Após dez anos desde a minha última visita, retornei a Seul para, com surpresa, encontrar um destino mais vibrante e cosmopolita do que me lembrava, pontuado pela arte contemporânea na Coreia do Sul. Dessa vez, ficou ainda mais evidente que essa vocação ultrapassa fronteiras e, por meio do fenômeno da K-Culture (o termo cunhado para designar o poder de propagação de música, séries de TV, moda, dramas, comportamento e estética sul-coreanos), ela tem influenciado não só a Ásia, como também o resto do mundo.
Em termos de arte contemporânea, o país se tornou uma referência no cenário global. Basta dizer que Seul abrigará, em 2024, a terceira edição da Frieze, uma das mais renomadas feiras de arte do mundo, atraindo assim ainda mais os olhares para a produção artística do país. A forte cena cultural é alimentada por grandes investimentos das iniciativas pública e privada, que apostam cada dia mais nessa tendência. Como grande apreciador de arte de todos os períodos históricos e geográficos, sempre que viajo, reservo boa parte do meu tempo para me aprofundar sobre o tema. Gosto de traçar roteiros que incluam não apenas os museus mais conhecidos, mas também os menores e novos, as pequenas galerias e os espaços off the beaten track. Tento sempre me antecipar e montar uma agenda de visitas, mas inevitavelmente as surpresas surgem pelo caminho. Para a adorável e prazerosa tarefa de ver e visitar o máximo possível em Seul, contei com a ajuda de grandes amigos do mundo das artes.
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Arte atemporal
Um dos mais importantes da cidade, o Leeum ‒ Samsung Museum of Art, que acaba de comemorar 20 anos, foi o nosso primeiro destino. Criado com a coleção do fundador da Samsung e administrado pela empresa de tecnologia, ele está dividido em duas partes, que somam 27 mil metros quadrados, e tem um acervo de mais de 15 mil peças. A primeira parte foi projetada pelo arquiteto suíço Mario Botta e a segunda pelo arquiteto francês Jean Nouvel e pelo holandês Rem Koolhaas.
Um dos pavilhões abriga a arte histórica norte e sul-coreana, com 32 objetos considerados tesouros nacionais. O outro é marcado por obras contemporâneas de artistas sul-coreanos e internacionais. Entre as mais marcantes estão a belíssima Aranha, de Louise Bourgeois, e trabalhos de Jean Michel Basquiat, Warhol, Rothko e Yves Klein.
Outro grande destaque, o MMCA (National Museum of Modern and Contemporary Art) foi fundado em 1969 e abriga obras dos períodos moderno e contemporâneo. O prédio recebe diversas exposições temporárias, sempre muito bem montadas. Quando o visitamos, duas estavam em curso: a mostra Back to the Future (com obras de artistas sul-coreanos dos anos 1980 aos 2000 e trabalhos em vídeo do artista Kang Seung Lee) e Lazarus, que homenageia o coreógrafo Goh Choo Sana e o artista brasileiro José Leonilson, ambos queer e vítimas da aids nos anos 1990 (o trabalho integra a Bienal de Veneza deste ano).
Próximo ao MMCA fica a tradicional Hyundai Gallery, que há 50 anos insere talentosos artistas sul-coreanos no cenário mundial. Além dela, dezenas de galerias nacionais e estrangeiras, como Perrotin, Arario, Pace, White Cube, PKM, Whitestone e Peres Projects, ganham destaque na capital.
Arte contemporânea na Coreia do Sul: ilha de museus
Nesse roteiro pela arte contemporânea na Coreia do Sul, uma curta viagem de trem rápido (cerca de duas horas) separa Seul da segunda maior cidade do país, Busan, localizada no sudeste da Península da Coreia. Foi lá que visitamos o Space Lee Ufan, parte do Museu de Arte de Busan, que abriga pinturas e instalações importantes desse artista sul-coreano. É o segundo local permanente de exposição de Ufan, depois de outro, construído em Naoshima.
De Busan, tomamos um voo de uma hora para a Ilha de Jeju. Relativamente grande, com cerca de 1,8 mil quilômetros quadrados e 700 mil habitantes, a ilha teve seu desenvolvimento acelerado a partir dos anos 1970, como um balneário, graças a belas praias e paisagens montanhosas. Por sinal, trata-se da ponte aérea mais movimentada do mundo: o trecho conta com até 226 voos diários. Esse enorme influxo de turistas, em grande parte de sul-coreanos, fez surgir mais de 100 museus na ilha, desde o controverso Museu da Hello Kitty até os bons museus de arte contemporânea na Coreia do Sul.
Ao todo, passamos três noites por lá e fomos os primeiros brasileiros a nos hospedar no JW Marriot Resort and Spa, aberto recentemente. Para a nossa surpresa, além de estrutura excelente, ele abriga uma enorme coleção de arte, das maiores que já vi exposta em um hotel. Tomamos café da manhã observados por uma tela de Alexander Calder, antes de nos depararmos com um de seus móbiles no corredor. Ao lado da piscina, uma enorme escultura de Ugo Rondinone. Trabalhos de Daniel Arsham, Jeff Koons, Damien Hirst, Maurizio Cattelan e Pierre Soulages surgiam a cada passo nas áreas sociais do hotel.
Ao sair para explorar a ilha, a primeira parada foi o Bonte Museum, um magnífico projeto de Tadao Ando (um dos maiores arquitetos da atualidade), que faz grande uso do concreto aparente e vidros em seus projetos. O museu conta com cinco galerias, sendo que uma delas abriga permanentemente dois trabalhos de Yayoi Kusama: Pumpkin e Infinity Mirrored Room. Tadao Ando também assina o projeto do Glass House e do Genius Loci (ambos concluídos em 2008). O Glass House é um restaurante com deque de observação, em uma colina à beira-mar, com vistas panorâmicas do horizonte. Já o outro edifício, o Genius Loci, em contraste, é uma estrutura baixa e subterrânea, onde as paredes de rocha vulcânica áspera destoam do concreto liso dos projetos de Ando. O local abriga uma curiosa coleção de peças art nouveau. Nossa segunda parada foi no Jeju Museum of Contemporary Art, que, embora por fora não seja tão belo quanto o Bonte Museum, conta com um interessante acervo e mostras temporárias.
Foram 15 dias dedicados ao universo das artes nesse fascinante país, que é a Coreia do Sul. Nem sempre sou adepto do slow traveling, mas a Coreia me trouxe a sensação de que, quanto mais tempo eu permanecesse, mais surpreendido ficaria. Um destino dinâmico e em constante mutação, que com certeza merecerá outras visitas.
Arte contemporânea na Coreia do Sul: luxo revisitado
No coração do pulsante bairro de Gangnam, famoso distrito ao sul do Rio Han, o Park Hyatt Seoul é há mais de vinte anos uma referência em hospedagem na capital sul-coreana. O luxo discreto pincelado por detalhes que remetem à cultura e à arte do país marcam a decoração por meio de peças de artesanato coreano, carpetes com estampa bojagi e outros artefatos expostos nas áreas comuns. Há apenas dez quartos por andar, o que amplia a sensação de privacidade em meio à realidade caótica da metrópole que se apresenta através das enormes janelas das habitações. O tom cosmopolita da hospedagem é sentido em todos os detalhes, mas especialmente na gastronomia, que trafega pelas cozinhas italiana, internacional e coreana em seus restaurantes — além de um badalado bar subterrâneo, o Timber House.