O relógio marca 18:20. Estou sentada sobre a areia dourada da Praia da Cacimba do Padre, como espectadora de uma das minhas horas prediletas do dia. Enquanto os surfistas dançam com as ondas do mar, os pássaros mergulham na água em busca por sustento e os pescadores garantem o alimento do dia, o sol se despede atrás do caminho que leva à Baía dos Porcos, transformando a cor do céu azul em tons de vermelho, laranja e rosa, pintando a vista do Morro dos Dois Irmãos como se fosse um quadro. Enquanto isso, suspiro, sem palavras, agradecida por poder estar na mesma frequência do lugar. Diria que esse é o ritmo comum da Ilha de Fernando de Noronha, onde os animais, os humanos e a natureza convivem não só em harmonia, mas também com respeito e integridade.
A ilha é indiscutivelmente um dos destinos mais desejados e procurados do Brasil, mas não foi sempre assim. Localizada a 350 km da costa de Pernambuco, ela foi descoberta em 1503 pelo navegador Américo Vespúcio, por meio de uma missão financiada por Fernão de Loronha. Se hoje os viajantes que a visitam estão em busca de contato com a natureza e muito savoir vivre, o valor na época era, na verdade, pela sua vantajosa posição estratégica. Contudo, até o século XVIII, por falta de vigilância, o território sofreu invasões de franceses e holandeses, até ser retomado pelos portugueses, que dessa vez fortificaram sua costa e a povoaram com militares e presidiários.
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Foi apenas nos anos 1980 que Fernando de Noronha foi percebida como um santuário ambiental. Em 1988, ela recebeu o título de Parque Nacional Marinho e, em 2001, o de Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, mudando totalmente seu status. A fiscalização do parque passou a adotar práticas exemplares de preservação no país, garantindo que a natureza de Noronha tenha o espaço necessário para florescer. Assim, os visitantes podem desfrutar desse paraíso de maneira consciente, levando consigo valiosos aprendizados para a vida.
Do tamanho de um sonho
Da janela do avião a hélice é possível perder o fôlego diante de sua beleza. Tive a sorte de pegar o assento da janela da esquerda e, ainda no pouso, avistei um cartão-postal: o Morro dos Dois Irmãos. A ilha tem apenas 17,5 km² e possui o título de segunda menor estrada federal do Brasil, com 7,5 km de extensão (a menor é a Rodovia BR-488, com 5,9 km).
Levo poucos minutos para chegar ao Hamares Boutique Hotel, do Grupo Ekos, um canto de paz que exala tranquilidade, conforto e estilo, inaugurada em 2023.

Meu refúgio é um dos quartos Villa Mar, intimista e acolhedor, com direito a piscina privativa. É uma das poucas hospedagens da ilha que têm academia e spa, para os que não abrem mão de cuidar de si. A piscina de borda infinita abre alas para um tapete de vegetação verde, mesclado com o icônico Morro do Pico e o horizonte infinito do mar azul, ideal para o descanso entre as concorridas atividades do dia. O cardápio delas é extenso: trilhas, passeios de barco, canoas e bicicletas aquáticas, tours pela ilha e mergulhos. Conto com o apoio da operadora Águas Claras para desenhar o roteiro da minha viagem.
No primeiro dia, me dedico a cair na estrada. Com um buggy alugado, o carro oficial da ilha, sigo direto para o mirante da praia que já foi eleita diversas vezes a mais bonita do mundo: a Praia do Sancho. Por meio de uma trilha curta e sobre palafitas de material PET, caminho sem conseguir conter a excitação de encontrar paisagens tão bonitas. A Baía do Sancho, direcionada para o mar de dentro, é protegida por um paredão de pedras basálticas e preenchida por um mar azul em degradê. Pouco à frente, como diz, brincando, o guia da Encantos de Noronha, chego ao mirante do “ai que lindo!” ou, em outras palavras, o Morro dos Dois Irmãos. Esses montes quase idênticos fazem parte do arquipélago, que contém 21 ilhas e ilhotas. Caminhando um pouco mais para a direita, a Baía dos Porcos surge, com suas piscinas naturais cinematográficas.


