São Miguel do Gostoso: além dos ventos

Parte da costa semiárida brasileira, o litoral potiguar vai além dos ventos de São Miguel do Gostoso e adentra dunas douradas, manguezais e as águas salgadas de Galinhos, em um ecossistema raro

A chegada ao Rio Grande do Norte é rapidamente percebida pela umidade relativa do ar, de mais de 60%, a ponto de os óculos embaçarem ao sair das salas refrigeradas do aeroporto internacional de Natal.

O caminho de quase duas horas até São Miguel do Gostoso ‒ a nossa primeira parada ‒ vai ficando cada vez mais remoto após a saída da capital, onde a cada quilômetro é possível avistar mais e mais geradores de energia eólica, que permeiam grande parte do litoral potiguar.

Pouco antes da chegada a uma das capitais dos esportes náuticos à vela no Brasil, a Praia de Touros é o marco zero da BR-101, com uma obra de Oscar Niemeyer que celebra o início dos 4.650 km de extensão da rodovia, que cruza o país por 12 estados, até São José do Norte, no Rio Grande do Sul, já próximo à fronteira com o Uruguai.

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Dica de viagem: farol e charrete no trajeto entre São Miguel do Gostoso e Galinhos
Farol e charrete no trajeto entre São Miguel do Gostoso e Galinhos
Viagem a São Miguel do Gostoso: pedras de sal
Pedras de sal produzidas no local

São Miguel do Gostoso

Após os mais de 100 km percorridos desde a capital até São Miguel do Gostoso, chegamos à APP (Área de Preservação Permanente), coberta por vegetação nativa, em que está localizado o Hotel Nanii, base para os que desejam ir além dos ventos e adentrar as distintas formações da Costa Semiárida do Brasil e explorar a natureza única da região, que mistura o azul do mar, o dourado das dunas, o verde da taboa e as águas salgadas de Galinhos.

A Costa Semiárida é um macro compartimento geomorfológico do litoral do Nordeste brasileiro, que vai de Ponta dos Mangues Secos, no Maranhão, a Cabo do Calcanhar, no Rio Grande do Norte — exatamente onde estamos!

É o trecho do litoral brasileiro sob a crescente influência do clima semiárido, que avança desde o interior, e tem paisagens como nenhuma outra região. E, como rotina diária dos que vivem com vista para o mar, a ida a Galinhos também depende da tábua de marés. É a maré baixa que dita o horário de saída para explorar o local.

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Litoral potiguar: entardecer na Lagoa do Reduto
O entardecer na Lagoa do Reduto

A jornada começa às 7 horas, com um café da manhã reforçado, com cuscuz, carne-de-sol na nata e queijo coalho, para seguirmos pela estrada, sob o sol… Na verdade, “estrada” é algo relativo nessa região do Brasil. Com a baixa da maré, forma-se uma longa faixa de areia que acaba sendo utilizada como a principal via entre municípios, pela praticidade e, claro, pela beleza de conduzir com vista para o mar.

O Rio Grande do Norte também está entre os estados que disputam com a Bahia o local onde atracaram as primeiras naus portuguesas. A Praia do Marco do Descobrimento é a primeira parada no caminho até Galinhos e dá pistas do que iremos encontrar: praias silenciosas e remotas, com vegetação rasteira e inúmeros cactos e bodes, cenário que forma um contraponto distinto entre o mar e o sertão. 

Pela legislação, os geradores de energia eólica têm um limite de distância estipulada nas proximidades do município de São Miguel do Gostoso e, conforme nos afastamos, eles vão ficando cada vez mais próximos do oceano, o que impressiona pela grandeza de torres colossais sobre as dunas. Isso faz com que nos questionemos sobre a intervenção do homem na natureza e no profundo impacto na migração de aves da Região Nordeste do Brasil.

Colheita de taboa, na Lagoa do Reduto
Pranchas de surfe decorativas do Hamsá Ateliê
Pranchas de surfe decorativas do Hamsá Ateliê

Entre dunas e salinas 

Logo adiante, chegamos a Caiçara do Norte, um município com números que chamam a atenção. Aproximadamente 1,2 mil, dos 6,2 mil habitantes, dedicam a vida à pesca, com mais de 300 barcos cadastrados, sendo a maior colônia de pesca artesanal no estado. A partir dali, a vegetação passa a ser infinita e ainda mais árida. As dunas douradas se tornam curvas que se misturam com o azul do céu, que fazem os olhos perderem a noção de espaço e horizonte. Essa é a sensação da chegada a Galinhos.

A costa semiárida do Brasil guarda águas mais salinas do que a média em todo o Brasil. Isso se dá pelo fato de os solos serem menos permeáveis e também pelo assoreamento dos estuários por parte das dunas móveis, que faz com que a salinidade natural se torne mais elevada devido ao confinamento da água no continente. Do alto das dunas, no caminho para o porto de Galinhos, é possível avistar a salina Diamante Branco, um dos maiores polos de produção de sal no país, com cerca de 600 mil toneladas anuais. 

