Como surgiu a ideia de criar o Instituto Campana? Quando foi?
O Instituto Campana surgiu depois de uma viagem que eu e Fernando fizemos ao Nordeste, em 2006, a convite da senhora Ruth Cardoso, que promovia um projeto social chamado Artesol com artesãos na região. Fomos a uma cidade chamada Esperança, na Paraíba, onde conhecemos uma pequena comunidade de costureiras que faziam bonecas de pano, a Casa da Boneca Esperança. Achamos lindo o trabalho e compramos uma boa quantidade para levar para o estúdio, em São Paulo. Fizemos uma cadeira forrada com elas, no estilo de nossas banquetas de bichos de pelúcia, e a batizamos de Cadeira Paraíba. Ela ganhou as páginas de vários jornais e revistas ao redor do mundo. Um ano mais tarde, recebemos uma ligação da comunidade, contando que a divulgação da peça contribuiu para o aumento na venda das bonecas, a ponto de possibilitar a compra de um galpão maior e aumentar o quadro de funcionários. Foi aí que percebemos o impacto que a escolha de materiais tem na economia circular, especialmente entre os pequenos negócios. Em vista disso, em 2009, Fernando e eu fundamos o Instituto Campana, oficializando nosso comprometimento com as pessoas que fazem parte dessa cadeia, ou mesmo aquelas que não fazem, mas podem se beneficiar com projetos socioeducativos.
Qual é o principal objetivo do instituto?
Ele tem algumas missões. O primeiro é cuidar do nosso legado, preservando nosso trabalho para as futuras gerações. Para isso, temos um galpão onde guardamos todo o nosso acervo, catalogado digitalmente. Temos também ações sociais em colaboração com outras ONGs por meio de palestras, oficinas e parcerias, que por sua vez também destacam a importância de resgatar tradições e técnicas manuais que estão desaparecendo. Hoje o principal objetivo do Instituto Campana é viabilizar o nosso projeto mais ambicioso, que é o Parque Campana.
Como vocês associam o design como uma ferramenta de transformação social nos projetos?
O design é transformador por natureza. Ele provoca um novo olhar sobre como vivemos nossa vida através de objetos. Nós procuramos trazer, com as nossas experiências, possibilidades de expansão do olhar sobre o que é possível fazer com as próprias mãos. É libertador para quem ensina e para quem aprende.
Como se valoriza e se resgata a cultura popular e técnicas artesanais por meio dos projetos do instituto?
A valorização se dá na medida em que olhamos para técnicas já conhecidas, que estão até de certa forma desgastadas, estagnadas ou estigmatizadas, e as projetamos para o futuro de forma sofisticada, contemporânea, aplicando-as em novas esferas, sempre com a preocupação de dar dignidade às nossas raízes
Você acredita que por meio da arte pode se desenvolver a inclusão social?
Com certeza. Com a arte, as pessoas enxergam um novo horizonte sobre o que podem fazer com suas ideias colocadas em prática, aprendendo técnicas, criando linguagens e narrativas e expressando seus pensamentos de alguma forma concreta no mundo e se inserindo nele com seu trabalho.
A preservação da coleção Campana é uma forma de deixar um legado para a sociedade. Conte de que maneira o instituto desenvolve esse papel.
O Instituto Campana tem sede em Brotas (SP), cidade onde Fernando e eu fomos criados. Lá temos nosso acervo, com mais de 6 mil peças, com protótipos, provas de artistas, peças de nossas coleções e também licenciadas. Além disso, temos uma mapoteca com cadernos originais de desenhos, croquis, colagens, ilustrações e todo tipo de documentação, com as premiações que recebemos, clippings de imprensa, doações e peças adquiridas por instituições etc
Matéria publicada na edição 17 da Revista UNQUIET.