Ao desembarcar no aeroporto de Koror, eu sinto imediatamente a energia das primeiras brisas tropicais saudando a minha chegada. Ali sou imediatamente convidado a assinar um sério compromisso, que ficará estampado em meu passaporte: irei respeitar e agir de forma ecológica e culturalmente responsável, pelo bem das crianças de Palau e das futuras gerações de palauanos.
O assunto é sério: Palau foi a primeira nação do mundo a alterar sua imigração em prol da preservação ambiental.
Parece simbólico, mas é lei e injeta no visitante uma noção que imediatamente o conectará com a força da natureza e aos habitantes desse paraíso.
O lugar soa fascinante e exótico, mas a realidade é que poucos se arriscam em dizer onde ele se encontra. Trata-se de um micropaís, o quarto menor do mundo em população, com apenas 18 mil habitantes. Suas quase 350 ilhas, que parecem flutuar no oeste do Pacífico, estão em algum cantinho entre o sudeste filipino e o norte da Papua Ocidental. Ser no meio do nada é mais um predicado que o torna surreal.
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Barefoot luxury a bordo
https://www.fourseasons.com/explorerpalau/Lanchas rápidas costumam levar hóspedes para destinos luxuosos em ilhas privadas. No caso de Palau, há um resort à deriva à minha espera: assim, sou carinhosamente recebido por parte dos quase 40 membros da tripulação no deck do Explorer, um suntuoso minicruzeiro (ou megaiate), que durante anos levava mergulhadores nas águas do Índico a Maldivas e que, desde outubro do ano passado, tem navegado soberano na região sul do arquipélago palauano. “O Explorer é a primeira hospedagem de luxo no país. É uma parte que complementa o projeto do resort que o Four Seasons está construindo em Palau, com a inauguração prevista para 2026. A marca tem esta característica: sempre chegar à frente em novos destinos”, conta Ali Shidad, diretor de cruzeiro do liveaboard de luxo.
Ao embarcar, esqueça os chinelos, pois eles só serão usados nos passeios em terra. A proposta do Four Seasons é que o hóspede se sinta em seu próprio iate, relaxado em meio a um cenário exuberante, quase intocado. São apenas dez confortáveis suítes, de 20 m², e uma premium, chamada de Explorer, de 46 m², onde se tem a sensação de poder comandar a embarcação, deitado confortavelmente em uma cama king size com vista panorâmica frontal das águas de Palau.
O fato de a ocupação ser, em média, de apenas 15 hóspedes, estimula a percepção do tom de exclusividade e cria uma conexão de amizade bem informal e descontraída com os outros viajantes. Esse carinho também é compartilhado com a tripulação e a equipe de mergulho. Solicitude e sorriso no rosto são marcas rotineiras nos serviços, além de uma gastronomia impecável, com menus diários distintos à la carte, assinados pelo talentoso chef Abhay Singh. Há ainda mimos, como a possibilidade de massagens em uma praia isolada e aulas diárias de ioga ao raiar do sol.
Submergir é preciso!
E a excitação é compulsória! Afinal, ao colocar meu rosto na água, em apenas 10 ou 20 m de profundidade, estarei diante de um teatro onde a sinfonia da vida é regida pelos valores da preservação. Esse santuário marinho está na lista de desejos de todo mergulhador não apenas por ser um território de geologia abençoada pelos deuses da tropicalidade, mas porque o homem busca fazer sua parte, na missão de deixar o bioma o mais saudável possível.
Em 2015, o arquipélago impressionou o mundo ao vetar a pesca comercial em 80% de suas águas, em uma área equivalente a 80% do tamanho da França. Mas essa atitude louvável pode estar sendo ameaçada. Circula no governo atual um projeto controverso para reduzir esse percentual, o que na visão de ecologistas seria um triste retrocesso, podendo causar desastres ambientais em uma nação insular vulnerável, que tem sido vítima dos efeitos das mudanças climáticas.
