Mulheres à frente de seu tempo fizeram história. É a elas que devemos muitas das conquistas feministas nas mais variadas áreas. Nas searas do jornalismo e da aventura, um nome ecoa triunfante e se mantém um ícone mais de um século depois: Nellie Bly (nascida Elizabeth Conchran Seaman) contestou preconceitos, derrubou barreiras e venceu.
Aos 25 anos, já com uma consagrada carreira no jornalismo investigativo no jornal New York World – outro feito raro para mulheres à época —, a jovem aventureira decidiu se lançar em um desafio que mudaria sua vida e a história ao partir para uma volta ao mundo que, até então, só fora vista na ficção. Sim, Nellie Bly se propôs a superar o tempo de viagem do personagem Phileas Fogg, de A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Julio Verne, e realizar a travessia em tempo recorde.
Com uma pequena mala de mão, contendo apenas pertences de primeira necessidade (e mais uma vez derrubando a ideia de que as mulheres precisavam de grandes bagagens para viajar), a jovem norte-americana partiu do porto de Hoboken, em Nova Jersey, a bordo do vapor Augusta Victoria para a primeira fase da viagem, até desembarcar na Inglaterra. De lá, ela seguiu para a França, depois Itália, Egito, cruzou o Mar Vermelho até Aden (o atual Iêmen), seguiu para Colombo (atual Sri Lanka), Cingapura, Hong Kong e Japão, de onde iniciou seu retorno ao ponto de partida, seguindo de navio para São Francisco e, de trem, de volta a Nova York. Superando expectativas de sua própria meta, cumpriu o roteiro em 72 dias, seis horas e 41 minutos. Ao desembarcar, foi ovacionada por uma multidão que havia acompanhado seus relatos de viagem nas páginas do New York World, fazendo de Nellie Bly uma celebridade e uma heroína que povoou o inconsciente feminino de toda uma geração. Além de provar sua bravura e seu talento, ela confirmou que o gênero nada tinha a ver com coragem e ousadia, colocando o jornalismo feminino no mesmo patamar do masculino.