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Por Beto Pandiani
Quando cruzei o Oceano Ártico, encontrei uma terra árida, deserta e vazia, mas com muito espaço. Agora, no Altiplano Andino, novamente me vi em um lugar com muitas possibilidades.
Quando estamos em lugares cheios de pessoas, costumamos dizer que não tem espaço, mas, quando me deparei com essa vasta porção de terra, que tem a média de altitude de 4.000 m, me surpreendi com a quantidade de lugares diferentes e, ao mesmo tempo, inóspitos.
Por muitas vezes, eu poderia jurar que estava em Marte, e o mais incrível da viagem foi encontrar “marcianos argentinos” falando castelhano. Minha L200 Triton se converteu em uma nave espacial e assim, por caminhos fora das estradas, mergulhamos por rotas pouco conhecidas.
Ruta 40
Tudo começou quando tive a ideia de viajar pela Ruta 40, a estrada mais longa da América do Sul dentro de um país. A Ruta Nacional 40 é uma rodovia argentina que percorre o território de sul a norte, desde a província de Santa Cruz até a divisa com a Bolívia, tornando-se dessa forma a mais extensa rodovia da Argentina, com 5.224 km.
Para isso, contactei um amigo, Eladio Scalamogna, que conhece muito bem a região e poderia dar alguma dica. Desse bate-papo sem muita pretensão, surgiu um convite. Eladio propôs montar um grupo com outras oito pessoas, em quatro carros, para me guiar. Detalhe: a turma explora a Argentina por caminhos fora de estrada há 30 anos. Melhor impossível. Marcamos uma data para nos encontrarmos em San Antonio de los Cobres para, no dia seguinte, partirmos em nossa viagem.
Saí de São Paulo cinco dias antes para cumprir os 2.700 km, assim teria a certeza de que não iria atrasar a viagem. O grupo, como combinado, se encontrou e o nosso anfitrião, Eladio, se encarregou de fazer as apresentações.
Partimos no dia seguinte, com os carros abastecidos, além de mais 40 litros de reserva de diesel. Todos estavam autossuficientes em até uma semana, tanto de água como de alimentação.
Saímos de San Antonio de los Cobres em direção a Tolar Grande, inicialmente por uma estrada de terra, que logo foi deixada para passarmos a viajar por um caminho de terra arenosa. As montanhas, não muito altas, eram de terra bem marrom, formando um ambiente de vários tons. O que deu para perceber imediatamente é que teríamos dias de muita poeira e uma buraqueira danada. Os companheiros argentinos adoram buracos.
No final do dia, começamos a subir por um caminho espetacular, abandonando o Salar de Arizaro, que contornamos durante duas horas. Já era final de tarde quando chegamos a Estación Caipe, ruína de uma estação de trem que funcionou até 1990, depois que minas de enxofre pararam de funcionar, na década de 1970.
Montamos acampamento dentro de uma pequena igreja abandonada a fim de organizar o jantar. Como estava levando uma barraca de teto, preferi dormir nela, apesar do vendaval durante toda a noite. Logo cedo, tomamos café da manhã e desmontamos o acampamento. Saímos por uma estrada espetacular, que serpenteava abismos de terra e rochas. Percebia-se que aquela configuração era fruto de muita atividade vulcânica, pois, além de estarmos em uma região com centenas de vulcões, víamos muitas pedras no caminho. Eu procurava guiar com muito cuidado, pois uma distração poderia acabar com a viagem, com dano ao carro ou um acidente.
Caminhos sinuosos e vistas impressionantes
Nosso destino nesse dia era a famosa Mina de Casualidad. A história de La Casualidad está intimamente ligada ao desenvolvimento da mineração de enxofre no Cerro Estrella. No caminho, tentamos subir uma trilha na encosta de uma montanha onde se localiza um trem descarrilhado há muitas décadas. Mas não fomos bem-sucedidos, pois o solo era muito arenoso e fácil de atolar. Seguimos viagem contornando salares, subindo e descendo montanhas espetaculares. As cores eram surpreendentes e mudavam de acordo com a luz do dia, sempre com um azul límpido no horizonte.
No meio da tarde, chegamos à Mina de Casualidad, na verdade as ruínas do que foi uma vila mineira de 600 pessoas. De lá, continuamos subindo por uma estrada bem precária, que nos levaria a Mina Julia, o ponto de extração do enxofre.
A Mina Julia se desenvolveu na encosta sudeste do Cerro Estrella, à altura média de 5.505 m. A produção de enxofre da Mina Julia começou em 10 de agosto de 1953 e terminou em 22 de novembro de 1979. Creio que foi uma das visões mais impressionantes da viagem, pois lá de cima pode-se avistar 360 graus de montanhas, vulcões e salares. Estávamos em cima da fronteira com o Chile, fazia 1 ºC e ventava muito.
Voltamos à Mina de Casualidad para um pernoite, e novamente o grupo encontrou outra igreja para dormir. O dia amanheceu gelado. Levantamos acampamento e saímos em direção ao Salar de Arizaro para avistarmos o Cono de Arita, uma montanha no meio do nada, na forma de uma perfeita pirâmide. Em seguida, subimos uma enorme serra, que dividia outra planície com o Salar do Homem Muerto, uma planície de sal de 588 km².
Algumas vezes, éramos obrigados a andar a menos de 20 km por hora devido à enorme quantidade de pedras no caminho. Por isso, não éramos capazes de fazer muitos quilômetros por dia. Sempre na hora do almoço, parávamos os carros e comíamos em lugares inimagináveis. Chegamos a Antofagasta de la Sierra de noite e, merecidamente, nos instalamos em uma pousada, já que um bom banho seria muito bem-vindo.
Logo cedo, partimos para aquele que seria o dia mais complicado em termos de estrada, se é que posso chamar de estrada. Fomos para Campo de Piedras Pomez, Cordilheira de San Buenaventura e Las Papas e, à noite, chegamos a Fiambalá. Um dia repleto de aventuras, por estradas beirando abismos e com vegetação, além de 40 km acompanhando um rio por um cânion, sendo que muitas vezes andávamos dentro do próprio rio. As estradas sumiam e viravam apenas uma grande erosão. Foi um teste bem radical para a minha L200 Triton.
No último dia, juntamente com os amigos argentinos, fomos para Cortaderas, perto da fronteira chilena. Lá conhecemos um dos lugares mais espetaculares da viagem, o Balcão de Pissis, onde é possível avistar um grande salar com várias lagunas de cores verde, preta e azul.
Nessa minha primeira viagem com a L200 Triton, fiquei positivamente surpreso com seu desempenho, tanto no asfalto como na terra. Esse é o meu quinto carro da Mitsubishi e, de longe, o mais surpreendente. Nas estradas acima de 4.500 m de altitude, ele continuava com uma excelente resposta, mesmo nos trechos de “areião”. Além do desempenho, o baixo consumo de combustível foi outra grata surpresa.
Nossa despedida aconteceu no dia seguinte, quando começamos a retornar para o Brasil. A única certeza que tenho é que voltarei para o Altiplano Andino o mais breve possível e espero que os amigos argentinos façam um novo roteiro.