Equipamento regulado: estamos prontos para submergir. A saída dos passeios no Explorer se divide em duas lanchas, uma leva os mergulhadores certificados, que é o meu caso. A outra transporta os hóspedes que preferem a experiência de snorkel a zonas lindíssimas ou para passeios icônicos, como ao mundialmente famoso Jellyfish Lake, ao banho de lama no Milk Way ou à imponente Cachoeira Ngardmau (a maior do país). Ou ainda para a visita a uma vila palauense para conhecer a cultura de sociedade matriarcal ‒ de mulheres empoderadas ‒ e à tradicional Bai House, uma edificação que funciona como um parlamento, onde líderes de clãs tomam decisões cruciais.
Já na lancha de mergulho, antes de minha estreia nessas águas mágicas, questiono minha anfitriã, Angela Gitaprakasa, que detém o título de course director (a mais alta denominação na Padi): por que Palau é tão fenomenal? “Temos aqui uma explosão constante de vida, em uma área pequena em que há de tudo, com corais saudáveis, cavernas, naufrágios, imensos cardumes e uma visibilidade que passa facilmente dos 50 m no outer reef. Em apenas uma semana é possível ter uma das mais completas experiências do mundo”, afirma a líder do Four Seasons, que possui na bagagem a impressionante marca de mais de 20 mil mergulhos, o equivalente a mais do que dois anos vividos embaixo d’água.
Para ter uma ideia da riqueza de biodiversidade, são mais de 400 espécies de corais duros e 150 de moles, e uma fauna com quase 1,5 mil tipos de animais, encontrados em extrema abundância em mais de 50 sites de mergulho. É também 50 o número de naufrágios, a maioria testemunhos trágicos da Segunda Guerra Mundial, como o Iro Maru, um navio de suprimentos japonês, de 143 m de comprimento, considerado uma relíquia, que foi afundado por um submarino norte-americano.
Aliás, os dois países travaram em Palau a guerra mais sangrenta do Pacífico. Foi a famosa Batalha de Peleliu, uma ilha ao sul do arquipélago, onde quase 11 mil japoneses e 1.058 norte-americanos perderam a vida. Um dos passeios do Four Seasons inclui a visita aos sites históricos.
De volta à água, nomes como Siaes Corner, Big Drop Off, Turtle Cove, Blue Holes e Chandelier Cave ‒ onde fiz meu primeiro mergulho em caverna ‒ estão entre os sites mais espetaculares para submergir. Todos estão ao sul de Koror (a capital econômica de Palau) e nos arredores da exuberante região chamada de Rock Islands Sourthern Lagoon, onde dezenas de ilhas de calcário, cobertas por mata tropical, são serpenteadas por recifes de corais e pela maior concentração de lagoas marítimas da Terra. Esse bioma endêmico é completamente protegido (é proibido desembarcar nas ilhotas) e é um Patrimônio da Humanidade, resguardado pela Unesco.
Em apenas uma semana em Palau é possível
ter uma das mais completas experiências de mergulho do mundo, tamanha a biodiversidade
Três tenores
Em uma pesquisa das listas de mergulhos dos sonhos mais icônicos na internet, certamente três nomes de Palau estarão presentes. Talvez o principal seja o Blue Corner, onde o convite é se enganchar, com extremo cuidado, próximo aos corais para ficar de camarote, admirando o espetáculo das correntes (às vezes forte), que trazem nutrientes e vida em abundância, com dezenas de tubarões-cinza (contei cerca de 50), os gigantes peixes-napoleão (de até 2 m), cardumes de barracudas, nuvens de milhares de jack fishes e pargos, além de tartarugas, arraias, todos desfilando para o meu deleite. Foi mágico, e um privilégio!
O German Channel é outra menina dos olhos de Palau. É conhecido mundialmente por ser o palco das chamadas “estações de limpeza” das arraias-manta, onde os pequeninos bodiões abraçam a missão de livrar os gigantes de seus parasitas. O canal, aberto pelos alemães em 1908 a fim de facilitar a passagem de barcos, se transformou em uma avenida azul, onde desfilam enormes cardumes e um festival de tubarões. Vale destacar que o país foi o primeiro do mundo a criar, em 2009, um santuário específico para esses peixões, que aqui vivem em perfeita harmonia.
