Sorvete, pão, arte, design, arquitetura, vinhos e hotéis fora do comum.
Na origem, uma americana e um norueguês que se encontraram durante o verão em Cape Cod, ele estudando em Harvard e ela na Tufts University. Desprezando o costume bem americano de procurar algum emprego no período de férias da faculdade, Carrie preferiu testar sua precoce capacidade empreendedora. Montou uma sorveteria e uma padaria e teve como primeiro empregado, pagando o salário em sorvete, aquele que viria a ser seu companheiro de vida e de negócios. Carrie e Alex Vik, hoje com quatro filhos e uma carreira empresarial vertiginosa, moram em Mônaco e fazem as malas frequentemente à procura de lugares especiais para surpreender quem se hospeda em seus Vik Retreats.
O nome Vik tem sua origem nos vikings?
Carrie Vik – Sim, os Vik vêm de “vik-ing”. Meu marido é norueguês.
Que negócios vocês desenvolveram primeiro?
Ao longo dos anos, meu marido teve uma série de negócios de alta tecnologia na Escandinávia.
O amor pela arte foi uma afinidade eletiva entre vocês?
Ambos crescemos com essa paixão de maneira muito diferente. A família de Alex colecionava e tinha uma casa de leilões em Oslo. Uma das minhas irmãs era artista e eu me interessei pelo assunto desde adolescente. Depois da faculdade, Alex e eu nos mudamos para Nova York, onde logo começamos a colecionar arte e antiguidades.
Por que escolheram o Uruguai para investir?
Fomos lá pela primeira vez para apresentar nossa primogênita à avó de Alex, que era uruguaia e morava em Montevidéu. Adoramos o país. E duas décadas depois, em 2014, decidimos criar nossos negócios, que Alex batizou de “projetos de amor”.
Como foi o garimpo das obras de arte para os Vik Retreats?
Cada propriedade tem sua própria personalidade, seu próprio design, arquitetura e arte. A primeira foi a Estancia Vik José Ignacio, uma homenagem ao Uruguai. Tivemos ali a visão clara de uma estância com arquitetura de estilo colonial espanhol. São 1.600 hectares de natureza incrivelmente bela, com um rio e uma laguna. Para o Playa Vik decidimos construir um edifício muito contemporâneo e sustentável, trazendo o século 21 para José Ignacio. Tem a melhor localização e é muito particular. Mais tarde criamos Bahia Vik, bangalôs na praia entre as dunas. Acredito que é importante sentir o ambiente e depois decidir o que se encaixa nele. A propriedade tem uma personalidade única, com um prédio principal, 15 bangalôs, um grande pavilhão para eventos, um centro de ioga, ginásio e wellness e La Susana, nosso restaurante e clube de praia, muito legal. Iniciamos o processo de curadoria de arte, conhecendo os artistas à medida que construíamos cada propriedade. A arte e os elementos de arquitetura e design devem se encaixar na visão total da propriedade. Isso gera a individualidade, o ponto central de cada Vik Retreat.
Como são seus dias lá?
Trabalhamos muito, mas encontramos tempo para montar a cavalo na Estancia Vik, andar de bicicleta, jogar tênis, ter aulas diárias de ioga e ainda fazer caminhadas na praia. Aproveitamos para tomar banhos de mar, almoçar e apreciar o pôr do sol no La Susana. Realizamos churrascos de peixe no Playa Vik e cavalgadas pelo campo, observando as inúmeras espécies de animais selvagens e pássaros que vivem ali. Você já viu um carpincho [capivara] ou um niandú [ema]?
Como descobriram o vale de Millahue, no Chile?
Resolvemos perseguir a ideia de fazer o melhor vinho tinto da América do Sul, que se unisse ao panteão dos grandes vinhos do mundo. Então, durante dois anos reunimos uma equipe de enólogos, geólogos, climatologistas e agrônomos para buscar na América do Sul o terroir perfeito onde pudéssemos cultivar a uva perfeita. Eles encontraram a área duas horas ao sul de Santiago e fizeram um ano de testes muito extensos para provar que era o lugar certo para plantar. Em 2006, compramos o lugar e começamos a planejar, limpar, plantar. Em 2007, fizemos um concurso de arquitetura para o projeto da vinícola. Produzimos nossa primeira safra de teste em 2009 para ver se estávamos indo na direção certa: alcançar a excelência mundial. Em 13 anos, conseguimos o que muitos no mundo do vinho diriam ser impossível. Nossos vinhos estão recebendo as melhores classificações, nosso vinhedo é reconhecido como modelo e a experiência de estar lá é algo fora deste mundo.
Já tinham a intenção de construir a Viña Vik e o hotel?
Iniciamos os Vik Retreats no Uruguai ao mesmo tempo que começamos o projeto do vinho no Chile. Então, é claro, esperávamos um dia construir um Vik Retreat lá. Primeiro, sabíamos da importância de provar que podíamos produzir um vinho excepcional antes de construir a adega e o hotel.
Sei que houve a preocupação de aplicar o conceito de terroir, ou terruño na expressão chilena. O objetivo foi plenamente atingido?
Desde o primeiro dia decidimos adotar uma abordagem holística de nosso vinhedo e de todos os aspectos da criação de grandes vinhos. Acredito que o conceito de terroir foi muito bem alcançado por ser impulsionado pelo holismo. Somente passando o tempo lá com nossa equipe de enólogos, chefs, agrônomos, concierge de experiência e todos, dos trabalhadores do campo até a equipe do escritório, você sente aquela paixão por criar algo excepcional com essa abordagem holística. É claro que os vinhos falam por si mesmos, cada um é o melhor em sua categoria.