Viagem a São Miguel do Gostoso:  trabalho de bordado das labirinteiras
O trabalho de bordado das labirinteiras
São Miguel do Gostoso
São Miguel do Gostoso

Do buggy para o barco, adentramos as águas salgadas, que mantêm um ambiente único, onde inúmeras espécies coexistem com cavalos-marinhos, sendo essa uma espécie que baliza o equilíbrio saudável de um ecossistema.

O barco de Josimar, nosso guia local, navega por águas calmas da península, entre manguezais e dunas, de onde é possível avistar, além dos cavalos-marinhos, diferentes aves e uma grande concentração de caranguejos-aratu em meio às raízes aéreas de um dos ecossistemas mais complexos e fascinantes do litoral brasileiro.

Algumas milhas navegadas depois, Josimar atraca o barco para “montar acampamento”. É ali que iremos ficar por algumas horas para descansar, tomar banho nas águas salgadas e almoçar sob o sol de 40 ⁰ C, tendo como sombra somente a estrutura do barco.

Os geradores de energia eólica que marcam a paisagem da região do litoral potiguar
Os geradores de energia eólica que marcam a paisagem da região
Cavalo-marinho, São Miguel do Gostoso
Um cavalo-marinho

Acredite ou não, a beleza da vida está na simplicidade. Recém-pescadas, Josimar abre quantas ostras forem necessárias e monta uma brasa na popa do barco, em uma cozinha improvisada. No menu, fatias de peixe cru com molho de pimenta, ceviche, camarões no alho e óleo e peixes na brasa, servidos em cima de uma prancha de surfe presa ao barco.

Para sentar-se, redes para relaxar na maré baixa. Precisa de mais?

O retorno a São Miguel do Gostoso é extasiante, com a mudança de cores na paisagem e no céu, que vai do roxo ao rosa e, como dizemos nós, nordestinos, com o “sol já mais frio”.

A saída de Galinhos tem que ser calculada para chegar em tempo à Praia de Touros, já próxima a Gostoso. Ali acontece o pôr do sol mais emblemático da região, com a imensa bola dourada se pondo atrás dos geradores de energia eólica, emoldurados no Atlântico.

Arte e natureza entrelaçadas

A hospitalidade no Nordeste é das mais agradáveis e faz valer o ditado de que “quem faz os lugares são as pessoas”. Criação do estúdio C+Arch, de Celia Fulcher, brasileira de alma portuguesa e arquiteta responsável pelo projeto e pelo design de interiores, o Hotel Nanii surpreende em todas as esferas.

Com volumes edificados suspensos sobre um lago natural, com ecossistema próprio e paisagismo baseado em espécies nativas, o complexo envolve uma piscina de pedra itacolomy, o restaurante homônimo, comandado pela chef Luiza Hoffman, e o Hana Nui, uma instalação única, de madeira e concreto, com vista para o mar, obra do arquiteto designer Felipe Bezerra (FBA, EMA e Mula Preta).

A sustentabilidade envolve a comunidade local, com o uso de matéria-prima da região, a capacitação dos colaboradores e o trabalho de artistas e artesãos locais, presente nos interiores do hotel.

Precursor do universo artístico da região, o jornalista Emanuel Neri enaltece a arte local em meio a artistas consagrados, como José Roberto Aguilar e Ricardo Brennand, na Galeria Sol da Meia-Noite, um núcleo emblemático de diálogo cultural e troca artística em São Miguel do Gostoso.

Viagem a São Miguel do Gostoso: a piscina do hotel Nanii
A piscina do Nanii
O espaço Hana Nui no hotel Nanii, em São Miguel do Gostoso
O espaço Hana Nui, a grande estrela do design do Nanii

O Hamsá Ateliê, de Flavio Giannella e Dani Cravo, produz pranchas de surfe decorativas em diferentes escalas e acabamentos exclusivos, presentes em todos os quartos do hotel. Às quintas, sextas e sábados, nos finais de tarde, as labirinteiras se reúnem na praça do Reduto. O labirinto é um tipo de bordado típico dessa região do Brasil, que infelizmente vem se perdendo com a velocidade do tempo. 

Embaixo de uma árvore, em frente à igreja da praça, é o momento de prosa e risadas de mulheres cheias de histórias para contar, enquanto bordam ponto a ponto. Ali perto, a Casa do Reduto é o lugar para conhecer mais sobre a arte popular e levar um pouco desse trabalho para casa.

Por fim, mas não por último, a lagoa do Reduto abriga uma grande concentração de taboa (uma planta perene e herbácea abundante na região, e de cuja fibra são feitos bolsas, papéis, cestos e outros itens decorativos). É difícil saber quando e onde a taboa está sendo colhida, mas, se procurar, tente encontrá-la no pôr do sol.

Além de gostoso, Gostoso é humano.

Dica adicional do autor:


Gostosense
Empresa de turismo que faz o passeio a Galinhos.
@gostosenseturismo

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SUSTENTABILIDADE

Ações de conservação do meio ambiente e ações sociais

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Em breve será atualizado

Matéria publicada na edição 17 da Revista UNQUIET

Mapa São Miguel do Gostoso Rio Grande do Norte
Ilustração: Antônio Tavares

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