De Paris a São Bento do Sapucaí. Da Zâmbia à Amazônia. O jornalista e publisher Fernando Paiva conhecia e amava cada passo entre a simplicidade e o luxo. E, como poucos, transitava com absoluta familiaridade pelos dois mundos. Com o mesmo entusiasmo, descrevia o sabor inigualável da coxinha da Venda Vivan, em Pardinho, e a maciez do pijama Derek Rose, que ganhara ao se hospedar em uma das suítes do luxuoso Dorchester, em Londres. Era aficionado por aeronaves. Por jipes. Por motos. E por viajar a bordo de qualquer um deles. O destino constante era Guareí, no interior paulista, onde tinha um sítio e se reconectava à essência caipira, anunciada orgulhosa e repetidamente. Natural de Barretos, era um contador de histórias nato e nutria um delicioso desdém pelas narrativas convencionais dos meios de comunicação. As correções eram rígidas, ácidas e sempre didáticas. Sua ressonância cultural ecoava alto pela redação, assim como as sonoras gargalhadas e tiradas afiadas que pontuavam suas frases. Trazia substância, contexto e significado aos comentários, fossem eles ditos à mesa, erguendo um brinde com um dry martini na Mantiqueira, fossem disparados diante da tela do computador, editando uma das matérias espelhadas para a próxima edição.
Nenhum espaço seria suficiente para acomodar um tributo à sua altura. Mas em um misto de humor e saudade, é possível imaginar um de seus clássicos comentários, sobre a preocupação com o tamanho do texto: “Chega! Escrever bem é escrever pouco.”