Fale sobre os vinhos Vik, Milla Cala e La Piu Belle.
Vik é o nosso principal vinho. Com muita elegância, tem características semelhantes aos grandes de Bordeaux, mas com um perfil mais dinâmico e frutado. Milla Cala, o rótulo de entrada, é aromático, harmonioso e pronto para ser apreciado. La Piu Belle foi criado em homenagem à arte em geral e à arte de fazer vinho em especial. Com um rótulo visualmente impressionante que envolve a garrafa inteira, é uma obra-prima em si mesma. O vinho é voluptuoso, delicado e equilibrado. La Piu Belle Rosé, o mais novo vinho, é enérgico, complexo e frutado.
E o novo projeto, Puro Vik?
Puro Vik é outra experiência excepcional. Trata-se de uma série de sete casas totalmente de vidro, construídas na encosta com vista para o lago, os vinhedos e a natureza. Quando você está em Puro Vik, você fica no meio das árvores, numa residência transparente – mas com total privacidade e conforto excepcional. Essa sensação de estar imerso na natureza a partir de uma bolha de vidro é rara.
Como foi o percurso, do início até a inauguração, do hotel Galleria Vik Milano?
Trabalhar em uma grande cidade como Milão, a capital mundial do design, foi ao mesmo tempo emocionante e inspirador, sempre viajamos para lá. Foi um grande desafio construir um hotel de 89 quartos em um monumento histórico em menos de um ano. Os italianos provaram ser grandes parceiros na construção, com artesãos maravilhosos e um enorme entusiasmo por nosso projeto.
Que tipo de arte você tem no hotel?
A arte na Galleria Vik Milano é predominantemente italiana e contemporânea, com uma grande variedade de estilos. Cada quarto tem seu próprio artista, muitos vieram e passaram um tempo pintando e criando dentro do hotel. É algo realmente inspirador.
Além da arte, o conceito de wellness, vinho e gastronomia está sempre presente em seus projetos. Fale um pouco sobre isso.
Vik significa experiências excepcionais e lugares extraordinários. Nosso desejo de incluir bem-estar, vinho, gastronomia e sustentabilidade no que temos feito vem do desejo de proporcionar essa vivência. Nossos convidados vêm de todas as partes do mundo. São viajantes sofisticados, bem-sucedidos, com tempo limitado e grandes expectativas. Quando eles vêm para um Vik Retreat, querem experiências diferentes. Por exemplo: temos no Chile uma enorme horta orgânica, onde os hóspedes podem colher mais de 200 tipos de legumes e verduras, prepará-las e apreciá-las.
Como as viagens influenciaram sua vida?
Durante o último ano, nossas viagens foram limitadas pela pandemia. Quando as fronteiras foram abertas no Chile, passamos duas semanas maravilhosas lá e depois viemos ao Uruguai, onde planejamos ficar até abril, quando devemos voltar ao Chile para experimentar a colheita. Estar no verão em lugares tão bonitos durante esta fase da pandemia tem sido um presente. Com o passar do tempo, haverá um aumento na demanda por vida e trabalho à distância. Se a pandemia provou algo é que é possível estar longe de casa em lugares bonitos, para desfrutar e continuar a trabalhar. Tudo o que você precisa é de uma ótima acomodação e um excelente wi-fi!
O que mais chama sua atenção quando chega a um novo destino?
Primeiro a aparência geral de um lugar e depois vou direto aos detalhes, às coisas que tornam o destino único, especial e notável.
Quais são seus restaurantes preferidos no mundo? Prefere estrelas Michelin ou comida simples, orgânica e local?
Normalmente prefiro restaurantes simples e locais em vez de restaurantes com estrela Michelin. Acho que o que estamos fazendo no restaurante Milla Milla, na Vik Chile, é excelente, com comidas locais, orgânicas, excepcionalmente deliciosas e absolutamente belas. La Susana, nosso restaurante de praia em José Ignacio, é a epítome do local simples em um cenário excepcional, com comida e vinhos sempre deliciosos, pé na areia, música, pessoas lindas e felizes, super-relaxadas.
Que lugares você gostaria de descobrir ou visitar novamente?
Indonésia, Vietnã, Camboja, Mianmar, Pacífico Sul, Peru novamente, Índia (só fui ao Rajastão), Patagônia chilena, a região dos lagos do Chile, Bolívia. Adoro entender onde estou, a cultura, o povo, a arte, o design e, é claro, a arquitetura. A diversidade do mundo é incrível e quero saber o máximo possível.
Quais lições você aprendeu como viajante e empresária?
Como viajante, vá com o fluxo, esteja pronto para experimentar o que está à sua frente sem levar noções concebidas por si mesmo. Como empresária, seja apaixonada pelo que faz, porque aí coisas excepcionais acontecem.
Como você equilibra a vida pessoal com o trabalho?
Bem, nós vivemos para nossa família e para o nosso trabalho. Ambos são paixões, mas primeiro a família! A vida é uma aventura para vivenciar com aqueles que você ama.
Vik Hotels
- Reciclagem de lixo orgânico para compostagem nas hortas dos hotéis;
- Utilização de ingredientes de produtores locais;
- Redução de plástico;
- Adega do Vik Chile: a gravidade é responsável por manter baixo níveis de energia elétrica;
- Teto feito de tecido para não utilizar luz;
- Salas de barricas mantidas refrigeradas com água corrente, não usam energia elétrica.