Quando nos aproximamos da coordenada de 78 °N, a vista deslumbrante de Svalbard já se revela aos aventureiros que chegam a Longyearbyen. Durante cerca de uma hora, somos contemplados com uma paisagem espetacular, uma imensidão branca de vales e fiordes infinitos, banhados pelo Mar Ártico.
Estamos a caminho de Longyearbyen, a cidade mais ao norte do planeta e o ponto de partida de nossa expedição. A nossa, a de tantos outros aventureiros que buscam explorar esse arquipélago e também a dos que querem ir ainda mais ao norte ‒ de lá sai grande parte das expedições para o Polo Norte.
“Longyearbyen é a capital de Svalbard, um território internacional governado pela Noruega”
No século XX, Noruega e União Soviética exploraram intensamente a região, tendo na mineração de carvão sua principal operação. Hoje o turismo se tornou a principal atividade econômica, havendo ainda universidades e centros de estudo e exploração científica.
Em 2015, eu tive a oportunidade de visitá-la pela primeira vez, em uma expedição liderada pelo meu grande amigo e sócio, Odd Harald Hauge, um verdadeiro explorador norueguês. Hauge, que já esteve nos Polos Norte e Sul e escalou o Monte Everest, é um ícone local, frequentando Svalbard há mais de 40 anos.
Fascinado pelas paisagens, pela imensidão branca, pela luz única e por ter vivido uma experiência tão extraordinária, eu estava sempre tentando voltar para lá e apresentar esse lugar tão mágico a amigos, família e eventualmente a algumas agências de viagens que oferecem experiências exclusivas. E assim foi.
![Snowmobiles em Svalbard na Noruega](https://revistaunquiet.com.br/wp-content/uploads/2023/11/svalbard-3.jpg)
![Snowmobiles em Svalbard na Noruega](https://revistaunquiet.com.br/wp-content/uploads/2023/11/svalbard-6.jpg)
Expedição sob o Sol da meia-noite
Devido às condições climáticas, a janela de tempo para realizar essa expedição é bastante curta, de abril a meados de maio. É a temporada do Sol da meia-noite, quando o Sol brilha durante 24 horas. Antes de abril, o frio é intenso e, a partir de junho, a maioria dos fiordes que percorremos começa a descongelar, o que inviabiliza grande parte de nossa rota, feita inteiramente com snowmobiles. Nossa viagem é itinerante, buscando revelar uma parte fascinante desse arquipélago, proporcionando uma verdadeira expedição aventureira.
A primeira parada é no Basecamp Hotel, localizado no centro dessa pequena capital, que abriga cerca de
2 mil habitantes. Apesar de pequena, Longyearbyen é movimentada, com hotéis e uma variedade de restaurantes notáveis. Entre eles, destaco o Gruvelageret, um antigo depósito construído inteiramente de madeira na década de 1930, o Huset, famoso pela alta gastronomia, e o Karlsberger, um pub com uma das maiores seleções de uísques e conhaques da Europa.
No dia seguinte, começa de fato a expedição. Nosso guia traça o itinerário da semana em um mapa, e seguimos para a loja de aluguel de snowmobiles e equipamentos essenciais (roupas completas, luvas, botas, capacetes), tudo feito especialmente para não passar frio e ficar confortável.
![Snowmobiles em Svalbard na Noruega](https://revistaunquiet.com.br/wp-content/uploads/2023/11/svalbard-2.jpg)
Damos início à jornada rumo à costa leste, em direção a uma área com geleiras imponentes. A rota dura cerca de quatro horas, e escolhemos o local de parada com base nas condições climáticas e, é claro, em busca da melhor vista. Passamos até mesmo por uma área de mar congelado, que cria uma paisagem quase lunar.
“Essa parte do arquipélago é desabitada e dá a sensação de estar no fim do mundo“
Não poderíamos deixar de vivenciar uma autêntica noite ao ar livre durante uma expedição no Ártico. Essa noite traz desafios e histórias memoráveis! Levamos conosco a infraestrutura de alimentação para que todos possam desfrutar.
