associação dos Artesãos em Trançados de Santa Isabel. Na região viceja a carnaúba, palmeira longeva e de colheita sustentável, com folhas que renascem na safra seguinte. Seus frutos são ricos em nutrientes e usados principalmente na alimentação de animais de criação, mas é justamente nas folhas que está sua verdadeira riqueza: elas fornecem uma das ceras mais prestigiadas do mundo, usada para produzir papéis, vernizes e sabonetes, além de palha.
É em Santa Isabel que uma associação formada por cerca de 25 famílias – com artesãos cuja idade vai de 15 a 65 anos – cria diversos objetos com a palha da carnaúba ou com os fios de linho tirados de dentro do corte das folhas. O grupo – liderado por dona Serrate Gonçalves – dá continuidade ao chamado “trançado da ilha”, técnica tradicional de origem indígena.
Manuseada ao natural ou tingida com anilina, a palha se transforma em cestos, balaios e tapetes. Tudo trabalhado apenas com ferramentas simples como faca, tesoura e agulha, em pontos abertos e fechados. Francisca Gonçalves, filha de dona Serrate, se orgulha da criação da associação. “Ela formalizou nosso trabalho, facilitou empréstimos e deu mais credibilidade ao grupo”, conta. “E isso ajudou muito no relacionamento com nossos clientes.”