Turismo no Butão: Dorji Dhradhul

O diretor de turismo do Butão explica como o reino budista, rico em paisagens impressionantes e permeado por fortalezas e mosteiros, abre uma janela para o mundo sem abandonar seus valores essenciais

Manter as tradições intactas e uma política de “turismo de alto valor e baixo impacto” não impede que o Butão cresça como destino. Ao contrário, cada dia mais recorrente na lista de viajantes que buscam vivenciar experiências autênticas e estão comprometidos com o propósito de viajar com responsabilidade, o reino budista desponta como um exemplo de turismo sustentável. O diretor geral de turismo no Butão, Dorji Dhradhul, explica, em uma entrevista exclusiva à UNQUIET, como o país se reinventou, para se abrir para o mundo e exibir seus riquíssimos tesouros culturais e históricos, sem perder a essência ou sobrecarregar o meio ambiente.  

O Butão é conhecido por sua política única de “turismo de alto valor e baixo impacto”. Poderia nos explicar como ela funciona?

Dorji Dhradhul: O conceito de “turismo de alto valor e baixo impacto” foi introduzido pelo Quarto Rei do Butão, quando o país abriu suas fronteiras para turistas internacionais, em 1974. Isso foi considerado uma estratégia única. Essa política enfatiza a qualidade, em vez da quantidade. Ela visa evitar o excesso de turismo e garantir o equilíbrio entre os retornos econômicos e os ganhos não materiais, como a preservação de nosso ambiente, cultura, história e recursos para garantir o bem-estar de nossos hóspedes, nosso povo e nosso destino.

Turismo no Butão: o mosteiro Paro Taktsang (Ninho do Tigre)
O mosteiro Paro Taktsang, conhecido como Ninho do Tigre | Foto: iStock
Turismo no Butão: artesã tece fios em máquina típica
Artesã tece fios em uma máquina típica butanesa

Que medidas e estratégias o Butão implementou para promover o turismo sustentável e minimizar os impactos negativos ao meio ambiente e à cultura?

Ao reconhecer o valor do ambiente intocado e de sua rica cultura, implementamos várias medidas e estratégias para promover o turismo sustentável, incluindo a Taxa de Desenvolvimento Sustentável, que é reinvestida no reino. A “política de alto valor e baixo impacto” prioriza a conservação do meio ambiente e a sustentabilidade, convidando os viajantes, conscientes e responsáveis, à busca de experiências autênticas. A iniciativa Preservação Cultural promove festivais e eventos em todo o país. Damos uma grande ênfase à imersão cultural, incentivando os visitantes a participar de festivais e tradições, respeitando os costumes e o modo de vida da nação. Temos ainda as Iniciativas Ecoamigáveis, que incluem todo o organismo de turismo, com hotéis e operadores incorporando temas e práticas ecologicamente corretos, com certificação para aqueles que atendem os padrões ecológicos. Nos Passeios Guiados, os visitantes são obrigados a viajar com um guia turístico licenciado, garantindo interações respeitosas tanto com a natureza quanto com a cultura.

O Butão coloca uma forte ênfase na Felicidade Nacional Bruta (FNB). Como o conceito de FNB se relaciona com o setor de turismo e como ele é integrado à experiência do visitante?

A Felicidade Nacional Bruta é uma abordagem holística para o desenvolvimento, enfatizando o bem-estar e a felicidade dos cidadãos, em detrimento dos ganhos econômicos. No turismo, isso se traduz na “política de alto valor e baixo impacto”. Ela garante que o Butão convide viajantes responsáveis cujos valores estejam alinhados com a visão e a marca do Butão. O tipo de viajante que o país recebe é mantido por meio dessa política e da taxa diária, o que também garante que a atividade turística não sobrecarregue o meio ambiente e a cultura. Isso não apenas ajuda a proteger o patrimônio único do Butão e manter o ambiente intocado, mas também garante que os visitantes tenham uma experiência imersiva e autêntica. Além disso, os passeios guiados, a interação com os habitantes e a participação em diversas atividades garantem que os visitantes deixem o Butão com uma compreensão e apreciação do compromisso do país com uma forma de vida equilibrada e harmoniosa.

Turismo no Butão: a rica tecelagem no país
A rica tecelagem do país
Turismo no Butão: entrevista com Dorji Dhradhul
Dorji Dhradhul

Poderia destacar algumas das atrações culturais e históricas preferidas no Butão, como dzongs e mosteiros, e sua importância?

O Paro Taktsang, conhecido como Ninho do Tigre, é um dos mosteiros mais renomados do reino, atraindo admiradores de todo o mundo. Localizado precariamente em um penhasco, ele oferece vistas de florestas exuberantes e do Vale de Paro. Taktsang se tornou uma das primeiras coisas que você vê quando pesquisa sobre o Butão na internet. É um destino imperdível, que exibe a beleza e a grandiosidade da arquitetura butanesa. Qualquer viagem ao Butão fica incompleta sem uma visita a ele. O Dzong de Punakha, situado na confluência de dois rios, o Pho Chhu e o Mo Chhu, é um local histórico e atraente durante todo o ano. As belas árvores de jacarandá em flor tornam o Dzong ainda mais bonito na primavera. O Buddha Dordenma, localizado a cerca de 6 km da cidade de Thimphu, é uma das maiores estátuas de Buda sentado do mundo. Já a Passagem de Dochula, um marco histórico situado entre os distritos de Thimphu e Punakha, é um excelente local para desfrutar da deslumbrante vista panorâmica das montanhas cobertas de neve, com 108 estupas construídas para homenagear a bravura e os sacrifícios dos soldados butaneses. O Memorial Chorten é um ponto de referência popular em Thimphu, construído em 1974 em memória do falecido Terceiro Rei. Há, claro, inúmeros outros lugares para citar. 

