Bruno Feder: “Procuro ver beleza em tudo”

Em lugares como o Sudão do Sul, a Etiópia e o Paquistão, Bruno Feder documenta as realidades desafiadoras, a resiliência humana e a esperança, utilizando a fotografia de viagem como ferramenta de conscientização sobre questões humanitárias

As viagens convencionais nunca fizeram parte dos planos de Bruno Bierrenbach Feder. Ainda criança, quando o sonho da maioria dos colegas era viajar para a Disney, ele já almejava conhecer o Afeganistão. Os pais achavam graça do menino, que, por essa época, andava com uma câmera para cima e para baixo, clicando a família, a natureza e tudo o mais que lhe chamasse a atenção. 

A fotografia de viagem continuou como um hobby. Bruno se formou em relações internacionais e trabalhou em cargos na prefeitura e no governo de São Paulo. A grande virada veio logo após um curso de fotografia no ICP (International Center of Photography), em Nova York, em 2013, quando conheceu um grupo de amigos e com eles partiu para Uganda, como voluntário em um projeto educativo. Foi lá, acompanhando o dia a dia das crianças ugandesas, que ele percebeu que sua missão era contar histórias e a fotografia seria essa ferramenta. 

“Eu me considero um antropólogo empírico. Viajo aberto para novas culturas e sempre buscando enxergar sua beleza. Por isso, gosto tanto de retratar as pessoas” 

Ele passou a vender algumas imagens e, com o lucro, custeava algumas das necessidades dos projetos e também novas viagens para documentar uma África inacessível e invisível para os olhos da maior parte do mundo. Depois da missão em Uganda, partiu para o Sudão do Sul, onde trabalhou, entre 2015 e 2018, sob a intensa tensão em um país novo e recém-saído de um conflito que durava décadas. “Eu tinha que seguir protocolos rigorosos. Durante a minha jornada por lá, fiz trabalhos com refugiados, pelos direitos femininos e com crianças”, conta ele, que só deixou o país porque teve problemas com a autoridade de mídia local.

Sem esmorecer, Bruno partiu para outras aventuras, que o levaram a lugares remotos da África e da Ásia, incluindo Costa do Marfim, Paquistão, Djibuti e, mais recentemente, Somália, onde passou três meses este ano. “Tive muitas experiências impactantes em todos os lugares, mas a Somália foi muito impressionante”, conta o fotógrafo, que vivenciou – e documentou – a grave situação humanitária do país. “Ao chegar a Mogadíscio, a capital, precisei entrar no protocolo de proteção da ONU, tão perigosa é a situação devido ao grupo terrorista islâmico Al-Shabaab.” 

A cada nova incursão, Bruno volta com o hardware recheado de fotografias de viagem e a cabeça repleta de aprendizados, pela dor dos refugiados, pelo abandono das crianças, pela mutilação das mulheres, pelos desafios enfrentados e, sempre, pelo idealismo de conhecer mais e melhor o planeta para poder mostrar essas pessoas e essas faces para o resto do mundo.

Vivendo em Portugal, o fotógrafo acaba de terminar um mestrado e, em breve, deve se jogar em novas aventuras por Paquistão, Bangladesh e onde mais seu instinto mandar. 

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