Pyramiden
No dia seguinte, após um café da manhã reforçado, seguimos nossa jornada um pouco mais ao norte, em direção a Pyramiden, uma antiga vila de mineração de carvão abandonada. Construída no início do século XX pela Suécia e posteriormente vendida à União Soviética, Pyramiden foi utilizada para criar uma espécie de utopia socialista, além de ser um centro de mineração. Trabalhar lá era um grande privilégio para a classe operária russa, pois, além do emprego, todos podiam levar a família. A vila contava com escolas, centro esportivo e um hospital. Com a queda da União Soviética, nos anos 1990, a cidade foi completamente abandonada e se tornou uma parada para aventureiros curiosos. Com o tempo, o hotel foi restaurado e hoje é possível dormir lá, além de visitar sua estrutura, que foi propositalmente deixada intacta, proporcionando uma viagem no tempo.
![Snowmobiles em Svalbard na Noruega](https://revistaunquiet.com.br/wp-content/uploads/2023/11/svalbard-4.jpg)
“Em nossa última expedição, em abril de 2023, fomos surpreendidos pela visita de um urso-polar no centro de Pyramiden. Foi realmente um privilégio inigualável”
Embora encontrar ursos seja raro, já que eles têm medo dos seres humanos e se assustam com o barulho dos motores, é possível avistá-los em várias partes do arquipélago. É importante ressaltar que existe uma proteção rigorosa não apenas para os ursos, mas para toda a fauna local. Há um imenso respeito pela natureza em Svalbard, perceptível nas conversas com os moradores e nas orientações fornecidas aos viajantes.
Isfjord Radio Station
Após nossa noite em solo russo, seguimos em frente, em direção à parte oeste do arquipélago, percorrendo cerca de 250 km, o dia mais longo da expedição. Essa jornada nos presenteia com um dos trajetos mais deslumbrantes. Passamos por vales magníficos, trilhas retas, onde podemos testar os limites dos snowmobiles, e uma rota ao longo da costa, chegando a Isfjord Radio Station, uma antiga estação de rádio que hoje funciona como hotel, pertencente ao mesmo grupo do Basecamp Hotel. A vista para o mar, com o Sol da meia-noite, é um cenário recompensador e deslumbrante.
![Snowmobiles em Svalbard na Noruega](https://revistaunquiet.com.br/wp-content/uploads/2023/11/Svalbard-Pyramiden.jpg)
Normalmente, ficamos duas noites em Isfjord. O entorno é incrível, então organizamos um passeio no dia seguinte para apreciar as vistas e observar animais, como focas, raposas e morsas, além dos ursos-polares. Também aproveitamos o tempo para relaxar no hotel, onde é possível desfrutar de uma sauna revigorante e, para os mais corajosos, dar um mergulho no mar, cuja temperatura se aproxima de -1 °C! O restaurante do hotel é espetacular e já foi apresentado no programa Restaurants at the End of the World, da National Geographic.
Barentsburg
No último dia, retornamos a Longyearbyen. No caminho, fazemos uma breve parada em Barentsburg, uma vila russa ainda em atividade na mineração de carvão. É interessante observar o contraste entre as duas vilas, e é impossível não lembrar de Pyramiden e imaginar como seria se ela ainda estivesse habitada. Barentsburg é uma pequena cidade, com escola, igreja, hotel, restaurantes e bares. Podemos conversar com os moradores e mergulhar em uma experiência cultural marcante.
![Snowmobiles em Svalbard na Noruega](https://revistaunquiet.com.br/wp-content/uploads/2023/11/svalbard-5.jpg)
Após o almoço, seguimos de volta ao nosso ponto de partida, o Basecamp Hotel, onde temos algum tempo para descansar antes do último jantar. A chegada proporciona uma vista espetacular, ao passar pela montanha que abraça a vila. Esse é o último momento com os snowmobiles, que se tornaram nossos companheiros ao longo de uma semana.
Finalizamos a expedição com um espetacular jantar no mais conhecido restaurante de Svalbard, o Huset. Ele só não tem uma estrela Michelin porque, por uma política muito comum em Svalbard, há uma rotatividade frequente de chefs. Mesmo assim, ele é considerado um restaurante cinco estrelas.
Svalbard é verdadeiramente um destino fascinante. Poder compartilhar com amigos, clientes e agora com a UNQUIET é realmente um privilégio!
Já estamos nos preparando para a temporada de 2024!
@livstaexperience
Matéria publicada na edição 13 da Revista UNQUIET.