Turismo no Butão: o Mosteiro de Punakha
O Mosteiro de Punakha Dzong | Foto: Getty
Turismo no Butão: a garça do Pescoço Preto
Garça do Pescoço Preto, ave do planalto tibetano e de partes remotas da Índia e do Butão

Como a indústria do turismo trabalha para garantir que as tradições culturais e rituais permaneçam intactas e não sejam afetadas pelo aumento de visitantes?

O Butão sempre foi cauteloso em relação à preservação de sua cultura e suas tradições. A política do “alto valor e baixo impacto” e a taxa diária ajudam na preservação da cultura. Os fundos arrecadados pela taxa diária de desenvolvimento sustentável são alocados para a preservação da cultura. Além disso, todos os passeios têm guias treinados para compartilhar as tradições do Butão de maneira respeitosa e informativa. Os visitantes também são educados sobre costumes locais, princípios de vestimenta e códigos de conduta, promovendo interações respeitosas em locais históricos e festivais. Além disso, regulamentações rigorosas estão em vigor para garantir que os locais históricos e a cultura não sejam explorados ou prejudicados pelo influxo de turismo.

Como o órgão responsável trabalha com a indústria de turismo e as marcas internacionais presentes no país? 

O departamento de turismo treina funcionários e outros parceiros de viagem para garantir que nossos visitantes sempre tenham guias experientes e informações para educá-los sobre os lugares que visitam, as tradições que observam e os costumes que devem respeitar. Desenvolvemos materiais informativos, e frequentemente fornecemos aos visitantes dicas do que fazer e do que não fazer enquanto visitam o Butão. Promovemos e incentivamos festivais. Também incentivamos os hotéis a garantir que a infraestrutura seja construída de maneira a educar e envolver os visitantes na cultura butanesa, além de incentivá-los a apresentar a culinária butanesa local e autêntica.

As cerimônias e os festivais religiosos são centrais para a sua identidade cultural. Como o país equilibra o desejo de compartilhar essas tradições com os turistas e ao mesmo tempo manter sua santidade e autenticidade?

Ao convidar viajantes conscientes e responsáveis e enfatizar o envolvimento significativo, o Butão garante que os tesouros culturais sejam tanto exibidos quanto preservados. Quando os visitantes participam dos festivais, guias locais os educam sobre os comportamentos e as etiquetas apropriados.

Turismo no Butão: dança de máscaras
Dança de máscaras

Na era digital, como o Butão gerencia o impacto da tecnologia em sua sociedade e cultura, especialmente com a crescente disponibilidade de smartphones e acesso à internet? 

O Butão foi o último país do mundo a permitir a televisão via satélite em seu território. Temos acesso à internet há apenas duas décadas, mas a tecnologia ainda desempenha um papel importante em manter o país conectado, tanto internamente quanto com o mundo exterior. Em especial durante a pandemia, o país passou por uma grande revolução tecnológica e adotou um foco renovado na digitalização, seja para manter o bem-estar social e mental por meio do contato com amigos e familiares, seja para melhorar os serviços por meio de serviços online e da conscientização.

O senhor observou alguma mudança nas tradições ou rituais culturais butaneses como o resultado da adoção de tecnologia, como mudanças na forma como as cerimônias são conduzidas ou como as gerações mais jovens se envolvem com a sua herança?

Embora não haja mudanças na forma como as cerimônias são conduzidas, abraçar a tecnologia permitiu que a geração mais jovem documentasse e compartilhasse cerimônias em tempo real, promovendo maior envolvimento e apreciação de sua rica herança entre butaneses e audiências globais. Canções e danças tradicionais agora estão disponíveis online, preservando-as para as gerações futuras e proporcionando uma plataforma para o aprendizado. Além disso, jovens familiarizados com a tecnologia começaram a integrar elementos contemporâneos em suas expressões artísticas, criando uma harmoniosa fusão do antigo e do novo. Enquanto a essência das cerimônias permanece a mesma, o modo de celebração e o envolvimento foram enriquecidos, garantindo a continuidade e a renovação da cultura butanesa na era moderna.

Turismo no Butão: tecido típico
Tecido típico
Turismo no Butão: bandeira
Bandeira

Como o turismo no Butão incentiva os visitantes a retornarem para uma nova visita? 

Não oferecemos incentivos específicos para que os visitantes retornem. Em vez disso, confiamos em nossa bela paisagem natural, em tradições profundamente enraizadas e na calorosa hospitalidade de nosso povo para encorajar os visitantes a voltar. Garantimos que os hóspedes tenham experiências incomparáveis, para levar como lembranças preciosas.

Por fim, o que significa ser UNQUIET para um butanês?

Como um dos funcionários que trabalham na indústria do turismo, ser INQUIETO significa sempre buscar aprender mais, atualizar o conhecimento e se manter atualizado, já que a indústria do turismo está em constante evolução. Também significa ter um pensamento inovador, tentando constantemente melhorar os serviços e as experiências dos hóspedes. Trata-se também de ser proativo e adaptável, ajustando-se rapidamente às mudanças e ajudando a organização a navegar por esses desafios.

Clique aqui para ler a matéria na edição 13 da Revista

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