Haja fôlego para sequenciar verbalmente o número de atividades, idiomas dominados e lugares visitados por Sir Richard Francis Burton. Viajante inquieto, cientista, militar, linguista, etnólogo, orientalista, mestre sufi, diplomata, esgrimista, geólogo, antropólogo, escritor e poeta, era fluente em 29 línguas e 42 dialetos. E, portanto, foi também tradutor. Como tal, descobriu para o Ocidente o Kama Sutra e verteu para o inglês obras como As Mil e Uma Noites, Os Lusíadas e Iracema, entre muitas outras.
Do alto de suas múltiplas aptidões, o explorador britânico nascido na cidade inglesa de Torquay não passaria despercebido na Inglaterra vitoriana. Além de diplomata – atividade pela qual foi cônsul em Santos (SP) e viajou pelo Brasil como poucos, de Minas Gerais à Bahia, do Rio São Francisco ao Vale do Ribeira – tornou-se agente secreto do Império Britânico e foi contratado pela Coroa, da qual recebeu incumbências como descobrir as nascentes do Rio Nilo. Era um mestre na arte do disfarce. Morou na Índia, onde conviveu com faquires e videntes, foi o primeiro não muçulmano a chegar a Meca, disfarçado de peregrino, lutou no Afeganistão e foi ao front da Guerra do Paraguai. Entre muitas, muitas outras façanhas.
Richard Francis Burton traçava um sem-número de anotações em suas expedições pelo mundo: topografia, curiosidades sobre idiomas e costumes, e até mesmo sobre o comportamento sexual dos habitantes locais – ato corajoso e provocador durante a puritana era vitoriana. Deixou às Ciências Humanas e Ambientais preciosas declarações de viagens.
E teria deixado muito mais, não tivesse sua esposa, Isabel, ordenado queimar seus incontáveis diários, notas e documentos acumulados durante 40 anos de viagens e pesquisas. Isso aconteceu logo após a morte de Burton, que foi vítima de infarto em Trieste, na Itália, onde trabalhava como cônsul. O ato foi justificado pela viúva como defesa da reputação e da memória do marido.