O terceiro site estelar foi o destino de meu penúltimo mergulho no éden. O Ullong Channel é reconhecido como um dos mais sublimes drift dives dos sete mares. Saí dele enfeitiçado! A promessa de Ângela se fez, mais uma vez, real. Em 52 minutos submerso, a minha alma entrou em êxtase.
Novamente, um festival de cores, dos célebres moluscos gigantes de Palau e de corais saudáveis, que atraem incontáveis atores que circundam esse canto da Micronésia. Fomos agraciados com o “balé da retaguarda”, no qual milhares de jack fishes tentavam enganar uma barracuda marota, dançando por trás dela como uma estratégia de proteção, já que o predador não tem a mesma agilidade para girar e abocanhá-las.
Mais à frente, seguindo a corrente, entramos em um jardim que parecia o mundo de Avatar, com centenas de garoupas, de múltiplas cores, algumas delas com semblantes mal-humorados, sempre próximas a abrigos que outrora escondiam as não tão simpáticas moreias. O cenário ainda era encantado com a passagem de um bebê de arraia-águia, um pequeno polvo e uma penca de tubarões-galhas-brancas ‒ cidadãos comuns em vizinhanças repletas de corais.
Se essa abundância de vida e movimentos já não bastasse para me encantar, fui agraciado por Netuno como a testemunha de uma cena raríssima. Em um mergulho no qual o desafio era ter que escolher para onde olhar e filmar, com tanta natureza pulsando, decidi mirar minha lente para o suave nadar de uma tartaruga-de-pente. Eis que ela começa a ir em direção à minha tutora, Ângela.
De repente, ela avança por cima da mergulhadora, em um movimento inimaginável. Ela então abaixa em direção ao rosto protegido com a máscara, troca um rápido olhar de ternura e concede um especialíssimo beijinho, como se fosse um afago ou uma bênção, um ato que celebra uma relação de confiança mútua.
Essa interação inusitada foi um presente para Ângela e para mim, que assisti (e registrei) emocionado. A cena singela é simbólica: o beijinho da paz nas águas de Palau mostra que, ao tratarmos a natureza com o máximo respeito, nos tornamos parte de uma harmoniosa simbiose. Em Palau, o carinho contagia!
Clique aqui para ler a matéria na edição 17 da Revista UNQUIET.
Four Seasons Explorer Palau
#Baseia suas ações de sustentabilidade nos pilares de ESG (governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês). Por meio do programa, buscam preservar e regenerar os lugares em que operam e deixar um impacto positivo e duradouro em suas comunidades.
#O programa está centrado em dois pilares: Planeta (impacto ambiental) e Pessoas (impacto social). Cada pilar é sustentado por atividades e objetivos específicos, observando de perto como os esforços contribuirão para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
#Forte compromisso com a redução de emissões de carbono, preservação de água, redução de resíduos e busca de fornecedores sustentáveis, além do objetivo de eliminar plásticos de uso único.
# Apoio às comunidades locais e filantropia, com o compromisso de apoiar as pesquisas de combate ao câncer e a promoção da diversidade, inclusão e equidade nos escritórios corporativos e propriedades ao redor do mundo.
Além dos esforços para sustentabilidade da cadeia Four Seasons, o Explorer Palau tem as seguintes ações:
Serviço
Como chegar
Há quatro opções:
- Estados Unidos, via Havaí e Guam – United Airlines
- Taiwan, via China Airlines
- Austrália, via Brisbane – Nauru Airlines
- Filipinas, via Manila – United Airlines
Guia de turismo do governo:
Há muitas informações úteis no site do país. Acesse:
@visitpalau e pristineparadisepalau.com
Assista aos Stories da viagem no Instagram em: @carlosAmarcondes (destaque Palau)
Four Seasons Explorer: fourseasons.com/explorerpalau/
A embarcação aceita reservas com chegadas em qualquer dia da semana.