Não é à toa que a beleza natural de Noronha seja única e abundante. Enquanto a geologia da costa brasileira foi formada com o processo da separação da Pangeia, há 200 milhões de anos, o arquipélago se destaca por ter sido criado a partir de atividades vulcânicas submarinas cerca de 12 milhões de anos atrás. Mais da metade do território está abaixo do oceano. Esqueça praias de rios, falésias avermelhadas ou a Mata Atlântica. Em Noronha, destacam-se os tons de preto e as vegetações rasteiras e áridas.
Na caça pelos pontos estratégicos para apreciar o pôr do sol, chego ao Mirante do Boldró. A vista de cima do Morro dos Dois Irmãos junta-se a uma orquestra perfeita para a despedida do dia. De volta à solitude da varanda do meu quarto, sigo assistindo ao teatro do início da noite, com o céu mudando de cor a cada segundo, com tons que vão do amarelo ao rosa, abrindo as cortinas para a escuridão brilhar, com as suas estrelas e uma lua crescente. Sob um céu tão limpo, é possível ver o contorno do satélite natural da Terra e sentir a rotação do planeta quase palpável ‒ experiências que ganhamos em um mundo que acelera tudo o que vivemos.


SUBMERGINDO NA NATUREZA
Enquanto o sol despertava no sopro de uma brisa, já estou remando em uma canoa havaiana. Eu me concentro na contagem das remadas, desfrutando com meus companheiros, os golfinhos-rotadores, residentes dos mares de Noronha, que seguem em seu fluxo de todas as manhãs. Como disse Júnior, o guia da expedição da Via Mar, “precisamos sair do mar de costas, primeiro para ficarmos atentos às ondas e, segundo, para agradecer à mãe natureza pelo começo do dia”. Uma boa aventura e um mergulho no mar formam uma receita deliciosa para prosseguir com as atividades do dia. Mas antes volto, para me jogar no café da manhã do hotel.
À tarde, sigo para o atrativo principal de Noronha: conhecer o fundo do mar. Se você também não tem carteira profissional de mergulho (Padi), não se preocupe, pois as operadoras locais oferecem um tipo de batismo, em que cada pessoa tem à disposição um instrutor e uma aula de mergulho de alguns poucos metros. Navegamos rumo à Ilha da Rata, conhecida por ter abrigado Júlio Grande, seu único morador. Entre peixes coloridos, um silêncio raro e corais com formatos semelhantes a colmeias, eu cruzo meu caminho com o de um pequeno polvo, que, em questão de segundos, se camufla na cor das pedras e se contorce para caber em um buraco que não parecia ter o seu tamanho. Embora o desconhecido nos aguarde, as maravilhas que nos esperam certamente compensarão qualquer incerteza.



De volta ao porto, me desafio a seguir a trilha que circunda a região. Chego à Capela de São Pedro dos Pescadores, construída no século XVIII, onde consigo sentir, de um lado, a potência do dramático mar de fora e, de outro, imaginar o passado do Porto Santo Antônio, utilizado desde o período colonial e onde chegavam as notícias do continente.
A harmonia da vida em Noronha é uma característica que desperta a curiosidade de muitos. No sul, na Praia do Sueste, por exemplo, é possível, em certos momentos, boiar observando tubarões e tartarugas. Quando essa atividade está proibida, uma curta trilha entre o aquário natural e a Praia do Leão leva a um mirante inacreditável, de onde é fácil capturar com os olhos os mesmos animais, além de espécies terrestres, como a ave rabo-de-palha-de-bico-laranja. Na Praia do Leão, a vegetação rasteira e as rochas pretas dão espaço para que a areia se combine com o mar azul transparente, destacando a formação rochosa similar a um leão-marinho deitado, o que serviu de inspiração para seu nome. Esse é um pedaço da ilha que respira uma natureza selvagem potente.

Outra forma de ver Noronha é por meio de passeios de barco. Mais uma vez no porto, sigo rumo ao oeste, beirando a costa do mar de dentro. Logo na saída, os golfinhos se aproximam para dar uma conferida em quem está a bordo e se exibem, rodando até sete vezes em torno do seu próprio eixo fora da água. Gil, o capitão do barco, é a personificação do morador de Noronha: carismático, sempre com alguma graça na ponta da língua, e habitante da terra, não do mar. Gentilmente, ele ancora o barco na Praia do Sancho, onde ganho tempo mergulhando e recarregando as energias em um almoço delicioso. As nuvens dançantes na volta parecem modelos posando para a lente de Maurício Nahas, meu companheiro nessa jornada. Enquanto copulam nessa região preservada, duas tartarugas vivem a paz que todos os animais merecem.
Noronha é um sonho de conservação, de dramaturgia, de carisma, de abundância. A ilha dá a oportunidade de testemunhar a natureza sendo, em sua forma mais profunda, simples e livre. Um lugar onde o principal ato é parar, escutar e aprender, levando na bagagem muito mais do que fotos lindas, mas percepções tão fortes que ficará difícil perceber o mundo de outra forma. O que eu trouxe de mais valioso é continuar procurando espaço para respirar e apenas sentir a Terra girar.

Matéria publicada na edição 18 da Revista UNQUIET
