Nova York habita o imaginário da comunidade LGBTQIA+, assim como a Califórnia, de uma maneira muito especial: seja por ter abrigado momentos históricos da nossa luta, seja por ser dona de uma das paradas mais famosas do mundo.
E o que a cidade tem de tempero que a faz diferente de São Paulo ou São Francisco? Com a missão de montar um roteiro de Nova York para lésbicas, passei uma semana por lá, deixando meu Google Maps e meu bloco de anotações ainda mais cheios de arco-íris. Encontrei um destino que não esquece suas marcas do passado e não deixa de brindar o futuro. Um futuro cada vez mais queer.
Movimento e história
A região de West Village e Greenwich Village é considerada o coração da vida queer em Manhattan e da luta pelos direitos civis da comunidade LGBTQIA+. É lá que ficam o Stonewall Inn, o bar que foi o epicentro da revolta que leva esse nome, o Christopher Park, palco de muitos protestos do movimento, e os dois tradicionais bares lésbicos de Nova York: o Cubbyhole e o Henrietta Hudson.
Já o East Village e o Chelsea concentram lojas criativas, restaurantes charmosos e todos aqueles cenários de série que nos são tão familiares, principalmente quando começamos a caminhar pelo High Line.
Para um passeio diferente no Soho, vale conhecer o Leslie-Lohman Museum of Art, um centro cultural que preserva a memória de artistas LGBT. As exposições são temporárias e exploram conversas sobre o universo da arte e de direitos civis. O espaço é pequeno, mas as obras expostas são do tamanho do nosso mundo.
Boa notícia vindo por aí: nos próximos anos, devemos conhecer o primeiro museu norte-americano dedicado à história da comunidade LGBTQIA+. O American LGBTQIA+ Museum será construído na Sociedade Histórica de Nova York, no Central Park West, e as obras devem começar em 2023.Cruzando a ponte para o Brooklyn, uma caminhada despretensiosa por Williamsburg, o bairro mais hipster e criativo da região, sempre rende um programa bem gostoso. E não dá para terminar um roteiro por lá sem falar sobre a Lesbian Herstory Archives. Essa biblioteca abriga a maior coleção do mundo de livros e todo tipo de material textual sobre a comunidade LGBTQIA+. Ela costuma oferecer um tour guiado pelo espaço, mas é preciso entrar em contato com antecedência (por e-mail).
Mais distante de Manhattan, em Staten Island, fica a Alice Austen House. Alice, que nasceu em 1866, foi uma fotojornalista e documentarista que marcou sua geração por ser uma das primeiras mulheres a trabalhar fora de um estúdio. E foi ali que viveu ao lado de sua mulher, Gertrude Tate, até o final de sua vida, em 1958. Foi uma das LGBTs pioneiras da nossa história.
Onde o pink money faz a festa
McNally Jacksoon Books: na área revitalizada de Seaport, essa livraria abriga diversas prateleiras cheias de livros com temática gay que talvez nunca sejam lançados por aqui. Depois de muito pesquisar, o clichê nunca falha: quem resiste a um bom romance? mcnallyjackson.com
Bluestockings Cooperative: o lugar funciona como uma cooperativa e um espaço comunitário que valoriza as obras produzidas por mulheres LGBT. É um endereço diferente para quem busca uma literatura mais densa.
bluestockings.com
Lockwood: uma loja gracinha, do tipo que a gente entra só para olhar e sai carregada de sacolas com coisas vindas do fabuloso mundo do Pinterest. Fundada por um casal de lésbicas, a butique inaugurou uma nova unidade em Williamsburg, o coração criativo do Brooklyn.
lockwoodshop.com
Para drinques coloridos e bons papos
Cubbyhole: desde 1994, o Cubbyhole é um dos lugares mais emblemáticos para a mulherada queer e fica perto do Chelsea Market. Oferecendo drinques baratos e com uma decoração peculiar, cheia de cacarecos pendurados nas paredes, é pequeno e vive lotado.
cubbyholebar.com
Henrietta Hudson: aberto em 1991, ele é o equivalente ao Danna’s Bar da série The L Word: Generation Q e serve até para quem quer dançar ao som de Anitta. É o bar lésbico mais famoso de Manhattan e, quiçá, de Nova York.
henriettahudson.com
Stonewall Inn: o Stonewall Inn é muita coisa ao mesmo tempo: uma instituição histórica, um bar e um espaço para apresentações com karaokê e sinuca. Dispensa apresentações. thestonewallinnnyc.com
House of Yes: no Brooklyn fica a balada House of Yes, que só pelo nome prometia ser a noite mais incrível da minha viagem. Para meu azar, acabei numa festa meio hétero top pagando de descontruído. Se você busca uma balada lésbica em Nova York, confirme a programação para não perder a viagem, como aconteceu comigo.
houseofyes.org
Ginger’s Bar: outro endereço clássico em Nova York, o Ginger’s Bar fechou e foi reaberto no último ano. Fica no Brooklyn e, ao lado do Cubbyhole e do Henrietta Hudson, fecha o trio dos bares mais tradicionais de Nova York.
instagram.com/gingersbar_brooklyn
Matéria publicada na edição 09 da Revista UNQUIET.