Ilhas Canárias

Meca improvável do movimento LGBTQIAP+ tem vibe contagiante

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Foi durante os anos da ditadura do espanhol Francisco Franco que as Ilhas Canárias se tornaram um santuário da contracultura. Desde o começo do século XX, o arquipélago, conhecido mundialmente pelas praias e dunas de areia branca, era um ponto de migração de hippies, gays e de todos que não se curvaram à rigidez do regime sanguinário do general. 

A localização ao sul do Marrocos, com a latitude cara a cara para o Saara Ocidental, era distante demais para que Franco pudesse prestar alguma atenção no território. E, apesar dos boatos de que uma “Sodoma e Gomorra” se formava no extremo sul das terras da Espanha, a vida seguiu livre por aqui, moldando uma cultura extremamente tolerante em relação ao universo queer

Tenerife é hoje o epicentro do movimento neo-hippie, com montes de europeus construindo comunas sustentáveis aos pés de montanhas com vista para o mar. A ilha de Las Palmas, um pouco mais ao sul, se tornou um dos refúgios de inverno preferidos de aposentados do norte da Europa. Eles dividem as praias dessa parte do Atlântico, protegidas por dunas cinematográficas, e os espaços públicos, em especial os da notívaga Maspalomas, que mais parecem tirados dos sonhos de um arquiteto brutalista, em harmonia perfeita com a imensa comunidade LGBTQIAP+.

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Cena da Gay Pride de Maspalomas | Foto: Fotoarena

Paraíso da diversidade 

Ao programar a viagem para as Canárias, não espere cenários paradisíacos do Mediterrâneo, equipados com imensos beach clubs e animados por DJs internacionais, como acontece nas espanholas Baleares (Ibiza, Mallorca e Menorca) e na grega Mykonos, atuais queridinhas do público gay. Aqui, além do incessante burburinho queer, mesmo durante o inverno, dá para descobrir e aproveitar incontáveis praias semidesertas, espalhadas pelas sete ilhas que formam o arquipélago. Outra coisa: etarismo e bodyshaming não têm vez.  

A faixa de areia mais agitada fica em Maspalomas. Para chegar à área gay, é preciso caminhar cerca de 40 minutos a partir do centro da cidade ou tomar um táxi até a entrada do parque das dunas – tão buscadas quanto a praia – para ali encarnar a Tieta ou um Lawrence da Arábia, ao gosto do freguês, em um exercício que pode revelar cantos instagramáveis e algumas surpresas, não menos inesquecíveis, durante o trajeto. A vida gay na ilha segue um ritual ensaiado, que começa com um café da manhã preguiçoso à beira da piscina ou em um dos muitos clubes da cidade, seguindo para a praia a tempo do pôr do sol. Quem frequenta as areias de Maspalomas costuma formar grandes migrações rumo às dunas assim que o Sol começa a se pôr. Lagoas naturais são o visual romântico para cliques ao lado dos amores – de verão ou de inverno – no caminho que leva a Meloneras, praia que concentra butiques de luxo, bons restaurantes e hotéis de alto padrão. O destaque para o público queer nessa parte da cidade é o bar Aphoteke (repare na grafia em alemão), localizado numa antiga farmácia, frequentado majoritariamente por menines animades de todos os cantos da Bavária, que se acabam de dançar ao som de hits internacionais em versão na língua dos germânicos. 

Fachada do indefinível Yumbo Center

Mas é no centrinho de Maspalomas onde tudo acontece. Os principais hotéis e pousadas, alguns hetero-friendly, como o famoso Axel, ou clothing optional, como o Vista Bonita, estão instalados no entorno do Yumbo Center, uma espécie de galeria, com vários andares repletos de lojas (destaque para as marcas queridinhas, com os uniformes do público que frequenta festas circuit, como ES, Barcode etc.), sex-shops, restaurantes, cafés, bares, clubes, playground e até um campo de minigolfe! Enquanto exploro a área, que fica semideserta durante o dia, em busca de um late brunch, dou de cara com casais de aposentados jogando golfe e crianças brincando em frente a um clube onde estrelas do Only Fans produzem conteúdos para suas contas, com a possível participação de frequentadores que baixam por lá em busca de uma day-bed à beira da piscina.

Hedonismo e liberdade 

Vedete por vocação do calendário LGBT mundial, Maspalomas é diminuta em dimensões, mas gigante em variedade de eventos. É o único lugar do mundo com duas edições anuais de paradas do orgulho. A da primavera, em maio, dá o pontapé nas que acontecerão nos meses seguintes em todos os cantos do globo. Já a de inverno, sempre no começo de novembro, é a mais concorrida. Para ter uma ideia do porte das festividades, artistas como a über drag queen Rupaul costumam aparecer, deixando claro por que, assim como os pássaros, uma massa gigante de viajantes europeus migra para cá em busca da última oportunidade de manter o bronzeado, em festas ao ar livre na estação mais fria do ano. 

Restaurante do Yumbo Center

Para completar a agitada, e improvável, programação de eventos de Maspalomas, o Bear Week Carnival, uma semana dedicada aos ursos, o grupo dos mais queridos da comunidade LGBTQIAP+, atrai felpudos de todos os tamanhos e seus admiradores e admiradoras em março, anunciando o final da estação. Em outubro acontece a Maspalomas Fetish Pride, dedicada aos adeptos dos mais diversos fetiches, famosa por reunir visitantes e moradores de todas as orientações sexuais e identidades de gênero dessa shangrilá hedonista e de respeito à convivência.

Ambiente de café do Yumbo Center

É praticamente impossível não encontrar uma diversão descompromissada em Maspalomas. Na movida ‒ lembre que aqui também é Espanha! ‒ pelo Yumbo Center, onde, me arrisco a dizer, nove entre dez visitantes LGBTQIAP+ estarão todas as noites, o visitante dará de cara com drag queens encenando minimontagens bem-humoradas de espetáculos da Broadway, como Les Misérables, enquanto no bar ao lado outras, montadérrimas, batem o cabelo, revezando-se e arrasando em lipsyncs de divas de todas as épocas, como Donna Summer, Madonna, Britney, Beyoncé e Rosalía. 

Para quem não quer saber de chegar cedo à praia, em especial os adeptos das famosas megafestas circuit, não faltam opções de bares e clubes abertos até de manhã, com pistas comandadas por DJs de Barcelona, Amsterdã e Berlim. 


Área de lazer do Sanom Beach Club

Fica claro que não são os restaurantes e os cafés os responsáveis por atrair uma multidão todas as noites ao Yumbo. Vivenciar livremente nossa cultura, segregada a guetos durante grande parte do século XX, ao lado de LGBTs+ de todas as idades, gêneros e nacionalidades, e dos descendentes de quem semeou a cultura de respeito das Canárias, é uma experiência que todos que se identificam com uma das letras da legenda LGBTQIAP+ deve vivenciar uma vez na vida.

Ilustração: Antônio Tavares

Onde ficar

Sanon Beach Club: localizado pertinho do Yumbo Center, o espaço foi inaugurado há cerca de dois anos e conta com uma estrutura de beach club impecável, com tons clarinhos e casitas espaçosas, serviço atencioso e sem festas temáticas. Ideal para relaxar.  

Para se programar em 2023

Bear Carnival Week, de 18 a 26 de março
Maspalomas Spring Pride Week, de 4 a 14 de maio
Maspalomas Winter, de 6 a 15 de outubro
Maspalomas Winter Pride Week, de 6 a 12 de novembro

Matéria publicada na edição 10 da Revista UNQUIET.

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