O primeiro olhar
Fabiano Al Makul costuma perambular com suas câmeras Nikon D 90 e Nikon D 800. Mas nem sempre. Vira e mexe ele está fotografando com o celular mesmo, esteja onde estiver. “Preciso registrar assim que a cena me seduz”, diz. “Gosto de ser fiel ao primeiro olhar.”
A fotografia era só um hobby para este paulistano de 49 anos, formado em economia, até às vésperas de completar 40. Não o único, aliás. Ele toca violão e cavaquinho – sobretudo sambas da Velha Guarda carioca. Foi assim, entre obturadores e cordas como passatempo, até notar que o prazer de clicar aumentava na medida inversa daquele provocado pelo trabalho diário.
Fabiano era executivo e tinha uma ocupação estável – mas, no caso dele, cada vez mais árida. “Fotografar passou a ser meu refúgio”, relembra.
A essa altura, suas imagens publicadas no Instagram mereciam elogios derramados não só dos amigos mais chegados. Muita gente compartilhava as fotos, sucessivamente. Até que os tais amigos começaram a cobrá-lo a fazer uma exposição.
A primeira ocorreu em 2013. “Senti um prazer profissional como jamais tinha sentido”, confessa. Os três anos seguintes foram de alegria e conflito. Pois é. Alegria pela própria evolução nas câmeras. E conflito pelo dilema de largar ou não o cargo de executivo e, enfim, abraçar a vida de fotógrafo, profissão menos segura – ainda mais para um homem maduro, casado e pai de três filhos.
Em 2016, junto com a segunda exposição, veio o fim do conflito. E uma certeza: deveria seguir o coração. Assim, em 2017, Fabiano deixou o cargo de executivo e lançou-se, em definitivo, como fotógrafo profissional. De quebra, inaugurou a Casa Rosa Amarela, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Tecnicamente, trata-se de uma galeria de arte. A seu ver, é mais do que isso. “Acredito que seja um espaço aberto às manifestações artísticas.”
Fabiano não faz trabalhos editoriais ou para publicidade. Só autorais. Seu cotidiano se divide em administrar a Casa Rosa Amarela e apurar ainda mais o olhar. Ele tem atenção especial pelo detalhe, uma visão minimalista do real. “Curto muito descobrir toda a riqueza que existe nas coisas mais simples.”
Esta maneira de encarar a arte – e a própria existência – segue com ele em cada viagem. Fabiano Al Makul evita fotografar o mais óbvio – ou turístico. Prefere regiões menos badaladas de cada cidade. E é para lá que leva suas câmeras e sua curiosidade.
Com a coragem e o alívio de alguém que decidiu mudar de vida depois dos 40.